Honestamente eu não entendo algumas taras que o ser humano tem, consigo entender o fascínio que o Everest exerce sobre as pessoas, afinal de contas estamos falando do ponto mais alto presente na Terra, à vista lá de cima com absoluta certeza é diferenciada, mas o que eu não consigo entender é essa vontade de se colocar em perigo. Existem alguns lugares no nosso planeta que não foram feitos para ter vida, nem animal nem vegetal, então não me entra na cabeça essa inexplicável atração por explorar certos locais, onde as condições naturais são extremas.
Em maio de 1996 somos apresentados a Rob Hall, um alpinista de grande renome que já subiu algumas das maiores montanhas do planeta, incluindo a maior, o Monte Everest. Ele está diante do que seria aparentemente mais uma subida, difícil, mas comum, entretanto quando Rob e Scott (que lidera uma outra expedição) acreditam que não teriam nenhum problema, eles vão descobrir da pior maneira possível que se algo não dá errado na ida, pode dar muito errado na volta.
Confesso que estava com esse filme há muitos anos na minha lista de pendências, mas que foi o lançamento de La Sociedad de la Nieve (2023), que fez com que eu furasse a fila de projetos e desse prioridade a Everest. E foi impossível não comparar os dois eventos, já que ambos retratam uma tragédia real ocorrida em uma montanha, onde vemos pessoas sucumbirem à força incontrolável da mãe natureza. Mas o paralelo mais interessante entre as duas histórias, é que enquanto os uruguaios de 1972 não tiveram “escolha” de ir parar nos Andes, todas as vítimas desse acidente de 1996 escolheram estar ali, não estou dizendo que eles foram os responsáveis de alguma forma pelo ocorrido, não é isso, somente me impressiona que quando falamos de algo tão arriscado quanto a subida ao Everest, as pessoas têm total ciência de que algo pode sair a seu controle, que algo pode dar terrivelmente errado, e ainda assim elas decidem ir em frente, só que lá em 1996 tudo que tinha pra dar errado, infelizmente deu.
Everest tem muito valor de produção, obviamente ele é praticamente todo feito em CGI, e apesar de algumas cenas deixarem isso bem visível, em quase que sua totalidade, o longa conseguiu ser bem realista. O elenco também é assombroso, Baltasar Kormákur conseguiu reunir uma equipe de primeira o único problema é que ter tantos atores talentosos com tantos personagens que necessitam de destaque, fez com que ninguém brilhasse como poderia/deveria, e esse é o principal problema do filme, não adianta nada ter nomes como Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Robin Wright, Keira Knightley, Martin Henderson e Emily Watson e não saber usá-los direito.
Everest traz uma sensação comum aos filmes de desastre, aquela que você sabe que algo vai dar errado a qualquer momento, particularmente eu sabia que houve algo que matou oito pessoas no Everest em 1996, mas eu não sabia o que era, e nem como tudo ocorreu, logo foi uma grande surpresa para mim a revelação do ocorrido, e quando as coisas começaram a sair do prumo.
No final a lição que fica (novamente) é de que o ser humano não é nada contra a natureza e que não vale a pena arriscar por mais que a recompensa de estar lá em cima deve ser algo único no mundo, o risco ao qual você se expõe é muito grande, basta ver a quantidade corpos que ficaram pelo caminho, inclusive dos membros desta expedição de 1996.
PAN Direção: Joe Wright Ano: 2015 Assistido em: 14/01/2024
Peter Pan é um clássico criado por J. M. Barrie que já teve incontáveis adaptações na história desde os anos 1900. É impossível calcular quantas vezes essa história já ganhou os palcos e as telas nos 120 anos de sua existência, mas uma coisa é inegável: para cada geração, há um filme do Pan que foi influenciado pelo momento histórico no qual foi produzido. Durante as décadas de 2000 e 2010 vimos uma infestação dos chamados “filmes de origem”, e com Peter não seria diferente, ele também ganhou um longa contando seu começo de carreira, e como ele chega ao ponto que todos conhecemos.
Na Londres da Segunda Guerra Mundial somos apresentados ao jovem Peter que cresce em um orfanato repleto de meninos, e onde além dos horrores da Guerra, ele enfrenta constantemente a total falta de carinho, afeto e atenção por parte das freiras que cuidam dele. Certo dia Peter é sequestrado por um navio voador e vai parar na chamada Terra do Nunca, que vem sendo assolada pelo terrível Barba Negra, lá Peter descobre que é peça fundamental para livrar o lugar dessa figura tão cruel, e mudar para sempre a vida de todos na Terra do Nunca.
Sendo honesto, não sei nem por onde começar a falar sobre esse filme, ele é tão insosso que me deixou sem palavras. Temos aqui a epítome de como deixar uma história desinteressante, pedante e genérica. Pan é retratado como o chose one, aquele que está destinado a salvar a Terra do Nunca, aquele herói clássico que não tem como fugir de sua missão sagrada e blá blá blá, algo que já estamos enjoados de assistir, sendo que a história do Peter é muito simples, ele é um garoto sem figura paterna, que recusa-se a crescer, não precisava de tanto floreio, de batalha, nada dessa bobajada toda, e o um único ponto que eu achei que seria interessante, que era ver o Gancho como aliado do Peter, nem chega a ser desenvolvido pelo roteiro, se você espera que o roteiro iria explorar o que leva os dois a se tornarem grandes inimigos, pode ir esquecendo, nada é mostrado aqui, todo foco fica no personagem horrendo de Hugh Jackman.
A trilha sonora é fraca, o CGI é pavoroso de ruim, os atores estão sem vontade, e olha que temos até nomes talentosos no cast, e o próprio Joe Wright parece que nem chegou a tentar criar algo interessante, simplesmente ligou o piloto automático e o foda-se e foi embora, entregou um pastiche de tudo que a gente já viu em outros filmes e em outras franquias.
Se Pan era uma tentativa da Warner Bros de recriar o fenômeno que foi Harry Potter (2001-2011) em pleno ano de 2015, eles quebraram a cara, e não tinha como ser diferente. Faltou cuidado, faltou vida, faltou alma, faltou tudo. Isso aqui é aquele tipo de filme que você assiste num domingo enquanto está jogado no sofá, justamente para tirar um cochilo, já que pouco ou quase nada pode ser salvo. Enfim, é só mais uma das muitas adaptações do personagem que foi rapidamente esquecida enquanto a próxima não apareceu.
Nos últimos anos produções de true crime cresceram muito no meio do cinema e da TV, não estou dizendo que o gênero surgiu por agora, mas é inegável que houve um grande crescimento de tudo relacionado a ele, e devo admitir que sou consumidor assíduo, principalmente de podcasts. Nesse contexto acabei por descobrir que o Denis Villeneuve, um dos diretores que mais passei a admirar nos últimos anos, tinha um filme que retrata um acontecimento sombrio da história do Canadá, o Massacre da Escola Politécnica de Montreal, ocorrido em 1989, então logo que descobri o ocorrido e sobre o filme, lá fui eu conferir.
No dia 6 de dezembro de 1989 um rapaz escreve um bilhete de despedida para sua mãe. Em seguida ele invade a Escola Politécnica de Montreal armado com um rifle semi-automático e começa um verdadeiro massacre. Entretanto, ele não matava aleatoriamente, ele tinha um objetivo bem específico: mulheres! Já que o mesmo se considerava um combatente ao movimento feminista.
Logo na primeira cena temos um letreiro informando que todos os personagens que aparecem em tela eram fictícios, por respeito às vítimas. Mas se quisessem mesmo respeitar suas memórias, por que não contaram suas histórias?! Ou então deixassem essa história quieta e não fizessem nada com ela, mas a partir do momento que você se propõe a contar um episódio tão pesado quanto o de um massacre, acredito que os roteiristas tinham a obrigação de dar voz às vítimas, de mostrar que aquelas mulheres tinham uma história, que elas tinham sonhos, que elas não foram apenas cordeiros sacrificados em um abate. Eu compreendo totalmente não querer difundir a ideologia do assassino, aí tudo bem, mas o mais estranho nesse filme é que Villeneuve mostra mais sobre o criminoso do que sobre suas vítimas.
Polytechnique é estranho, não é ruim, longe disso, mas ele é bem incomum, não só pelo fato de não trabalhar os personagens,não dar nenhum pano de fundo para eles, como pela sua estrutura. Curiosamente assim que o filme começou me lembrou mais os trabalhos do Christopher Nolan do que os outros títulos do Villeneuve, quem é fã do Nolan consegue encontrar facilmente elementos que se enquadram na filmografia dele, como a narrativa não linear e a fotografia em preto e branco sendo os maiores exemplos. Mas apesar de não lembrar nada dos demais trabalhos do Denis Villeneuve, ainda assim é possível encontrar o capricho habitual que ele coloca em suas histórias
Em linhas gerais Polytechnique é bom, mas poderia ser ótimo, quiçá excelente, a duração reduzida limita demais a história, que ficou concentrada apenas ao massacre, ao crime, ninguém ali tem uma vida pré acontecimento, existem sequências que retratam futuro de dois dos sobreviventes, mas é tudo muito rápido e superficial. Seria muito mais interessante caso ele se dedicasse a fazer todo um processo de construção daquelas figuras antes de nos entregar a carnificina, a forma como o filme foi entregue é basicamente a matança pela matança, sem conteúdo, sem sustância, o que infelizmente prejudica o resultado final.
PS: Sério, não tem como defender aquele idiota do Jean-François zanzando pelos corredores da escola ao invés de fugir, ligar para a polícia, para o socorro, ou qualquer coisa do tipo. Ele desfilando no meio do tiroteio, não tem como defender.
LA SOCIEDAD DE LA NIEVE Direção: J. A. Bayona Ano: 2023 Assistido em: 07/01/2024
A história do Voo da Força Aérea Uruguaia 571 é extremamente famosa, particularmente não me recordo quando tomei conhecimento do caso, só sei que já faz muitos anos que ouvi sobre ele pela primeira vez, e é simplesmente impossível não ficar extremamente impressionado com todo esse caso. Sei que existem outras adaptações cinematográficas sendo a mais famosa Alive (1993), do Frank Marshall, porém eu nunca tive oportunidade de assistir essas outras versões, sendo a de 2023 a primeira que consegui ter contato.
Em 13 de outubro de 1972, uma equipe de rugby uruguaia está de viagem marcada para o Chile, o grupo cuja faixa etária é muito jovem, é composto quase que inteiramente por amigos, por pessoas que se conhecem há muitos anos, e alguns até mesmo são familiares. Entretanto, o que eles não poderiam imaginar é que a simples viagem entre Montevidéu e Santiago, terminaria quando um gravíssimo acidente ocorreria enquanto eles sobrevoavam os Andes. Os sobreviventes são constantemente postos à prova em um ambiente completamente inóspito, onde não existe nenhum rastro de vida, seja ela animal ou vegetal.
J. A. Bayona nos entrega um filme bastante cru, ele tenta dar um rosto, uma perspectiva para todas as 45 pessoas que estavam a bordo daquele avião, nós temos todos os nomes e idades dos mortos na tela, ele se preocupa em nos mostrar o máximo daquelas pessoas, nos mostrando que elas tinham uma história, que elas não eram apenas vítimas daquela tragédia. A narração do Numa ajuda a deixar o público mais próximo daquela situação, por mais inimaginável que seja nos colocarmos no lugar deles.
Entre os muitos acidentes de avião que já presenciei em filmes, o de La Sociedad de la Nieve provavelmente é um dos mais impressionantes se não for o mais impressionante, nunca sofri um acidente de avião, para dizer a verdade nunca nem entrei em um, e espero que o dia que entrar, ocorra tudo bem, mas Bayona conseguiu tornar bastante realista o desastre do voo 571, foi de prender a respiração quando o avião parte ao meio, e outro ponto que o diretor acertou em cheio, foi nos convencer de que aquelas pessoas estavam em um ambiente terrível, deu para sentir o sofrimento delas, seja pelos ferimentos do acidente, seja pela escassez de alimentos, seja pelo frio extremo, ou pela terrível decisão que ele tiveram que tomar, a direção conseguiu, com a ajuda do excelente elenco obviamente, nos fazer mergulhar no pesadelo branco que aquelas pessoas viveram por quase três meses. É preciso ressaltar que mesmo diante do horror é possível encontrar beleza, sei que a situação daquelas pessoas era de morte certa, mas é inegável a beleza das montanhas congeladas, ou do céu coalhado de estrelas, mesmo que obviamente o que vemos no filme é apenas CGI
O acidente do Voo 571 é interpretado de duas maneiras, sob duas perspectivas completamente diferentes, enquanto muitos enxergam como uma grande desgraça, outros preferem se atentar ao “milagre” de 16 pessoas terem sobrevivido àquela situação, mas independente disso, La Sociedad de la Nieve é um filme muito triste, pois ele esfrega na nossa cara que nós seres humanos não somos absolutamente nada diante do poder da natureza, o quanto nós somos frágeis, o quanto nós somos simples, insignificantes diante da força daquela cordilheira, mas por outro lado ele também reforça que na hora do desespero, nas horas mais extremas, o ser humano consegue realizar atos em prol da coletividade, prova por A mais B que se aquelas pessoas não tivessem se unido, trabalhando juntas, tomado uma decisão cruelmente necessária, não haveria nenhum sobrevivente. Sou daqueles que não acredita em milagre, nessa história eu prefiro acreditar que o desejo de sobrevivência, a coletividade, e o fato do ser humano trabalhar como uma sociedade foram os principais fatores que intervieram para um desfecho não tão horrível quanto o que tudo indicava que seria.
PS: Infelizmente eu sei que esse filme não tem muitas chances de vitória nas premiações, mas é de muito longe o meu favorito para filme estrangeiro em todas os prêmios que ele disputar
THRILLER 40 Direção: Nelson George Ano: 2023 Assistido em: 07/01/2024
Existem pessoas que são tão boas naquilo que fazem que elas simplesmente mudam a história de algo completamente. Podemos dividir o mundo antes e depois de vários líderes políticos, de vários cientistas, de vários inventores, e no campo das artes o antes e depois de vários atores, roteiristas e diretores, e quando falamos de música é inegável que Michael Jackson é um desses divisores modernos, ele pode não ter criado a música pop, mas sem sombra de dúvida a mudou e a moldou para a forma que conhecemos hoje em dia.
Michael Jackson sempre foi um prodígio, sempre foi ele que levou os Jackson Five nas costas, isso é inegável. Quando ele começou a focar na sua carreira adulta no finalzinho dos anos 70 com o aclamadíssimo Off the Wall, Michael sentiu na pele muito preconceito. Foi muito difícil colocar suas músicas nas rádios porque existiam rádios de brancos e rádios de negros, então o sucesso de foi limitado, ele não teve o alcance que poderia ter, e logo não atingiu todo o seu potencial, portanto quando Michael se propoz a fazer o maior album da história ele tinha muito mais barreiras para quebrar do que qualquer outro artista, mais do que o Elvis Presley ou que os The Beatles, mas Jackson derrubou cada uma dessas barreiras, tijolo por tijolo.
Thriller é um daqueles raríssimos casos onde praticamente todas as músicas fizeram sucesso, todo fã do Michael Jackson conhece essa seleção de trás para frente, admito que não é meu álbum favorito dele, (ainda gosto mais da sonoridade de Dangerous e de Bad), mas é inegável a qualidade técnica, é inegável o poder do alcance dessas músicas, a trinca Billie Jean, Beat It e Thriller, são provavelmente as músicas mais famosas do Michael, são as músicas que melhor resistiram ao tempo e que passaram o legado dele adiante.
O grande problema desse documentário para mim é que ele foca mais no impacto do álbum do que na sua confecção, eu queria ter visto mais do processo criativo do Michael, queria ter visto a fonte de inspiração das músicas, queria ter ouvido pessoas que participaram do processo de gravação, conhecer todo o backstory, ESCUTAR UM DEPOIMENTO DO QUINCY JONES! Que é ao lado do MJ foi o maior responsável por essa obra-prima, e que sequer foi entrevistado, e outra, cadê o Paul McCartney?! Enfim, eu queria todos os detalhes possíveis, ouvir quem estava lá, e não apenas quem veio depois.
Apesar de ter uma qualidade muito grande e de trazer informações relevantes, e até mesmo algumas curiosidades desconhecidas, faltou o principal: Michael Jackson. Com absoluta certeza devem existir vídeos dele abordando o processo de criação de Thriller, alguma entrevista ou depoimento, sei lá, qualquer coisa que colocasse o MJ na tela por mais tempo já que infelizmente ele já faleceu. Thriller é provavelmente o mais importante álbum da carreira de Michael e um dos mais importantes da história da música como um todo, portanto ele merecia ser destrinchado de todas as formas e de todos os aspectos, de sua concepção, passando pela forma como trucidou o preconceito, seu legado, e até a hora que ele tornou a promessa Michael Jackson em sua majestade, O REI DO POP.
TAKERS Direção: John Luessenhop Ano: 2010 Assistido em: 06/01/2024
Nem só de clássicos vive um cinéfilo, escutei essa frase em algum lugar não sei onde, e de lá para cá, ano após ano, vou percebendo que isso é a mais pura verdade, para reconhecer os filmes bons precisamos ter experimentado os ruins também. Quando vi o elenco dessa produção, fiquei bastante animado, e mesmo que a história não tenha me encantado, decidi dar uma chance, só que não podia imaginar que seria algo tão patético.
Dois detetives estão à caça de um super grupo de ladrões que obteve êxito em todos os seus planos. Quando um antigo membro da equipe sai da cadeia, ele oferece um último trabalho para seus amigos. O problema é que tal empreitada vai colocar o grupo em linha de choque com as forças policiais, e também com perigosos membros da máfia russa, criando um verdadeiro caos.
Uma das coisas que mais me irrita, é ver que algumas pessoas defendem a ideia de que filmes de ação não precisam ter uma boa história, que não precisam ter bons personagens, com um bom desenvolvimento. Mas se a história não for boa, se os personagens não forem interessantes, não tem como o resultado final ser bom, tiro, pancadaria e explosões são legais, só que eles devem ser usados como adornos de algo maior e não o elemento principal. O que temos aqui é um bom exemplo disso, temos um elenco estelar, desperdiçado numa história medíocre, esquecível e com personagem sem um pingo de desenvolvimento, é como se tivessem aprovado o longa apenas pelo cast, sem nem ao menos ter uma ideia de roteiro.
Não conhecia o trabalho de John Luessenhop, e após esse desastre, fui dar uma olhadinha no perfil desse cidadão no IMDb, e descobri que ele fez apenas três filmes em 24 anos, e honestamente, por mim teria feito até menos. O sujeito não consegue manter a câmera parada, é um trimilique que não consigo entender, existe uma quantidade excessiva de cortes, uma simples cena de diálogo tem dezenas de cortes, ele só usa enquadramentos fechados, não tem um único plano aberto, você não entende as cenas de ação, você não entende o que tá acontecendo com o espaço, resumindo: é uma aula de como não se dirigir um filme, chega dar tristeza.
Além do saudoso Paul Walker, ainda temos Idris Elba, Matt Dillon, Jay Hernandez, Hayden Christensen, e Michael Ealy, atores que, com a direção certa e adequada, conseguem entregar alguma coisa. Mas queria saber quem foi que iludiu o Chris Brown dizendo ele é um ator, já não basta ser péssimo cantor, tem que ser ruim como ator também?!
Takers é um desperdício de potencial absurdo, fico imaginando se nas mãos de um bom roteirista, de um bom diretor, essa história poderia ter rendido uma boa produção de ação, mas o que é entregue é simplesmente pavoroso, como diz a Isabela Boscov, a única explicação que encontro para um elenco tão famoso, aceitar participar de uma desgraça dessas, só pode ser dívida de jogo.
V FOR VENDETTA Direção: James McTeigue Ano: 2005 Assistido em: 06/01/2024
Durante muitos anos escutei falar sobre a obra V de Vingança do Alan Moore, é de como era uma graphic novel espetacular, e que o filme era uma boa adaptação e blá blá blá. Entretanto nunca tive vontade de assistir apesar de gostar muito de assuntos como ditaduras, combate ao fascismo, distopias e etc, mas essa produção em especial nunca me chamou atenção, e o principal motivos é o fato do roteiro ser das Wachowski, que depois de The Matrix (1999) nunca mais fizeram nada verdadeiramente bom, mais ou menos sim, mas bom mesmo?! Nunca! E para completar a situação, a direção ficou a cargo de James McTeigue que é cria das irmãs, e um diretor sofrível, mas decidi dar a cara a tapa mesmo assim e me surpreendi, modestamente.
Em um futuro próximo, o Reino Unido elegeu Adam Sutler como novo chanceler, só que ele se revela um ditador que mergulha o país em um regime fascista extremamente repressivo e autoritário. Nesse cenário somos apresentados a V, um homem que esconde sua verdadeira identidade atrás de uma máscara de Guy Fawkes. Ele está decidido a derrubar o regime de Sutler e para isso, arquiteta um mirabolante plano que envolve toda a população do Reino Unido. Entretanto, seus planos mudam quando ele salva a jovem Every Hammond dos homens de Sutler.
Como bem disse o dramaturgo alemão Bertold Brecht: “a cadela do fascismo está sempre no cio”, e parece que essa frase nunca esteve tão correta quanto está agora, já que estamos passando por um momento em que governos da extrema direita estão assumindo poderes em diversos países, ou propagando seus ideais de ódio com muito mais força do que faziam a até poucos anos atrás. Sei que a obra original do Alan Moore saiu no finalzinho dos anos 1980, enquanto o filme por sua vez foi lançado há quase duas décadas, mas creio que V for Vendetta funcione muito melhor agora do que funcionava em 2005, já que estamos presenciando um momento que condiz muito mais com a história apresentada do que o contexto na qual ela foi escrita e posteriormente adaptada para o cinema.
Apesar de trazer uma mensagem extremamente relevante e de muita importância, como filme, a obra não me cativou tanto assim, roteiro e direção possuem muitas limitações, e não creio que os envolvidos foram as pessoas adequadas para traduzir essa história para as telas. Não conheço o material original, mas senti que estava assistindo algo que poderia ser muito mais intenso, o que temos aqui não é uma história de super-heróis com capa que voa pelos céus, a história é centrada em um homem que decidiu lutar contra um governo fascista, é claro que é fantasia, mas um cinema em seu estado mais puro seria melhor do que a forma rocambolesca como tudo foi conduzido, já que a todo momento o diretor reforçava que estávamos assistindo uma história em quadrinhos.
O elenco traz bons nomes como Natalie Portman, Hugo Weaving e John Hurt, a ideia é boa, mas sinto que V for Vendetta demora demais para engatar, não é um filme muito longo são apenas 2h13min, mas a primeira metade é cansativa, só fui mergulhar profundamente na proposta do segundo ato em diante, e é triste quando você não compra a história logo de cara. O que senti é que estava diante de uma boa ideia, porém de uma execução que não estava à altura, e que talvez com uma outra abordagem, por uma outra equipe, renderia algo melhor.
METROPOLIS Direção: Fritz Lang Ano: 1927 Assistido em: 01/01/2024
Continuando uma tradição que já dura muitos anos, o primeiro filme que assisto em um ano, sempre é um grande clássico que está há muito tempo na minha lista de pendências , mas que ainda não tive oportunidade de conferir, e para 2024 o escolhido foi o simbolo do expressionismo alemão, Metropolis, título esse que é tão importante, que mesmo que você nunca sequer tenha ouvido falar, com absoluta certeza já assistiu algo que foi influenciado por ele, que é indubitavelmente uma das obras cinematográficas mais importantes de todos os tempos.
100 anos no futuro a sociedade vive uma distopia onde a classe alta e a grande burguesia vivem em arranha-céus gigantescos na superfície, enquanto que a classe operária está confinada ao subterrâneo, Nesse contexto somos apresentados a Freder, filho de Joh Fredersen, o grande líder de Metropolis. Certo dia, quando Freder estava levando sua vida de playboy tranquilamente, surge em sua frente Maria, uma jovem da classe trabalhadora que bruscamente lhe mostra a diferença entre ele e os moradores do subsolo. Freder fica encantado pela moça, o que o leva a uma jornada de mudança de pensamento, entretanto tal sentimento vai em desacordo com os interesses de seu pai, que vai se aliar ao cientista Rotwang para utilizar a mais avançada tecnologia, a Máquina Homem, para acabar com tudo que Maria representa.
Sempre escutei que Metropolis era um filme a frente de seu tempo, e é até difícil acreditar que se trata produção realizada no final da década de 1920, mas tendo a oportunidade de assistir pela primeira vez, pude conferir que ele não só é a frente do seu tempo, como também é absurdamente certeiro em praticamente todas as suas previsões futuristas. Não sei se a Thea von Harbou tinha algum poder de prever o futuro, mas ela foi muito (in)feliz quando adivinhou que em um século, a tecnologia estaria tão avançada, que existiria uma inteligência artificial que seria uma ameaça. Atualmente vemos pessoas serem manipuladas por notícias falsas que são difundidas descontroladamente pela internet, profissões sendo extintas devido à evolução das máquinas, enfim, estamos vivendo a verdadeira “ameaça virtual”, e olha só Metropolis levantando essa questão, discutindo esse ponto quase 100 anos atrás, essa é daquelas histórias futuristas que rezamos para estarem erradas, mas que se mostrou assustadoramente precisa.
Sendo honesto, admito que não tenho muita experiência com o cinema mudo, tirando Charles Chaplin que para mim é um Deus, não sou muito de assistir produções sem áudio, mas Fritz Lang conseguiu me deixar muito imerso nessa história. O que mais me chamou a atenção nesse filme foram seus cenários, sei que é tudo maquete, sei que é tudo jogo de câmera para fazer com que elas pareçam gigantescas, que é tudo perspectiva, mas eles conseguiram criar uma sensação de que de fato estamos diante de uma cidade futurística colossal, com arranha-céus imensos, onde carros, aviões e pessoas transitam pelo espaço, dando uma sensação de uma vida apressada e corrida, algo que quem já morou em uma cidade grande sabe muito bem como é. Os cenários desse filme são tão espetaculares que até hoje eles influenciam não só o cinema, mas videogames, séries de TV, histórias em quadrinho, enfim é algo tão espetacular que sobreviveu ao tempo.
Por se tratar do expressionismo alemão, temos atuações muito peculiares, elas são extremamente exageradas com emoções muito intensificadas algo que evoca muito do teatro, isso até pode ser um pouco estranho para quem não tem costume (como eu), mas não condena o filme, afinal de contas é uma característica do gênero, aqui provavelmente temos as bases de alguns arquétipos cinematográficos eternos como o cientista maluco por exemplo, nos mostrando que Metropolis não segue tropos, mas sim os inventa.
A década de 1920 é particularmente tumultuada na história da Alemanha, ainda assim Fritz Lang e equipe criaram uma obra que é irretocável, que é eterna, que sobreviveu ao teste mais difícil de todos, o do tempo. Sempre fico impressionado como tem alguns filmes que são tão aclamados quando são lançados, são sucesso de bilheteria, a crítica se derrete por eles, e passados alguns anos (quiçá alguns meses) ninguém mais se lembra, caem totalmente no ostracismo, basta ver por exemplo, alguns vencedores do Oscar dos últimos 10 anos que ninguém sabe mais nem os nomes. Metropolis em contra partida, assim como alguns de seus contemporâneos, não só sobreviveu ao tempo, como sua influência continua até hoje. Pode passar mais um século que essa história continuará atual, sua técnica continuará sendo estudada e replicada, pois o que é feito com esmero continua relevante e influente passe o tempo que passar. Uma das jóias da coroa do cinema não só alemão, mas mundial, Metropolis merece todos os elogios que recebeu, e precisa ser redescoberto pela Nova Geração, é uma tristeza saber que atualmente sua versão completa está perdida, e que a mais próxima da totalidade possui cenas gravemente avariadas, uma obra tão icônica merecia ter sido melhor preservada.
ELEMENTAL Direção: Peter Sohn Ano: 2023 Assistido em: 31/12/2023
Eu sou cria da Pixar, uma das minhas melhores lembranças dos tempos de escola foi ter assistido A Bug’s Life (1998) pela primeira vez durante uma sessão de cinema EM VHS na primeira série, de lá para cá, caí de amores pelo estúdio, que foi durante muitos anos o melhor no quesito produções animadas dos Estados unidos, não tinha Disney, não tinha Dreamworks que batesse de frente. Entretanto a década de 2010 foi bastante sofrível para eles, após Toy Story 3 (2010), que foi excelente, a Pixar só foi nos entregar outro clássico com “c” maiúsculo com Inside Out (2015), e dali em diante foi só ladeira abaixo, com produções que, eram boas, mas não boas o suficiente para estar no mesmo nível dos títulos iniciais, ou que eram simplesmente descartáveis, tanto que simplesmente pulei os últimos lançamentos sem nenhum remorso, mas decidi retornar agora com Elemental, e que bom que me surpreendi novamente.
Em um mundo mágico, criaturas compostas pelos quatro elementos vivem em harmonia na cidade Elemental. Somos apresentados a Ember, filha de imigrantes do elemento fogo que lutaram para conquistar seu lugar na periferia da cidade. Ember se prepara para assumir o negócios na loja da família, porém seu temperamento “esquentado” pode pôr tudo a perder. Quando a loja do seu pai é quase destruída, Ember conhece Wade, um fiscal da prefeitura do elemento água, que vai se tornar muito mais do que um grande amigo.
A Pixar tem um toque mágico para criar universos, eles pegam os conceitos mais absurdos e transformam em magia, fizeram isso com brinquedos, com insetos, com peixes, com emoções, e agora com os quatro elementos da natureza. Eles conseguem encantar as crianças e passar uma grande lição para os adultos, afinal de contas foi isso que tornou essas produções sucessos gigantescos do cinema, já que elas funcionam com perfeição para todos os públicos.
Aqui temos uma clara alusão à situação de imigrantes na América, o diretor Peter Sohn é filho de coreanos, então ele tem bastante lugar de fala para poder contar uma história como da Ember, mas surpreendente é perceptível que todos os moradores do bairro do fogo representavam o pessoal do Oriente Médio, mas independente se seja da Coréia ou das Arábias, a questão é que o filme traz uma forte mensagem sobre o quão difícil é você abandonar sua terra natal e ir para um lugar onde não é bem recebido, e ainda assim tem que lutar para poder construir uma vida nova, talvez essa mensagem nunca tenha sido tão necessária, haja vista a situação geopolítica que vivemos atualmente.
Sohn é o diretor daquele que é disparado o pior filme do estúdio, The Good Dinosaur (2015), mas aqui, ele meio que desfez a sua péssima primeira impressão, Elemental traz um mundo encantador, repleto de magia, como a muito não se via na Pixar, misturando Romeu e Julieta com criação de universo inovador. Apesar de não colocá-lo no pódio dos melhores títulos da empresa, é um filme que está no grupo dos “acima da média”, e o que mais gostei desde do já citado Inside Out, lançado há quase 10 anos. Em uma época em que vemos a Disney investir descontroladamente em sequências, como o vindouro Toy Story 5, ou fazendo spin-off desnecessário como Lightyear (2022), o que temos aqui é um respiro, é um alívio ver uma animação como Elemental, que teve que lutar para se provar nas bilheterias, mas que conseguiu sair por cima, e sem sombra de dúvidas é um bom ensaio para um possível retorno do estúdio a boa forma.
Já disse em comentários anteriores que eu não sou muito conhecedor do cinema francês, mas essa semana em particular foi muito atípica, pois assisti duas produções vindas da França, o primeiro foi o ótimo Joyeux Noël (2005), e o segundo foi Anatomia de uma Queda, que vem se mostrando como um dos mais elogiados da temporada. Quando li a sinopse fiquei bastante animado porque sou apaixonado por filmes de tribunal, portanto cometi um gravíssimo erro, fui assistir com muitas expectativas.
Numa região isolada e montanhosa no interior da França vive Sandra com seu esposo, Samuel, seu filho Daniel, que ficou cego devido a um acidente, e o cachorro da família. Eles levam uma vida aparentemente normal, entretanto tudo vem abaixo quando Samuel é encontrado morto do lado de fora da casa. Quando a polícia chega ao local Sandra é vista como a única suspeita.
Eu amo os chamados courtroom drama, adoro ver personagens acuados, sendo acusados, lutando por suas vidas, enquanto detalhes nos são revelados aos poucos, fazendo com que possamos montar um enorme quebra-cabeça até chegarmos a uma conclusão. Entre meus favoritos do gênero estão 12 Angry Men (1957), Madame X (1966), A Few Good Men (1992) Primal Fear (1996) entre muitos outros, e o que todos têm em comum? Grandes personagens, grandes histórias, e grandes atuações, aqui até encontramos uma boa estrutura narrativa, mas infelizmente ela nunca alcança o ápice, ficando mais desinteressante à medida que a trama avança.
A história começa bem, temos um corpo, e precisamos entender como as coisas aconteceram, aparentemente Sandra é a única culpada, só que o longa vai se esvaziando, a história não engrena, não engata. A duração é ótima para desenvolver uma trama, mas aqui, esse tempo foi um um tiro no pé, porque simplesmente não existe uma conteudo para cobrir esse tempo ao mesmo tempo que sustenta o interesse do público ao longo de toda duração, a grande sensação que eu tenho é que o filme começa em nada e termina em lugar nenhum, com um desfecho que é um ultraje.
Quem esperou por um grande drama de tribunal, com grandes interpretações, e grandes momentos está completamente iludido, a Sandra Hüller é muito boa, e está excelente, assim como o jovem Milo Machado-Graner, ambos têm momentos dramáticos muito interessantes, garantindo um bom drama, mas ainda assim muito desinteressante na parte de tribunal, sendo um dos mais decepcionante que vi nos últimos tempos.
Como disse na abertura, cometi a imensa falha de esperar um grande filme de tribunal, e não foi isso que encontrei, não estou dizendo que é ruim, dá para notar todo o esmero dos realizadores, mas faltou história, faltou uma montagem melhor, faltou mais dinamismo e principalmente faltou coragem para tomar um posicionamento no final. Deixar perguntas em aberto, para a imaginação do público completar, é uma decisão que particularmente sempre achei muito covarde, e aqui não foi diferente.
İSTANBUL İÇIN SON ÇAĞRI Direção: Gönenç Uyanık Ano: 2023 Assistido em: 25/12/2023
Vou começar sendo honesto, tenho o pé atrás com produções turcas, assisti pouquíssimos títulos oriundos do país, aquelas de cunho histórico até consigo acompanhar numa boa, mas dramas e romances, honestamente, não são para mim, simplesmente não dá! Sei que a Turquia é um país majoritarualmente islâmico, entretanto eles não são tão fundamentalistas quanto os países árabes, porém a religião ainda interfere bastante nas produções, por exemplo, nas novelas/séries não pode haver violência, beijos, cenas de sexo então?! Alá nos livre, o mundo vai acabar!! Enfim, eles possuem uma série de limitadores que em minha opinião só atrapalham na hora de contar uma boa história, portanto tinha zero interesse em ver esse filme, e só assisti meio que "por acidente".
Um jovem casal desembarca em Nova York e devido a um problema da empresa de companhia aérea acabam se aproximando e decidem passar um dia juntos. O grande problema é que ambos são casados, entretanto a química sexual é extremamente forte, resta saber até quando eles vão resistir a mútua atração.
Honestamente, pensava que isso seria apenas mais uma mais um filme romântico comum como qualquer outro daqueles que Hollywood produz por atacado há anos, e a Netflix praticamente se tornou especialista, entretanto me surpreendi com um roteiro que foi bem pensado, com um plot twist até que surpreendente para o gênero, mas que ainda assim poderia render muito mais, caso a execução fosse melhor.
Fiquei até um pouco confuso quando o segundo ato começou, pensei que a história estava avançando muito, com Mehmet e Serim já tendo uma vida de casal e já estando em um relacionamento desgastado, só que aí que veio a surpresa. Tudo indicava que o filme seria um romance bobinho, e não uma produção que tinha como intuito discutir relacionamentos matrimoniais, e quando revelaram que tudo que vimos no primeiro ato era encenação, uma tentativa dos dois de salvar o casamento fracassado, senti que a história tinha um imenso potencial, o problema é que a direção já tinha me perdido a essa altura, já que tudo até então estava sendo apresentado de uma maneira extremamente sem graça, apática, sem brilho, de uma forma que meu interesse já havia diminuído, e quando o filme te perde, para recuperar é difícil demais.
Vi que muita gente odiou o final, particularmente sou um desses que naturalmente ficaria muito incomodado por ser fantasioso/idealizado demais para o meu gosto, mas dessa vez até que eu vou passar um certo pano, do começo ao fim a história já prometia esse final, já existia uma atmosfera romântica de um casal que queria se acertar, logo o final não é ilógico. Em linhas gerais, Última Chamada para Istambul é uma boa ideia com uma execução ruim, e que poderia ter sido maior, mas infelizmente acabou caindo no comodismo de ser o mais do mesmo.
Continuando meu propósito de assistir aos principais títulos da temporada, me deparei com Saltburn, um filme que eu tinha de tudo para não gostar, desde a sinopse simples, que não contempla tudo o que a história tem a oferecer, e ao fato de eu não ter gostado muito de Promising Young Woman (2020), o trabalho anterior da diretora Emerald Fennell, mas ainda assim fui de peito aberto, principalmente devido ao elenco que é um espetáculo, e que baita surpresa encontrei no final, um dos longas mais irônicos e debochados dos últimos anos.
Oliver é um bolsista de Oxford que se vê completamente perdido nesse novo ambiente, ele é rejeitado por todos já que não se encaixa nesse mundinho. Certo dia ele consegue chamar a atenção de Felix, que diferentemente dele é o centro daquele universo. Durante as férias, Felix convida Oliver para passar um período em sua casa, o castelo de Saltburn, porém lá chegando, Oliver precisará lidar com uma série de pessoas excêntricas em um mundo completamente irônico, e mediante as situações absurdas que vão saindo de controle aos poucos.
O ponto alto da produção está no texto de Emerald Fennell, ela trata todo aquele universo, com bastante ironia e deboche, vemos pessoas extremamente ricas em situações bizarras e completamente surreais, e tudo isso com um tom de comédia que torna o filme extremamente ácido, nos levando a refletir o quão estúpida é toda aquela situação que aquelas pessoas estão vivendo, e o melhor de tudo é que nós vemos isso pelo olhos do Oliver, que assim como nós, está de fora daquele mundinho.
Mas engana-se quem pensa que Saltburn é apenas uma crítica às excentricidades e futilidades dos milionários, o que temos aqui é um grande estudo de personagem, que fala sobre inveja, sobre rancor, sobre ressentimento, sobre desejo e principalmente sobre ambição. O segundo ato muda completamente o que vinha sendo apresentado, e nós vemos a escalada de Oliver, vemos aquele personagem que desde o primeiro momento o roteiro já tinha nos avisado que não era uma boa pessoa (basta ver a forma como ele descarta a única pessoa que se aproxima dele), fazer de tudo para atingir seus objetivos. Mas o que que o Oliver quer?! Ele quer o amor de Felix?! Ele quer o dinheiro?! Ele quer os status?! Não, ELE QUER TUDO, extremamente inteligente, o vilão se livra de todos aqueles que ameaçam os seus objetivos, até que no final ele finalmente consegue atingir seus objetivos, que dentre muitas coisas, incluía nada mais nada menos que a própria Saltburn.
Emerald Fennell faz um trabalho de direção brilhante, a fotografia é lindíssima, com cenas que poderiam render belos quadros, ela usa muita cor, muito brilho, é um filme quente e vibrante. A trilha sonora também é um espetáculo, assim como a montagem que também é muito boa, fazendo com que a história nunca perca o ritmo. E obviamente temos o elenco espetacular, Barry Keoghan está incrível, esse cara tem muito potencial, creio que no futuro ele vai ganhar um Oscar, do outro lado temos o igualmente ótimo Jacob Elordi, que exorciza de vez o rótulo de galã de filme adolescente, e mais uma vez prova-se um excelente ator dramático, é outro que se souber escolher bem seus papéis vai ter uma carreira brilhante, completando o elenco temos em papéis menores Rosamund Pike, Richard E. Grant e Carey Mulligan, todos também bem corretos em seus papéis, principalmente Pike que mais uma vez engole todos ao seu redor com sua enorme presença cênica.
O saldo geral de Saltburn é muito bom, ele pode não ser o grande favorito nesta temporada de prêmios, mais sem sombra de dúvidas foi um das produções que mais me surpreendeu nesse final de ano, devido a uma história que mistura uma crítica ácida, com uma bom thriller que vai escalonando para algo que jamais poderíamos imaginar. É claro que existem cenas que causam desconforto, todas elas propositais para mexer com o sentimentos do espectador, e o longa como um todo consegue isso muito bem, seja nos deixando abismados com as excentricidades dessas pessoas de um universo tão distante do nosso, ou como a ótima representação de sentimentos e emoções que levam os personagens a atitudes completamente absurdas que no final nos deixa completamente perplexos. Esse filme conseguiu tirar a impressão ruim que eu tinha ficado com a Emerald Fennell e mais do que isso, conseguiu me deixar bastante ansioso para ver o que que ela vai nos entregar no futuro.
JOYEUX NOËL Direção: Christian Carion Ano: 2005 Assistido em: 24/12/2023
Desde minha adolescência sou fascinado com as Grandes Guerras Mundiais, sempre gostei de ler, de estudar sobre esses períodos que apesar de representarem o que de pior pode acontecer com a humanidade, trazem alguns episódios muito interessantes. E a cada ano me surpreendo mais, ao descobrir detalhes, situações e eventos que me eram desconhecidos. E de longe o que mais me surpreendeu foi o da Trégua de Natal de 1914, algo que a princípio soava como impossível, mas que de fato aconteceu.
Em dezembro de 1914, no frente ocidental da Primeira Guerra Mundial, diversos soldados ingleses, franceses e alemães estão diante dos meses iniciais do conflito. Entretanto, o espírito natalino fala mais forte e eles decidem fazer uma pequena trégua no dia 24 de dezembro. Só que eles não sabiam que essa demonstração de amor e paz iria tomar proporções inimagináveis.
Não tenho muito conhecimento sobre o cinema francês, vergonhosamente admito que é do cinema americano que vem 99% de tudo que consumo, mas as poucas vezes que tive contato com as produções da França, fiquei verdadeiramente encantado, e com Joyeux Noël não foi diferente, ele é muito bem escrito e dirigido, com um elenco absurdo, e atuações muito boas, e outra, se existe CGI aqui, não parece, enfim tecnicamente é muito acima da média, o único defeito para mim é uma pequena barriga que existe ali na metade da história, mas nada que condene o todo.
O elenco está repleto de pessoas famosas Diane Kruger, Benno Fürmann, Guillaume Canet e Daniel Brühl todos muito bem em seus papéis e aliados a direção de Christian Carion conseguem imprimir bastante emoção nas cenas, nos fazendo sentir um pouquinho que seja daquele sentimento que levou os aqueles soldados aquela demonstração de amor ao próximo.
Infelizmente a Trégua de Natal de 1914 não foi repetida, em 1915 os líderes de ambos os lados do conflito fizeram o possível para impedir que o evento se repetisse, e em 1916 a guerra já tinha atingido um nível tão descontrolado todos só se enxergavam como inimigos a serem massacrados, e não havia a menor possibilidade de uma trégua, mas a lição que fica é que todos esses conflitos, não só da Primeira como também da Segunda ou de qualquer outra guerra no mundo, não reflete o real sentimento de um povo, o real sentimento de uma nação, mas apenas os interesses de alguns poucos que nem estão no campo de batalha, mas sim seguros em seus escritórios, somente quem viveu a carnificina dos combates sabe de fato o que aquelas pessoas passaram. Esse provavelmente é um dos poucos, quiçá o único, momento bonito em meio ao maior horror que o ser humano já havia evidenciado até então, um pequeno raio de esperança provando que talvez a humanidade não esteja de todo condenada.
PRISCILLA Direção: Sofia Coppola Ano: 2023 Assistido em: 23/12/2023
Um dos filmes mais elogiados do ano passado foi Elvis (2022) de Baz Luhrmann, cinebiografia que contava um pouco da história do lendário rei do rock. Entretanto, um dos pontos mais criticados da obra foi o fato do relacionamento de Presley com sua esposa Priscilla ter sido abordado de uma forma en passant, Luhrmann justificou sua decisão alegando que o seu recorte era focado principalmente na carreira de Elvis, deixando seus relacionamentos amorosos mais em segundo plano. E agora, passados um ano depois do lançamento do longa, vemos Priscila chegando aos cinemas, e que fique claro que essa não é uma resposta ao anterior, e nem vejo como um complemento, mas sim como uma outra versão dessa história.
Em 1959 na Alemanha Ocidental a então adolescente de 14 anos Priscilla Beaulieu acaba conhecendo ninguém mais ninguém menos do que Elvis Presley, o fenômeno americano que estava cumprindo serviço militar no país. Eles imediatamente começam a se envolver apesar de uma brutal diferença de 10 anos de idade, ao longo dos próximos anos veremos como Priscila precisou aprender a lidar com peso da fama do lendário rei do rock.
Diferentemente do Elvis do Luhrmann, o Priscila de Sofia Coppola não teve o apoio de Lisa Marie Presley, a recentemente falecida herdeira do casal, o que temos aqui é a visão da ex-esposa, vemos pelo olhar dela como foi seu envolvimento com Elvis, como se deu o namoro, o casamento, enfim, os 15 anos de relacionamento que eles tiveram. Vemos Priscila como uma jovem deslumbrada que é seduzida por um homem mais velho, que tenta mudá-la, adequá-la ao seu estilo de vida. É importante ressaltar que não devemos julgar algo que ocorreu há quase 60 anos com os olhos de 2023, o que hoje é absurdo, naquela época era comum, portanto é muito complicado você tentar julgar Elvis como um monstro quando o que ele fazia, era o que todos faziam. Não estou dizendo que ele tratou a Priscila da forma correta, definitivamente não, foi péssimo em inúmeros momentos, mas o que eu quero dizer que não adianta nada vilanizar uma pessoa sem que possamos escutar sua versão da história.
Tecnicamente falando, Coppola nos entrega uma grande produção, que faz um trabalho espetacular de figurino, cabelo e maquiagem. Ela também escolheu seus atores a dedo, Cailee Spaeny esteve muito bem no papel título, e Jacob Elordi, mais uma vez se mostra como é uma promissora aposta futura, mostrando que segura papéis dramáticos muito bem, algo já visto por exemplo, em Euphoria (2019-Atualmente). A direção da Sofia Coppola é muito afiada arrancando grandes momentos dos seus atores, entretanto o roteiro é extremamente simplório, focar apenas no relacionamento de Priscilla e Elvis é uma decisão arriscada, tudo bem que ela sempre será conhecida como a esposa do Rei do Rock, inclusive é mais conhecida pelo seu nome de casada, mas não custaria nada citar a carreira de atriz, citar o lado empresário, mostra como se deu o relacionamento dela com Elvis após o divórcio, ou após a morte dele, enfim mostrar mais do que apenas romance, que aliás, trata 15 anos de história como se fosse 15 dias, já que a passagem de tempo é muito mal explicada em tela.
Em linhas gerais Priscilla me decepcionou um pouco, não que seja ruim, não é isso, mas claramente poderia ser melhor. Deveria ter explorado mais a figura do Elvis e da própria Priscila, mostrado o relacionamento deles de uma forma muito mais intensa, mostrando as traições abertamente, enfim, sido mais ousados. Talvez as tretas entre Priscilla e Lisa Marie tenha jogado um banho de água fria nos planos da Sofia, ou até mesmo a grande repercussão do longa de Austin Butler tenha mudado alguma coisa nesse projeto, mas de fato faltou um pouquinho de coragem para fazer um filme mais audacioso e memorável.
MAESTRO Direção: Bradley Cooper Ano: 2023 Assistido em: 23/12/2023
Como um bom devoto ao cinema, todo final de ano acompanho a temporada de prêmios, dando preferência aos filmes de maior repercussão. Neste ano em específico, acompanhando principalmente os vídeos do Dalenogare, descobri que o Bradley Cooper vem fazendo uma campanha agressiva para o seu Maestro, ele quer ganhar um Oscar, seja de direção, seja de ator, e não está medindo esforço para isso, até aí tudo bem, está mais do que certo, mas o que me surpreende nessa história toda é o filme que ele escolheu para isso, Maestro é tão Oscar bating que cada cena grita “me deem um prêmio”, nem precisava de campanha, e creio que isso joga mais contra do que a favor.
Nos anos 1940 somos apresentados a Leonard Bernstein um promissor maestro norte-americano que graças a seu enorme talento começa a alcançar posições altíssimas no mundo da música. Quando ele conhece a atriz costarriquenha Felicia Montealegre eles começam um relacionamento intenso, mas que enfrentará muitos percalços.
Não sou o que pode ser chamado de grande amante na música clássica, mas conheço seus principais compositores, e tenho um considerável apreço por orquestras, portanto já conhecia o Leonard Bernstein de nome, mas não sabia absolutamente nada de sua vida. Como um aficionado por cinebiografias, quando anunciaram que o Bradley Cooper estaria envolto em um projeto adaptando a vida de Bernstein ao cinema, imediatamente fiquei animado, só não poderia imaginar que esse filme seria tão chato.Vamos separar bem as coisas: eu não disse ruim, e sim chato! Com uma história para dormir.
Cooper acerta em toda parte técnica, fotografia, figurinos, maquiagens (apesar do nariz), cenário, direção, tudo é impecável, e no quesito atuações ele está muito bem, não digo que é um dos melhores desempenhos de sua carreira, mas ele está muito bem, Carey Mulligan que está impecável, é será uma forte candidata na competição de melhor atriz deste ano, mas o roteiro é para matar o espectador de tédio, é como já disse, não conheço a vida do Berstein mas creio que, ou o Cooper deixou os pontos mais interessantes de fora, ou a vida desse homem era um saco, não tem nada aqui que chame atenção, absolutamente nada. Até temos uma sugestão de homossexualidade, mais nada foi aprofundado, tudo é muito superficial, muito higienizado, muito bonitinho, como se o filme tivesse medo de mostrar os esqueletos do armário, porque com toda certeza existem esqueletos nesse armário, só que acabaram ficando de fora.
Fiquei muito surpreso quando vi nos créditos os nomes dos gigantes Martin Scorsese e Steven Spielberg como produtores, não sei se com a direção de um dos dois o resultado de Maestro teria sido melhor, mas creio que ambos, com seus mais de 50 anos de carreira saberiam muito bem como balancear uma história, como investir em momentos que despertariam o interesse do público, para que o resultado final não ficasse tão modorrento, eles bem que deveriam ter dado umas diquinhas para o Bradley, porque misericórdia, acredito que só a família do biografado e os envolvidos no projeto podem ter achado uma boa ideia fazer esse longa. A Netflix deposita nessa produção todas as suas fichas para o seu tão sonhado Oscar de melhor filme, mas não creio que será dessa vez, já que em um ano com tantas produções fortes e de repercussão gigantesca, Maestro é um peixe muito pequeno.
AQUAMAN AND THE LOST KINGDOM Direção: James Wan Ano: 2023 Assistido em: 22/12/2023
Sou fã dos personagens da DC comics desde que eu me entendo por gente, infelizmente não estava lá, na sala de cinema, quando Man of Steel (2013) iniciou o DCEU, mas com exceção dele e de Wonder Woman 1984 (2020), assisti todas as demais produções da franquia no cinema, das mais elogiadas as mais execradas, sempre estive lá, então não seria dessa vez que eu não estaria presente, e lá fui eu acompanhar o último prego sendo batido no caixão e finalmente presenciar o fim dessa franquia, que começou como um raio de esperança as comédias da Marvel, mas sai de cena como uma maldição a ser esquecida. E quem diria que caberia ao Aquaman a missão de enterrar o universo iniciado por Zack Snyder de uma vez por todas?!
Passados alguns anos dos eventos do primeiro filme, Arthur agora se divide entre a terra e os oceanos, ele tem duas missões muito sérias, além de governar o mais poderoso reino dos mares ele ainda precisa lidar com os afazeres de um pai de família, cuidando da esposa e do pequeno filho. Entretanto, o que ele não poderia imaginar é que o Arraia Negra ainda está sedento por vingança, e quando o vilão põe as mãos em uma antiga arma de um reino perdido e amaldiçoado, ele vai colocar tudo e todos que Arthur ama em perigo. Caberá ao Aquaman buscar ajuda onde menos espera para salvar não somente seus entes queridos, mas todo o planeta.
Lá em 2018 quando o primeiro Aquaman foi lançado, ele foi bastante funcional, um filme bonito, com uma criação de um universo bacana, não era perfeito, mas dava pro gasto. Então criei expectativas acerca da possível continuação, principalmente devido ao James Wan, que é um excelente criador de universo, mas de lá para cá o DCEU passou por tantas mudanças, por tantos problemas, tantas situações caóticas, que esse interesse desapareceu, de forma que agora em 2023 a única expectativa para essa sequência é que ela terminasse esse universo capenga de uma vez.
Jason Momoa sempre foi uma escalação horrenda para esse papel, sempre falei isso, e tudo ficou ainda mais evidente agora que o Patrick Wilson estava ao lado dele, Wilson é muito mais Aquaman do que essa montanha havaiana tatuada, que aliás nunca interpretou o Arthur, mas sempre foi ele mesmo em tela. Pra dizer a verdade, nenhum personagem desse universo entrou para a cultura pop, nada disso, tudo relacionado ao Aquaman sempre foi muito mediano, e é exatamente isso que entregam novamente, uma história fraquinha, mas que tem alguns momentos de diversão, boas sequências de ação, mas tudo inofensivo e facilmente esquecível.
Uma coisa que me incomodou bastante é que esse filme parece muito inferior ao primeiro em todos os sentidos, e mais ainda quando falamos de efeitos especiais, o original lançado cinco anos atrás parecia mais caprichado, mais bem feito, em muitas cenas sai da imersão devido ao vale da estranheza. Outro ponto incômodo é que o Arraia Negra é um vilão muito meia boca, ele não teve metade do impacto que o Orm teve no primeiro longa, aliás a melhor decisão deste segundo título foi trazer o ex-vilão como parceiro do herói, já que a esposa dele não pode ter destaque devido às cagadas (nos dois sentidos) que a atriz fez na vida real.
Em linhas gerais Aquaman and the Lost Kingdom é mediano, e condizente com que o DCEU entregou ao longo dos anos, não é espetacular, mas também não é essa carniça toda que muita gente tá pintando, inclusive consegue ser melhor do que algumas bombas de super-heróis que foram feitos ao longo do ano como por exemplo Quantumania e o trio de maravilhosas, porém como conclusão de um universo de 10 anos, é algo sofrível, não é memorável, não é edificante, é algo esquecível, e talvez essa seja melhor solução, já que a Warner e o Gunn querem que o público apague esses 15 filmes de suas mente, para que tudo possa ser reiniciado em 2025, com um novo universo que dessa vez pode vir a ser bem sucedido.
KILLERS OF THE FLOWER MOON Direção: Martin Scorsese Ano: 2023 Assistido em: 22/12/2023
Quando Martin Scorsese se propõe a fazer um novo trabalho, a comunidade cinéfila imediatamente já fica em polvorosa. Em suas sete décadas de atividade, Scorsese nunca decepcionou, ele sempre está nos surpreendendo com obras de qualidade absurda, que entram para cultura pop, que tem muito a dizer, e que esbanjam qualidades que não são encontradas em qualquer produção. Podemos dizer claramente que o diretor é diferenciado, que ele é um dos que ajudaram a moldar o cinema, e é um deleite poder assistir a um filme tão bom mesmo vindo de uma pessoa que na teoria, já deveria estar aposentado há um bom tempo.
No princípio dos anos 1920 a comunidade Osage se tornou extremamente rica devido ao petróleo encontrado em suas terras. Porém se tem uma coisa que chama a atenção das pessoas é dinheiro fácil, e os Osages são vistos como vítimas em potencial. Nesse contexto somos apresentados a Ernest um veterano da primeira Guerra Mundial que chega até a reserva indígena e acaba se casando com Mollie. Com ajuda do seu tio King Hale, Ernest decide mexer os pauzinhos para se tornar o legítimo herdeiro de toda aquela fortuna proveniente do petróleo, não importando os métodos que tenham que ser utilizados.
Para ser bastante honesto antes do anúncio do filme dirigido por Scorsese e protagonizado por DeNiro e DiCaprio, eu nunca tinha ouvido falar da história dos Osage, e isso é surpreendente, pois o gênero true crime é um dos que mais ganhou força nos últimos anos. Hoje em dia qualquer “crime menor” ganha proporções absurdas na mídia, agora imagina um massacre de dezenas, talvez até uma centena de pessoas?! Não gostaria de ficar levantando bandeira de nada, mas o fato dessas pessoas serem indígenas e de tudo ter ocorrido nos primórdios do século XX, justifique a ausência do ocorrido no cenário midiático por quase 100 anos, e só agora está chegando a grande massa, já que o cinema tem um alcance muito superior a qualquer livro ou reportagem de jornal, e isso só foi devido à força do nome de Scorsese, que fez a Apple gastar 200 milhões de dólares neste projeto.
Elogiar as parte técnica do filme é desnecessário, Scorsese sempre tem um capricho absurdo em tudo que faz, sempre beira a perfeição, seja na fotografia, nos cenários, na maquiagem, e principalmente as atuações impecáveis, obviamente já esperava tudo de bom do Robert De Niro e de Leonardo DiCaprio, mas fiquei surpreso com o desempenho da Lilly Gladstone, não conhecia o trabalho dela, mas a mulher está absurda, qualquer outra seria engolida pelos dois monstros com a qual ela estava contracenando, mas ela não. Gladstone não encolheu, muito pelo contrário estava gigante, são dela alguns dos momentos mais marcantes. O elenco ainda tem nomes famosos como Brandon Fraser, Barry Corbin e John Lithgow, mas todos eles aparecem muito rapidamente, o um único ponto fraco fica em Jesse Plemons, que apesar de ser um bom ator, é muito sem graça, e de carisma inexistente, esse homem é uma água de salsicha, me desculpem, mas não compro nenhum personagem que ele faz.
Obviamente a longa duração é um tópico que o pessoal desse mundinho chamado internet levou muito a discussão, apesar de não me importar com durações longas, dessa vez eu senti às 3h30min, principalmente no primeiro ato, depois dos 45 minutos iniciais a história engatou de um jeito que eu não conseguia mais desviar o olhar, mas confesso que no começo foi um pouco difícil, e me senti um pouquinho cansado, algo que não ocorreu por exemplo em The Irishman (2019) filme anterior do diretor que tinha a mesma duração, mas que a história tinha alguns elementos que para mim, eram mais atraentes do que os dessa, mas de todo caso nada apaga o brilhantismo da obra.
Killers of the Flower Moon foi uma das produções mais elogiadas de 2023, e não é para menos, é uma aula de cinema. Nos últimos anos Scorsese tomou uma posição muito radical contra blockbusters em geral, principalmente contra os filmes de super-herói da dona Marvel/Disney, mas apesar de gostar bastante dessas produções, reflito sobre o seguinte: quantos filmes de hominho simplesmente desaparecem na nossa cabeça no instante que deixamos a sala do cinema?! Ou assim que fechamos o streaming na televisão na nossa sala? São produtos descartáveis que desaparecem do imaginário coletivo de imediato, agora me respondam quanto tempo será que vamos demorar para esquecer um Killers of the Flower Moon?! Para esquecer o que vimos dele?! A não ser que você seja um ser humano muito ruim, é muito difícil ver diversas vidas sendo perdidas apenas por ambição, e saber que isso aconteceu de verdade, saber que não foi ficção, saber que foi real, e imaginar que isso se repete em inúmeros locais no mundo a fora e ninguém dá a mínima. Scorsese disse em uma entrevista recente que só faz filmes quando tem algo a dizer, e ele tem muito a dizer ainda, espero que tenha muitos anos de vida e de saúde para que continue nos presenteando com obras magistrais e memoráveis como ele sempre fez.
AIR Direção: Ben Affleck Ano: 2023 Assistido em: 17/12/2023
Tem filmes que você lê a sinopse ou procura alguma informação na internet e imediatamente já pensa, “não tem como isso dá certo”, porém muitas vezes quebramos a cara, o diretor prova que estamos errados, e quando vamos ver estamos diante de um filmaço. Mas existe uma diferença muito grande entre um filme ruim e um filme chato, inclusive eu prefiro muitas vezes um da primeira categoria do que da segunda, porque com uma produção de baixa qualidade, muitas vezes é possível nos divertir, agora com um longa chato, aí não tem como não.
Em 1984 a Nike estava precisando reformular seus produtos para atingir novos mercados, e assim se destacar em meio a uma forte concorrência. Nesse cenário eles decidem investir em um atleta que estava começando a despontar, um tal de um Michael Jordan. Entretanto associar o nome de Jordan ao da empresa não seria nada fácil, haja vista que existiam inúmeros obstáculos a serem derrubados, e nesse cenário vemos a perspectiva e a perseverança de Sonny, responsável de marketing da Nike que vai tentar a todo custo conseguir a associação entre a estrela e a empresa.
Não sou o que pode se chamar de fã do Ben Affleck, esse é apenas o segundo trabalho dele como diretor que assisto, e vê-lo como ator é sempre um desmotivador para assistir qualquer produção, mas devido a forte campanha da temporada de prêmios, cá estou, obviamente outro grande incentivo é o elenco estelar que Affleck reuniu, além do seu parceiro Matt Damon (pela primeira vez sendo dirigido pelo amigo), ainda temos Jason Bateman, Viola Davis, Chris Messina, e por aí vai, mas como disse nem todo bom filme é legal, Air é um espetáculo quando se trata de elenco, de montagem e trilha sonora mas é uma droga quando falamos de história.
Sei muito bem na importância do Michael Jordan, sei da importância do tênis Air Jordan, já li sobre isso, já li sobre o impacto que teve na cultura dos anos 1980, e sobre a forma como ele modificou toda a questão de contratos entre grandes empresas e atletas, sei disso tudo, mas minha gente, que história insuportável de chata!! Talvez para quem seja aficionado por basquete, pelo Jordan, por marketing ou por histórias de confecção de tênis, Air seja uma excelente pedida, mas para o público médio, para aquele que quer uma história envolvente, isso aqui é muito chato, vi muita gente falando que ficou ansiosa pelo desfecho da história mesmo conhecendo o final, eu nem conhecia e nem fiquei ansioso, tudo que queria era que aquilo acabasse o mais depressa possível porque não parava de bocejar.
Como acompanho notícias sobre cinema há muitos anos, sei muito bem que premiações não são sobre qualidade, mas sim sobre campanha, sendo Ben Affleck um nome forte em Hollywood, e sendo a Amazon uma empresa multibilhardária é claro que Air vai se destacar nas premiações, mas a produção é facilmente esquecível, e a prova disso é que ele foi lançado no primeiro semestre de 2023, e simplesmente evaporou da boca do povo nos meses seguintes. Em um ano em que vimos um fenômeno como o Barbenheimer, Air não se sobressaiu, nessa temporada de prêmios acredito eu que ele vai estar ali apenas como figuração, e não como uma real potência para ganhar nada, e convenhamos, é um filme que merece reconhecimento pelas partes técnicas, mas faltou uma história mais envolvente, mais apaixonante ou ao menos menos nichada, ou quem sabe quem tá errado sou eu por não ter entendido que a obra tem um público específico, do qual não faço parte.
MAY DECEMBER Direção: Todd Haynes Ano: 2023 Assistido em: 17/12/2023
Nessa temporada de prêmios estou assistindo alguns filmes que naturalmente nunca assistiria, que só pela sinopse eu passaria longe, mas mesmo assim decidi encarar apenas por conta dos elogios da crítica e das seleções para as principais premiações do cinema. Por outro lado May December é um que nos primeiros instantes que escutei falando, já despertou meu interesse, só que eu entendi a história completamente errada, sei que o que temos aqui é baseado em um caso real, mas acreditava que seria uma adaptação legítima da história ocorrida nos Estados Unidos com Mary Kay Letourneau em 1996, mas me surpreendi totalmente ao me deparar com uma história que não era nada do que eu imaginava, e isso foi muito bom.
Elizabeth é uma atriz que está em processo de pesquisa para a sua nova personagem, Gracie, uma mulher que foi acusada de abuso de menores ao se envolver com um menino de 13 anos, mas que com o passar dos anos se casou com ele e juntos formaram uma família. Quando Elizabeth chega à casa de Grace e Joe, se depara com uma família aparentemente perfeita, mesmo com a origem turbulenta, só que o que ela não podia imaginar é que essa família ainda tem muitos esqueletos no armário.
A história na qual a produção se baseia é revoltante, uma mulher de 36 anos se envolver com um garoto de 13 é absurdo demais para ser entendido, mas infelizmente aconteceu, e aqui na ficção, vemos pelo roteiro como os traumas do passado podem afetar o nosso presente, apesar de Elizabeth ser a protagonista ela nem de longe é o foco do filme, que fica todo no papel de Joe.
Vemos um homem jovem de 36 anos com três filhos, os mais novos próximos dos 20 e indo para faculdade, ele tem uma vida aparentemente perfeita, mas claramente é uma pessoa sufocada, Joe não teve infância, não teve adolescência, não teve juventude, tudo isso foi roubado por Grace que finge muito bem ser uma pessoa sensível e ingênua, mas que é uma grande predadora sexual, uma mulher que abusou de uma criança e roubou toda a vida dele. Durante o desenrolar da produção vemos Joe repetir que não foi uma vítima várias vezes, que foi escolha dele, mas o desenrolar da história mostra o contrário, vemos ele acordando para realidade, as borboletas monarcas que ele preserva são uma metáfora para ele mesmo, que viveu preso durante quase 25 anos a uma vida no qual foi inserido sem nem mesmo perceber que ele foi levado a aceitar. A cena final dele, onde vê a formatura dos filhos de longe, e começa a chorar desesperadamente, é a prova cabal disso tudo, dele finalmente percebendo que teve diversas experiências da sua vida roubadas por aquela mulher.
Vi um reboliço muito grande na internet por esse filme ter sido indicado na categoria de melhor comédia ou musical do Globo de Ouro, mas eu não achei isso um absurdo não, por incrível que pareça dessa vez não, o roteiro é muito debochado, muito irônico, e você percebe na trilha sonora, pelo jogo de câmeras, pelas imagens, a forma como Todd Haynes apresenta essa história, em momento algum ele glorifica o caso, ele utiliza de técnicas de direção para reforçar o absurdo daquela situação.
O trio principal está excelente, Natalie Portman e Julianne Moore são atrizes absurdas, então não esperava menos do que a excelência das duas, mais quem me surpreendeu mesmo foi o Charles Melton, o rapaz que vem da execrável e recém finalizada Riverdale (2017-2023), se destaca com um personagem complexo e totalmente reprimido, muito da interpretação dele está no gestual, porque ele não tem fortes cenas de diálogo, é tudo pelo olhar, e o homem arrebentou, provou que ator da CW também pode atuar.
May December é um filme que desperta muitas sensações no público, sensações revoltantes, de pura indignação, mas também nos leva a refletir, pessoas com cara de boazinhas muitas vezes podem ser terríveis predadores e precisamos ficar atentos a esse padrão de comportamento. A única observação negativa tenho a fazer, é que ali depois da primeira hora, temos uma espécie de “barriga” no roteiro, talvez uma redução de cenas deixaria o resultado final um pouquinho mais dinâmico nesse pedaço da história, mas fora isso, temos um roteiro caprichado que utiliza muito bem de metáforas, e a direção que é excelente. Apesar de não ser o meu favorito da temporada, esse é sem sombra de dúvidas um dos melhores concorrentes entre os que já assisti até agora.
PAST LIVES Direção: Celine Song Ano: 2023 Assistido em: 16/12/2023
Tem filmes que só pela sinopse você já sabe que não é para você, eu geralmente passo longe deles, mas infelizmente tem aqueles que se destacam principalmente agora na temporada de prêmios, e decido pagar para ver, e é infalível, sempre quebro a cara, ou melhor, sempre estou certo, porque só de ler duas ou três linhas já sei que não vou gostar, e é tiro e queda. Past Lives foi um dos títulos mais elogiados da temporada, não sei quantos vídeos do YouTube que assisti, rasgaram elogios à produção, mas foi só os primeiros minutos começarem para que tivesse a confirmação do que já esperava: não ia gostar nem um pouco disso.
Dois amigos de infância são separados pelas circunstâncias da vida. Muitos anos depois eles se reencontram pela internet e acabam se reaproximando, entretanto reatar velhos relacionamentos não é tão simples quanto eles imaginavam, e logo percebem que moldar suas novas situações a uma amizade de mais de 20 anos, não será nada fácil.
Olha, sendo bastante honesto, não entendo esses filminhos espirituosos que tentam discutir relações humanas, e blá blá blá, isso não é para mim, até tentei, juro, mas não consegui achar nada que me conectasse a esses dois protagonistas, ambos são dois chatos de galocha, e não há nada na história desse filme que desperte meu interesse, não há nada minimamente curioso, os personagens se reencontravam e eu só queria que tudo acabasse, e quando olhava no contador, 1h40min se transformaram em 6h.
Li uma vez um escritor dizendo que o que ele mais ouvia eram pessoas querendo contar seus relatos pessoais dizendo que dariam uma boa história, e quando ele escutava, eram histórias chatíssimas que não dava nem um panfleto, e procurando algumas informações sobre esse roteiro na internet, descobri que ele é parcialmente inspirado em algumas experiências de sua diretora Celine Song, e é aquele negócio, às vezes a pessoa acha que sua história pode ser interessante, e de fato até pode ser para alguém além dela mesma, mas particularmente achei que isso aqui ficaria melhor como curta do que como um longa metragem.
Amo o cinema sul coreano, todos os anos eles produzem alguns filmes que dão de 10, 20, 30 no cinema de Hollywood, só que é extremamente irritante ver que eles quase nunca tem o reconhecimento merecido, e quando decidem aclamar uma produção "coreana” ele é falsificada, já que o que temos aqui é uma produção americana, tanto que ele está sendo indicado como representante dos Estados Unidos há inúmeras premiações de filme internacional, pelo amor de Deus, com tanta coisa melhor que poderia ser escolhida, dão destaque para uma verdadeira água de salsicha. Para não dizer que absolutamente nada me agradou, a fotografia é muito boa e as atuações são competentes, mas fora isso, já estava deletando Past Lives da minha cabeça antes mesmo dos créditos começarem. Do que já assisti até agora na temporada de prêmios, essa é de longe, a mais fraca.
THE HOLDOVERS Direção: Alexander Payne Ano: 2023 Assistido em: 16/12/2023
Nunca fui o cara dos filmes de Natal, desde muito novo eu sempre curti histórias mais mais pesadas, muitas até inapropriadas para minha infância, tanto que das sessões da Globo, a minha favorita sempre foi o Supercine, filmes natalinos geralmente é um só, e na véspera, depois é vida que segue. Como este ano temos um produto do gênero indicado aos principais prêmios da temporada, fui "obrigado a me render”, e cá estou para acompanhar mais uma história de redenção situada no mês de dezembro.
Durante as férias natalinas do ano de 1970, um rabugento professor de história se vê obrigado a ficar na instituição onde trabalha para cuidar de alguns alunos que não poderiam voltar para suas casas. Ele não gosta dos estudantes, e os estudantes o detestam ainda mais, o que obviamente seria a receita perfeita para o desastre, será responsável por uma grande mudança na vida do professor Paul e de Angus, um dos alunos mais problemáticos da instituição.
Nunca assisti nenhum filme do Alexander Payne, as sinopses dele não não fazem a minha praia, e como já disse só estou aqui apenas por conta das premiações, mas até que me surpreendi, The Holdovers é uma história muito leve, traz uma mensagem interessante de que as pessoas podem melhorar com a convivência, que podemos mudar a nossa opinião, que podemos crescer, é um comfort movie daqueles indicados para pessoas que estão na fossa, que estão de baixo astral, daqueles que vão te levar para um novo estado emocional, só que o problema é que cinematograficamente falando ele não traz nada de novo.
A história do aluno que muda devido ao professor, e o professor que muda pelo aluno e blá blá blá, isso aí já foi visto inúmeras vezes, em incontáveis histórias, é claro que a ambientação dos anos 70 traz um diferencial, e o fato das filmagens serem todas em locações reais e praticamente não existir estúdio é bem perceptível. As brilhantes atuações de Paul Giamatti e Da’Vine Joy Randolph enriquecem muito a obra, mas o roteiro é muito simples, obviamente isso não é nenhum crime, nenhum demérito, mas eu esperava mais de um roteiro tão elogiado pelas grandes premiações. Para dizer a verdade, a história caiu um pouquinho no meu conceito quando se livrou dos outros quatro alunos e passou a focar em apenas um deles. Caso a dinâmica fosse entre o professor e todos eles, o resultado final seria melhor.
Simplicidade não é defeito, mas o problema é que escutei/li tantos elogios sobre The Holdovers, que cheguei aqui esperando que ele fosse O FILME, o diferentão da temporada, e não foi isso que aconteceu, ele se alonga demais, é uma comédia dramática bem competente, mas não é daquele que surpreendem, ou que será eternamente lembrado, é uma diversão momentânea, que vai ser rapidamente esquecida daqui um tempinho ou seja, só mais um na multidão.
THE ROCKETEER Direção: Joe Johnston Ano: 1991 Assistido em: 03/12/2023
Começando logo por um mea culpa, nunca fui o cara das histórias em quadrinhos americanas, sempre gostei dos heróis da Marvel e da DC, mas nunca fui leitor, e quando se trata de graffic novels de outras editoras, aí que o negócio fica pior. Minha verdadeira paixão sempre foram os mangás, portanto muitas histórias clássicas só conheci depois que foram adaptadas para o cinema, e com The Rocketeer foi a mesma coisa, entretanto o diferencial desse aqui, e que ele veio uns 20 anos antes da aurora da era dos super-herói.
Em 1938 estamos às vésperas da Segunda Guerra Mundial, e somos apresentados a Cliff Secord, um jovem que sonha em desenvolver um avião próprio e se tornar um grande piloto. Entretanto, após um jack pack de última geração desenvolvido pelo grande Howard Hughes, acidentalmente cair em suas mãos, ele se torna alvo de um perigoso espião Nazista, que quer a todo custo essa nova tecnologia para que possa torná-la a principal arma da grande invasão nazi. Caberá a Cliff usar esse objeto para ganhar os céus e se tornar um herói bem diferente daqueles que estamos acostumados.
Em 1991 a franquia Superman já estava mais afundada que o Titanic, e o Batman se preparava para o lançamento de seu segundo título ainda, Batman Returns (1992), do outro lado a pobre da Marvel rastejava com produções de terceira, filmes de herói estavam longe de ser os maiorais das bilheterias. Foi nesse cenário que a Disney e Joe Johnston chegaram com uma proposta bastante interessante, uma produção diferente para o que era produzido na época, e mais diferente ainda do que é produzido hoje em dia. Temos um trabalho bastante caprichado, os figurinos, os cenários, as maquiagens, tudo é muito bem feito, é claro que os efeitos especiais estão datados, já que estamos falando de uma produção de médio orçamento de três décadas atrás, mas que para época funcionava muito bem, e que inclusive envelheceram melhor do que muita coisa que é que foi feita tempos depois.
É muito interessante ver como Johnston trabalha, haja vista que no futuro ele seria o diretor de Captain America: The First Avenger (2011) uma história situada no mesmo período histórico e também sobre um super-herói, mas que foi produzido em condições completamente diferentes de The Rocketeer. O casal Billy Campbell e Jennifer Connelly, no auge de suas belezas, vivem protagonistas bem simpáticos e temos também Timothy Dalton recém saindo de James Bond, interpretando de uma forma bastante canastra um ator de sucesso da década de 1920, ninguém está impecável, mas todos estão na medida para os seus personagens.
O ponto fraco do filme está na sua história extremamente simples, sem nenhuma reviravolta, sem nenhuma surpresa, não que seja algo ruim, mas seria interessante um roteiro que surpreendesse um pouco, tudo vai do ponto A para o B em linha reta, sem nenhum uma curvinha, e narrativamente falando isso é desmotivante. Vi muita gente falando que é um legítimo “Sessão da Tarde”, mas existia nessa sessão muitos títulos que se arriscavam, e The Rocketeer não faz isso, ele só aposta no seguro, e é tudo tão linear que chega ser previsível.
Fora da curva para os padrões dos filmes de super-herói atuais, talvez The Rocketeer possa não chamar a atenção do público que está acostumado com obras inteiramente feitas em tela verde, com batalhas grandiosas em seus terceiros atos, e o malfadado raio azul, mas é uma boa pedida para quem quer algo um pouco diferente, seja na ambientação histórica, seja no tipo de produção ou seja pela forma de interpretação de uma Hollywood que hoje em dia nem existe mais.
A BEAUTIFUL LIFE Direção: Mehdi Avaz Ano: 2023 Assistido em: 10/12/2023
Confesso que não tenho preconceitos contra gênero cinematográficos, tenho meus preferidos, e tem aqueles que evito, mas ainda, procuro dar algumas chances, mesmo que raramente. Mas se tem uma coisa que admito não ser nada chegado, são os filmes de TV, hoje em dia mais conhecidos como filmes de streaming, é claro que existem aqueles que furam a bolha, Martin Scorsese e David Fincher estão aí produzindo para Netflix, Apple TV, e por aí vai, mas no geral torço sim o nariz para produções dessas empresas, e só cheguei até aqui apenas devido a algumas críticas elogiosas para A Beautiful Life, e decidi dar uma chance, e mesmo a trama não apresentando nenhuma novidade, se tratando de algo vindo da vermelhinha, até que me surpreendi.
Elliot leva uma vida muito simples como pescador, e músico nas horas vagas. Durante uma apresentação de seu amigo, ele é encontrado por uma dona de produtora que decide transformá-lo na nova sensação dinamarquesa. Quem fica responsável pela missão é Lilly a filha da dona, que nunca demonstrou muito interesse em nada, e tudo ficou pior após a morte de seu pai. Entretanto Lilly terá dificuldades, já que Elliot não está muito feliz com o fato da fama vir acompanhada com uma mudança radical de seu estilo de vida.
A Beautiful Life segue praticamente a cartilha americana, temos o talento que é descoberto, temos os perrengues que terão que ser superados ao longo do caminho, temos um casal que vai nascer de um relacionamento improvável, enfim não espere por novidades, porque aqui não tem nada disso, existem dois momentos que me pegaram de surpresa, mas são muito breves, nada que mude o panorama geral da produção, que é uma aposta no seguro e no garantido, é o mais do mesmo de sempre só que dessa vez falado em dinamarquês e não em inglês.
O grande trunfo está na figura de seu protagonista Elliot, ou melhor do Christopher, não conhecia o rapaz, mas fiquei encantado com poder vocal dele, é um excelente cantor, teve algumas músicas mais fraquinhas, mas gostei praticamente de todas, e já estou indo atrás dele no Spotify para poder conhecer o restante de suas canções, e é claro que o fato dele ser um gato loiro de olhos azuis todo tatuado ajudou muito, que homem lindo, foi uma pena que ele não teve química nenhuma com a sua colega de elenco, porque se tivesse teríamos um filme bem melhor.
A Beautiful Life é correto, peca por uma falta de ousadia, por um casal protagonista sem graça pelo lado da moça que é um picolé de chuchu, mas é bem feitinho, aposta no certeiro, tem uma trilha sonora ótima que ajuda a embalar o público, enfim é aquele filme indicado para um dia que você só quer se distrair um pouquinho, que está de bom humor, e quer dar um up no astral. Mesmo sendo uma pessoa contra filmes de streaming e que abertamente considera a esmagadora maioria deles arte inferior, devo admitir que esse aqui até conseguiu me conquistar.
CAPOTE Direção Bennette Miller Ano: 2005 Assistido em: 09/12/2023
Até semana passada, Truman Capote para mim era apenas mais um escritor americano, tudo que sabia que ele tinha feito era o livro Breakfast at Tiffany's (1958). Eu até já tinha ouvido falar a respeito de In Cold Blood (1967) nas minhas pesquisas, mas não fazia a menor ideia de que se tratava de uma história real, escrita pelo Capote e que existia toda uma trama sombria por trás da mesma. Só fui tomar conhecimento de todo esse imbróglio na semana passada e imediatamente fui conferir o longa do Richard Brooks e logo em seguida atrás desse aqui, que funciona como paralelo ao original.
Em 1959 a família Clutter é brutalmente assassinada, o caso logo toma as manchetes dos Estados Unidos e desperta o interesse de Truman Capote. O escritor viaja para a pequena Holcomb, no Kansas, com o intuito de escrever sobre o caso. Entretanto, o que ele não poderia imaginar é que ao conhecer os responsáveis pelo crime, mergulharia profundamente na mente dos assassinos. À medida que Truman vai escrevendo o seu livro, ele se envolve cada vez mais com Perry Smith, ao ponto de misturar o seu interesse profissional com interesse pessoal.
Uma das frases mais famosas do Friedrich Nietzsche diz que: “quando você olha muito tempo para o abismo, o abismo olha de volta para você”, e acredito que o Capote é uma prova viva desta afirmação. Em seu afã de criar uma história diferente de tudo aquilo que era escrito até então, ele acabou mergulhando demais nas profundezas da mente perturbada de Dick e principalmente de Perry, o roteirista se encantou por aqueles assassinos, muitos dizem que ele até se apaixonou por Perry, não sei a veracidade disso, afinal ele não assume isso em nenhum momento do filme, mas é inegável que a sedução e manipulação do Perry o enredou. É claro que Capote também se favoreceu, e soube usar muito bem os criminosos, mas é inegável que Truman foi hipnotizado por aqueles dois, tal qual a sociedade, que constantemente fica fascinada por criminosos, exemplos existem aos montes.
O falecido Philips Seymour Hoffman era um ator brilhante, e temos aqui aquele que provavelmente é um dos seus maiores, senão o seu maior papel, eu nunca cheguei a pesquisar nada sobre o Capote verdadeiro, mas a interpretação de Hoffmann é absurda, os trejeitos, os maneirismos, a forma de falar, você esquece o ator, ele conseguiu se anular por completo, basta ver a voz 100% diferente da voz real dele, sem sombra de dúvidas um Oscar merecidíssimo.
Bennette Miller nos entrega um filme que trata de um assunto tão pesado mas de uma maneira extremamente leve, a única coisa que me deixou um pouquinho com pé atrás é que a vida pessoal do Truman sequer foi citada, sabemos que ele era assumidamente homossexual, que era casado, e que isso naquela época, anos 1950/1960, era um problema, mas Miller perde a oportunidade de tratar esse assunto. Sei que na segunda metade dos anos 2000, os grandes estúdios pelo menos, não eram muito adeptos a esse tipo de discussão, mas basta lembrar que o próprio Capote disputou o Oscar de melhor filme com Brokeback Mountain (2005).
Capote é uma cinebiografia de recorte muito específico, nós não vamos ver a infância, não vamos ver a morte do biografado, apenas um período de sua vida, mas não é qualquer período, vemos a criação da magnus opus do escritor, mas também nos mostra o impacto que toda a história teve na vida dele, pelo resto dos seus dias, o autor nunca mais concluiu nenhum outro livro, e levando em consideração todo “o processo de criação”, acho que isso é mais do que justificável.
Evereste
3.3 550 Assista AgoraEVEREST
Direção: Baltasar Kormákur
Ano:2015
Assistido em: 14/01/2024
Honestamente eu não entendo algumas taras que o ser humano tem, consigo entender o fascínio que o Everest exerce sobre as pessoas, afinal de contas estamos falando do ponto mais alto presente na Terra, à vista lá de cima com absoluta certeza é diferenciada, mas o que eu não consigo entender é essa vontade de se colocar em perigo. Existem alguns lugares no nosso planeta que não foram feitos para ter vida, nem animal nem vegetal, então não me entra na cabeça essa inexplicável atração por explorar certos locais, onde as condições naturais são extremas.
Em maio de 1996 somos apresentados a Rob Hall, um alpinista de grande renome que já subiu algumas das maiores montanhas do planeta, incluindo a maior, o Monte Everest. Ele está diante do que seria aparentemente mais uma subida, difícil, mas comum, entretanto quando Rob e Scott (que lidera uma outra expedição) acreditam que não teriam nenhum problema, eles vão descobrir da pior maneira possível que se algo não dá errado na ida, pode dar muito errado na volta.
Confesso que estava com esse filme há muitos anos na minha lista de pendências, mas que foi o lançamento de La Sociedad de la Nieve (2023), que fez com que eu furasse a fila de projetos e desse prioridade a Everest. E foi impossível não comparar os dois eventos, já que ambos retratam uma tragédia real ocorrida em uma montanha, onde vemos pessoas sucumbirem à força incontrolável da mãe natureza. Mas o paralelo mais interessante entre as duas histórias, é que enquanto os uruguaios de 1972 não tiveram “escolha” de ir parar nos Andes, todas as vítimas desse acidente de 1996 escolheram estar ali, não estou dizendo que eles foram os responsáveis de alguma forma pelo ocorrido, não é isso, somente me impressiona que quando falamos de algo tão arriscado quanto a subida ao Everest, as pessoas têm total ciência de que algo pode sair a seu controle, que algo pode dar terrivelmente errado, e ainda assim elas decidem ir em frente, só que lá em 1996 tudo que tinha pra dar errado, infelizmente deu.
Everest tem muito valor de produção, obviamente ele é praticamente todo feito em CGI, e apesar de algumas cenas deixarem isso bem visível, em quase que sua totalidade, o longa conseguiu ser bem realista. O elenco também é assombroso, Baltasar Kormákur conseguiu reunir uma equipe de primeira o único problema é que ter tantos atores talentosos com tantos personagens que necessitam de destaque, fez com que ninguém brilhasse como poderia/deveria, e esse é o principal problema do filme, não adianta nada ter nomes como Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Robin Wright, Keira Knightley, Martin Henderson e Emily Watson e não saber usá-los direito.
Everest traz uma sensação comum aos filmes de desastre, aquela que você sabe que algo vai dar errado a qualquer momento, particularmente eu sabia que houve algo que matou oito pessoas no Everest em 1996, mas eu não sabia o que era, e nem como tudo ocorreu, logo foi uma grande surpresa para mim a revelação do ocorrido, e quando as coisas começaram a sair do prumo.
No final a lição que fica (novamente) é de que o ser humano não é nada contra a natureza e que não vale a pena arriscar por mais que a recompensa de estar lá em cima deve ser algo único no mundo, o risco ao qual você se expõe é muito grande, basta ver a quantidade corpos que ficaram pelo caminho, inclusive dos membros desta expedição de 1996.
Peter Pan
3.2 559 Assista AgoraPAN
Direção: Joe Wright
Ano: 2015
Assistido em: 14/01/2024
Peter Pan é um clássico criado por J. M. Barrie que já teve incontáveis adaptações na história desde os anos 1900. É impossível calcular quantas vezes essa história já ganhou os palcos e as telas nos 120 anos de sua existência, mas uma coisa é inegável: para cada geração, há um filme do Pan que foi influenciado pelo momento histórico no qual foi produzido. Durante as décadas de 2000 e 2010 vimos uma infestação dos chamados “filmes de origem”, e com Peter não seria diferente, ele também ganhou um longa contando seu começo de carreira, e como ele chega ao ponto que todos conhecemos.
Na Londres da Segunda Guerra Mundial somos apresentados ao jovem Peter que cresce em um orfanato repleto de meninos, e onde além dos horrores da Guerra, ele enfrenta constantemente a total falta de carinho, afeto e atenção por parte das freiras que cuidam dele. Certo dia Peter é sequestrado por um navio voador e vai parar na chamada Terra do Nunca, que vem sendo assolada pelo terrível Barba Negra, lá Peter descobre que é peça
fundamental para livrar o lugar dessa figura tão cruel, e mudar para sempre a vida de todos na Terra do Nunca.
Sendo honesto, não sei nem por onde começar a falar sobre esse filme, ele é tão insosso que me deixou sem palavras. Temos aqui a epítome de como deixar uma história desinteressante, pedante e genérica. Pan é retratado como o chose one, aquele que está destinado a salvar a Terra do Nunca, aquele herói clássico que não tem como fugir de sua missão sagrada e blá blá blá, algo que já estamos enjoados de assistir, sendo que a história do Peter é muito simples, ele é um garoto sem figura paterna, que recusa-se a crescer, não precisava de tanto floreio, de batalha, nada dessa bobajada toda, e o um único ponto que eu achei que seria interessante, que era ver o Gancho como aliado do Peter, nem chega a ser desenvolvido pelo roteiro, se você espera que o roteiro iria explorar o que leva os dois a se tornarem grandes inimigos, pode ir esquecendo, nada é mostrado aqui, todo foco fica no personagem horrendo de Hugh Jackman.
A trilha sonora é fraca, o CGI é pavoroso de ruim, os atores estão sem vontade, e olha que temos até nomes talentosos no cast, e o próprio Joe Wright parece que nem chegou a tentar criar algo interessante, simplesmente ligou o piloto automático e o foda-se e foi embora, entregou um pastiche de tudo que a gente já viu em outros filmes e em outras franquias.
Se Pan era uma tentativa da Warner Bros de recriar o fenômeno que foi Harry Potter (2001-2011) em pleno ano de 2015, eles quebraram a cara, e não tinha como ser diferente. Faltou cuidado, faltou vida, faltou alma, faltou tudo. Isso aqui é aquele tipo de filme que você assiste num domingo enquanto está jogado no sofá, justamente para tirar um cochilo, já que pouco ou quase nada pode ser salvo. Enfim, é só mais uma das muitas adaptações do personagem que foi rapidamente esquecida enquanto a próxima não apareceu.
Politécnica
4.0 197POLYTECHNIQUE
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2009
Assistido em: 13/01/2024
Nos últimos anos produções de true crime cresceram muito no meio do cinema e da TV, não estou dizendo que o gênero surgiu por agora, mas é inegável que houve um grande crescimento de tudo relacionado a ele, e devo admitir que sou consumidor assíduo, principalmente de podcasts. Nesse contexto acabei por descobrir que o Denis Villeneuve, um dos diretores que mais passei a admirar nos últimos anos, tinha um filme que retrata um acontecimento sombrio da história do Canadá, o Massacre da Escola Politécnica de Montreal, ocorrido em 1989, então logo que descobri o ocorrido e sobre o filme, lá fui eu conferir.
No dia 6 de dezembro de 1989 um rapaz escreve um bilhete de despedida para sua mãe. Em seguida ele invade a Escola Politécnica de Montreal armado com um rifle semi-automático e começa um verdadeiro massacre. Entretanto, ele não matava aleatoriamente, ele tinha um objetivo bem específico: mulheres! Já que o mesmo se considerava um combatente ao movimento feminista.
Logo na primeira cena temos um letreiro informando que todos os personagens que aparecem em tela eram fictícios, por respeito às vítimas. Mas se quisessem mesmo respeitar suas memórias, por que não contaram suas histórias?! Ou então deixassem essa história quieta e não fizessem nada com ela, mas a partir do momento que você se propõe a contar um episódio tão pesado quanto o de um massacre, acredito que os roteiristas tinham a obrigação de dar voz às vítimas, de mostrar que aquelas mulheres tinham uma história, que elas tinham sonhos, que elas não foram apenas cordeiros sacrificados em um abate. Eu compreendo totalmente não querer difundir a ideologia do assassino, aí tudo bem, mas o mais estranho nesse filme é que Villeneuve mostra mais sobre o criminoso do que sobre suas vítimas.
Polytechnique é estranho, não é ruim, longe disso, mas ele é bem incomum, não só pelo fato de não trabalhar os personagens,não dar nenhum pano de fundo para eles, como pela sua estrutura. Curiosamente assim que o filme começou me lembrou mais os trabalhos do Christopher Nolan do que os outros títulos do Villeneuve, quem é fã do Nolan consegue encontrar facilmente elementos que se enquadram na filmografia dele, como a narrativa não linear e a fotografia em preto e branco sendo os maiores exemplos. Mas apesar de não lembrar nada dos demais trabalhos do Denis Villeneuve, ainda assim é possível encontrar o capricho habitual que ele coloca em suas histórias
Em linhas gerais Polytechnique é bom, mas poderia ser ótimo, quiçá excelente, a duração reduzida limita demais a história, que ficou concentrada apenas ao massacre, ao crime, ninguém ali tem uma vida pré acontecimento, existem sequências que retratam futuro de dois dos sobreviventes, mas é tudo muito rápido e superficial. Seria muito mais interessante caso ele se dedicasse a fazer todo um processo de construção daquelas figuras antes de nos entregar a carnificina, a forma como o filme foi entregue é basicamente a matança pela matança, sem conteúdo, sem sustância, o que infelizmente prejudica o resultado final.
PS: Sério, não tem como defender aquele idiota do Jean-François zanzando pelos corredores da escola ao invés de fugir, ligar para a polícia, para o socorro, ou qualquer coisa do tipo. Ele desfilando no meio do tiroteio, não tem como defender.
A Sociedade da Neve
4.2 720 Assista AgoraLA SOCIEDAD DE LA NIEVE
Direção: J. A. Bayona
Ano: 2023
Assistido em: 07/01/2024
A história do Voo da Força Aérea Uruguaia 571 é extremamente famosa, particularmente não me recordo quando tomei conhecimento do caso, só sei que já faz muitos anos que ouvi sobre ele pela primeira vez, e é simplesmente impossível não ficar extremamente impressionado com todo esse caso. Sei que existem outras adaptações cinematográficas sendo a mais famosa Alive (1993), do Frank Marshall, porém eu nunca tive oportunidade de assistir essas outras versões, sendo a de 2023 a primeira que consegui ter contato.
Em 13 de outubro de 1972, uma equipe de rugby uruguaia está de viagem marcada para o Chile, o grupo cuja faixa etária é muito jovem, é composto quase que inteiramente por amigos, por pessoas que se conhecem há muitos anos, e alguns até mesmo são familiares. Entretanto, o que eles não poderiam imaginar é que a simples viagem entre Montevidéu e Santiago, terminaria quando um gravíssimo acidente ocorreria enquanto eles sobrevoavam os Andes. Os sobreviventes são constantemente postos à prova em um ambiente completamente inóspito, onde não existe nenhum rastro de vida, seja ela animal ou vegetal.
J. A. Bayona nos entrega um filme bastante cru, ele tenta dar um rosto, uma perspectiva para todas as 45 pessoas que estavam a bordo daquele avião, nós temos todos os nomes e idades dos mortos na tela, ele se preocupa em nos mostrar o máximo daquelas pessoas, nos mostrando que elas tinham uma história, que elas não eram apenas vítimas daquela tragédia. A narração do Numa ajuda a deixar o público mais próximo daquela situação, por mais inimaginável que seja nos colocarmos no lugar deles.
Entre os muitos acidentes de avião que já presenciei em filmes, o de La Sociedad de la Nieve provavelmente é um dos mais impressionantes se não for o mais impressionante, nunca sofri um acidente de avião, para dizer a verdade nunca nem entrei em um, e espero que o dia que entrar, ocorra tudo bem, mas Bayona conseguiu tornar bastante realista o desastre do voo 571, foi de prender a respiração quando o avião parte ao meio, e outro ponto que o diretor acertou em cheio, foi nos convencer de que aquelas pessoas estavam em um ambiente terrível, deu para sentir o sofrimento delas, seja pelos ferimentos do acidente, seja pela escassez de alimentos, seja pelo frio extremo, ou pela terrível decisão que ele tiveram que tomar, a direção conseguiu, com a ajuda do excelente elenco obviamente, nos fazer mergulhar no pesadelo branco que aquelas pessoas viveram por quase três meses. É preciso ressaltar que mesmo diante do horror é possível encontrar beleza, sei que a situação daquelas pessoas era de morte certa, mas é inegável a beleza das montanhas congeladas, ou do céu coalhado de estrelas, mesmo que obviamente o que vemos no filme é apenas CGI
O acidente do Voo 571 é interpretado de duas maneiras, sob duas perspectivas completamente diferentes, enquanto muitos enxergam como uma grande desgraça, outros preferem se atentar ao “milagre” de 16 pessoas terem sobrevivido àquela situação, mas independente disso, La Sociedad de la Nieve é um filme muito triste, pois ele esfrega na nossa cara que nós seres humanos não somos absolutamente nada diante do poder da natureza, o quanto nós somos frágeis, o quanto nós somos simples, insignificantes diante da força daquela cordilheira, mas por outro lado ele também reforça que na hora do desespero, nas horas mais extremas, o ser humano consegue realizar atos em prol da coletividade, prova por A mais B que se aquelas pessoas não tivessem se unido, trabalhando juntas, tomado uma decisão cruelmente necessária, não haveria nenhum sobrevivente. Sou daqueles que não acredita em milagre, nessa história eu prefiro acreditar que o desejo de sobrevivência, a coletividade, e o fato do ser humano trabalhar como uma sociedade foram os principais fatores que intervieram para um desfecho não tão horrível quanto o que tudo indicava que seria.
PS: Infelizmente eu sei que esse filme não tem muitas chances de vitória nas premiações, mas é de muito longe o meu favorito para filme estrangeiro em todas os prêmios que ele disputar
Thriller 40
4.2 22 Assista AgoraTHRILLER 40
Direção: Nelson George
Ano: 2023
Assistido em: 07/01/2024
Existem pessoas que são tão boas naquilo que fazem que elas simplesmente mudam a história de algo completamente. Podemos dividir o mundo antes e depois de vários líderes políticos, de vários cientistas, de vários inventores, e no campo das artes o antes e depois de vários atores, roteiristas e diretores, e quando falamos de música é inegável que Michael Jackson é um desses divisores modernos, ele pode não ter criado a música pop, mas sem sombra de dúvida a mudou e a moldou para a forma que conhecemos hoje em dia.
Michael Jackson sempre foi um prodígio, sempre foi ele que levou os Jackson Five nas costas, isso é inegável. Quando ele começou a focar na sua carreira adulta no finalzinho dos anos 70 com o aclamadíssimo Off the Wall, Michael sentiu na pele muito preconceito. Foi muito difícil colocar suas músicas nas rádios porque existiam rádios de brancos e rádios de negros, então o sucesso de foi limitado, ele não teve o alcance que poderia ter, e logo não atingiu todo o seu potencial, portanto quando Michael se propoz a fazer o maior album da história ele tinha muito mais barreiras para quebrar do que qualquer outro artista, mais do que o Elvis Presley ou que os The Beatles, mas Jackson derrubou cada uma dessas barreiras, tijolo por tijolo.
Thriller é um daqueles raríssimos casos onde praticamente todas as músicas fizeram sucesso, todo fã do Michael Jackson conhece essa seleção de trás para frente, admito que não é meu álbum favorito dele, (ainda gosto mais da sonoridade de Dangerous e de Bad), mas é inegável a qualidade técnica, é inegável o poder do alcance dessas músicas, a trinca Billie Jean, Beat It e Thriller, são provavelmente as músicas mais famosas do Michael, são as músicas que melhor resistiram ao tempo e que passaram o legado dele adiante.
O grande problema desse documentário para mim é que ele foca mais no impacto do álbum do que na sua confecção, eu queria ter visto mais do processo criativo do Michael, queria ter visto a fonte de inspiração das músicas, queria ter ouvido pessoas que participaram do processo de gravação, conhecer todo o backstory, ESCUTAR UM DEPOIMENTO DO QUINCY JONES! Que é ao lado do MJ foi o maior responsável por essa obra-prima, e que sequer foi entrevistado, e outra, cadê o Paul McCartney?! Enfim, eu queria todos os detalhes possíveis, ouvir quem estava lá, e não apenas quem veio depois.
Apesar de ter uma qualidade muito grande e de trazer informações relevantes, e até mesmo algumas curiosidades desconhecidas, faltou o principal: Michael Jackson. Com absoluta certeza devem existir vídeos dele abordando o processo de criação de Thriller, alguma entrevista ou depoimento, sei lá, qualquer coisa que colocasse o MJ na tela por mais tempo já que infelizmente ele já faleceu. Thriller é provavelmente o mais importante álbum da carreira de Michael e um dos mais importantes da história da música como um todo, portanto ele merecia ser destrinchado de todas as formas e de todos os aspectos, de sua concepção, passando pela forma como trucidou o preconceito, seu legado, e até a hora que ele tornou a promessa Michael Jackson em sua majestade, O REI DO POP.
Ladrões
3.3 380 Assista AgoraTAKERS
Direção: John Luessenhop
Ano: 2010
Assistido em: 06/01/2024
Nem só de clássicos vive um cinéfilo, escutei essa frase em algum lugar não sei onde, e de lá para cá, ano após ano, vou percebendo que isso é a mais pura verdade, para reconhecer os filmes bons precisamos ter experimentado os ruins também. Quando vi o elenco dessa produção, fiquei bastante animado, e mesmo que a história não tenha me encantado, decidi dar uma chance, só que não podia imaginar que seria algo tão patético.
Dois detetives estão à caça de um super grupo de ladrões que obteve êxito em todos os seus planos. Quando um antigo membro da equipe sai da cadeia, ele oferece um último trabalho para seus amigos. O problema é que tal empreitada vai colocar o grupo em linha de choque com as forças policiais, e também com perigosos membros da máfia russa, criando um verdadeiro caos.
Uma das coisas que mais me irrita, é ver que algumas pessoas defendem a ideia de que filmes de ação não precisam ter uma boa história, que não precisam ter bons personagens, com um bom desenvolvimento. Mas se a história não for boa, se os personagens não forem interessantes, não tem como o resultado final ser bom, tiro, pancadaria e explosões são legais, só que eles devem ser usados como adornos de algo maior e não o elemento principal. O que temos aqui é um bom exemplo disso, temos um elenco estelar, desperdiçado numa história medíocre, esquecível e com personagem sem um pingo de desenvolvimento, é como se tivessem aprovado o longa apenas pelo cast, sem nem ao menos ter uma ideia de roteiro.
Não conhecia o trabalho de John Luessenhop, e após esse desastre, fui dar uma olhadinha no perfil desse cidadão no IMDb, e descobri que ele fez apenas três filmes em 24 anos, e honestamente, por mim teria feito até menos. O sujeito não consegue manter a câmera parada, é um trimilique que não consigo entender, existe uma quantidade excessiva de cortes, uma simples cena de diálogo tem dezenas de cortes, ele só usa enquadramentos fechados, não tem um único plano aberto, você não entende as cenas de ação, você não entende o que tá acontecendo com o espaço, resumindo: é uma aula de como não se dirigir um filme, chega dar tristeza.
Além do saudoso Paul Walker, ainda temos Idris Elba, Matt Dillon, Jay Hernandez, Hayden Christensen, e Michael Ealy, atores que, com a direção certa e adequada, conseguem entregar alguma coisa. Mas queria saber quem foi que iludiu o Chris Brown dizendo ele é um ator, já não basta ser péssimo cantor, tem que ser ruim como ator também?!
Takers é um desperdício de potencial absurdo, fico imaginando se nas mãos de um bom roteirista, de um bom diretor, essa história poderia ter rendido uma boa produção de ação, mas o que é entregue é simplesmente pavoroso, como diz a Isabela Boscov, a única explicação que encontro para um elenco tão famoso, aceitar participar de uma desgraça dessas, só pode ser dívida de jogo.
V de Vingança
4.3 3,0K Assista AgoraV FOR VENDETTA
Direção: James McTeigue
Ano: 2005
Assistido em: 06/01/2024
Durante muitos anos escutei falar sobre a obra V de Vingança do Alan Moore, é de como era uma graphic novel espetacular, e que o filme era uma boa adaptação e blá blá blá. Entretanto nunca tive vontade de assistir apesar de gostar muito de assuntos como ditaduras, combate ao fascismo, distopias e etc, mas essa produção em especial nunca me chamou atenção, e o principal motivos é o fato do roteiro ser das Wachowski, que depois de The Matrix (1999) nunca mais fizeram nada verdadeiramente bom, mais ou menos sim, mas bom mesmo?! Nunca! E para completar a situação, a direção ficou a cargo de James McTeigue que é cria das irmãs, e um diretor sofrível, mas decidi dar a cara a tapa mesmo assim e me surpreendi, modestamente.
Em um futuro próximo, o Reino Unido elegeu Adam Sutler como novo chanceler, só que ele se revela um ditador que mergulha o país em um regime fascista extremamente repressivo e autoritário. Nesse cenário somos apresentados a V, um homem que esconde sua verdadeira identidade atrás de uma máscara de Guy Fawkes. Ele está decidido a derrubar o regime de Sutler e para isso, arquiteta um mirabolante plano que envolve toda a população do Reino Unido. Entretanto, seus planos mudam quando ele salva a jovem Every Hammond dos homens de Sutler.
Como bem disse o dramaturgo alemão Bertold Brecht: “a cadela do fascismo está sempre no cio”, e parece que essa frase nunca esteve tão correta quanto está agora, já que estamos passando por um momento em que governos da extrema direita estão assumindo poderes em diversos países, ou propagando seus ideais de ódio com muito mais força do que faziam a até poucos anos atrás. Sei que a obra original do Alan Moore saiu no finalzinho dos anos 1980, enquanto o filme por sua vez foi lançado há quase duas décadas, mas creio que V for Vendetta funcione muito melhor agora do que funcionava em 2005, já que estamos presenciando um momento que condiz muito mais com a história apresentada do que o contexto na qual ela foi escrita e posteriormente adaptada para o cinema.
Apesar de trazer uma mensagem extremamente relevante e de muita importância, como filme, a obra não me cativou tanto assim, roteiro e direção possuem muitas limitações, e não creio que os envolvidos foram as pessoas adequadas para traduzir essa história para as telas. Não conheço o material original, mas senti que estava assistindo algo que poderia ser muito mais intenso, o que temos aqui não é uma história de super-heróis com capa que voa pelos céus, a história é centrada em um homem que decidiu lutar contra um governo fascista, é claro que é fantasia, mas um cinema em seu estado mais puro seria melhor do que a forma rocambolesca como tudo foi conduzido, já que a todo momento o diretor reforçava que estávamos assistindo uma história em quadrinhos.
O elenco traz bons nomes como Natalie Portman, Hugo Weaving e John Hurt, a ideia é boa, mas sinto que V for Vendetta demora demais para engatar, não é um filme muito longo são apenas 2h13min, mas a primeira metade é cansativa, só fui mergulhar profundamente na proposta do segundo ato em diante, e é triste quando você não compra a história logo de cara. O que senti é que estava diante de uma boa ideia, porém de uma execução que não estava à altura, e que talvez com uma outra abordagem, por uma outra equipe, renderia algo melhor.
Metrópolis
4.4 631 Assista AgoraMETROPOLIS
Direção: Fritz Lang
Ano: 1927
Assistido em: 01/01/2024
Continuando uma tradição que já dura muitos anos, o primeiro filme que assisto em um ano, sempre é um grande clássico que está há muito tempo na minha lista de pendências , mas que ainda não tive oportunidade de conferir, e para 2024 o escolhido foi o simbolo do expressionismo alemão, Metropolis, título esse que é tão importante, que mesmo que você nunca sequer tenha ouvido falar, com absoluta certeza já assistiu algo que foi influenciado por ele, que é indubitavelmente uma das obras cinematográficas mais importantes de todos os tempos.
100 anos no futuro a sociedade vive uma distopia onde a classe alta e a grande burguesia vivem em arranha-céus gigantescos na superfície, enquanto que a classe operária está confinada ao subterrâneo, Nesse contexto somos apresentados a Freder, filho de Joh Fredersen, o grande líder de Metropolis. Certo dia, quando Freder estava levando sua vida de playboy tranquilamente, surge em sua frente Maria, uma jovem da classe trabalhadora que bruscamente lhe mostra a diferença entre ele e os moradores do subsolo. Freder fica encantado pela moça, o que o leva a uma jornada de mudança de pensamento, entretanto tal sentimento vai em desacordo com os interesses de seu pai, que vai se aliar ao cientista Rotwang para utilizar a mais avançada tecnologia, a Máquina Homem, para acabar com tudo que Maria representa.
Sempre escutei que Metropolis era um filme a frente de seu tempo, e é até difícil acreditar que se trata produção realizada no final da década de 1920, mas tendo a oportunidade de assistir pela primeira vez, pude conferir que ele não só é a frente do seu tempo, como também é absurdamente certeiro em praticamente todas as suas previsões futuristas. Não sei se a Thea von Harbou tinha algum poder de prever o futuro, mas ela foi muito (in)feliz quando adivinhou que em um século, a tecnologia estaria tão avançada, que existiria uma inteligência artificial que seria uma ameaça. Atualmente vemos pessoas serem manipuladas por notícias falsas que são difundidas descontroladamente pela internet, profissões sendo extintas devido à evolução das máquinas, enfim, estamos vivendo a verdadeira “ameaça virtual”, e olha só Metropolis levantando essa questão, discutindo esse ponto quase 100 anos atrás, essa é daquelas histórias futuristas que rezamos para estarem erradas, mas que se mostrou assustadoramente precisa.
Sendo honesto, admito que não tenho muita experiência com o cinema mudo, tirando Charles Chaplin que para mim é um Deus, não sou muito de assistir produções sem áudio, mas Fritz Lang conseguiu me deixar muito imerso nessa história. O que mais me chamou a atenção nesse filme foram seus cenários, sei que é tudo maquete, sei que é tudo jogo de câmera para fazer com que elas pareçam gigantescas, que é tudo perspectiva, mas eles conseguiram criar uma sensação de que de fato estamos diante de uma cidade futurística colossal, com arranha-céus imensos, onde carros, aviões e pessoas transitam pelo espaço, dando uma sensação de uma vida apressada e corrida, algo que quem já morou em uma cidade grande sabe muito bem como é. Os cenários desse filme são tão espetaculares que até hoje eles influenciam não só o cinema, mas videogames, séries de TV, histórias em quadrinho, enfim é algo tão espetacular que sobreviveu ao tempo.
Por se tratar do expressionismo alemão, temos atuações muito peculiares, elas são extremamente exageradas com emoções muito intensificadas algo que evoca muito do teatro, isso até pode ser um pouco estranho para quem não tem costume (como eu), mas não condena o filme, afinal de contas é uma característica do gênero, aqui provavelmente temos as bases de alguns arquétipos cinematográficos eternos como o cientista maluco por exemplo, nos mostrando que Metropolis não segue tropos, mas sim os inventa.
A década de 1920 é particularmente tumultuada na história da Alemanha, ainda assim Fritz Lang e equipe criaram uma obra que é irretocável, que é eterna, que sobreviveu ao teste mais difícil de todos, o do tempo. Sempre fico impressionado como tem alguns filmes que são tão aclamados quando são lançados, são sucesso de bilheteria, a crítica se derrete por eles, e passados alguns anos (quiçá alguns meses) ninguém mais se lembra, caem totalmente no ostracismo, basta ver por exemplo, alguns vencedores do Oscar dos últimos 10 anos que ninguém sabe mais nem os nomes. Metropolis em contra partida, assim como alguns de seus contemporâneos, não só sobreviveu ao tempo, como sua influência continua até hoje. Pode passar mais um século que essa história continuará atual, sua técnica continuará sendo estudada e replicada, pois o que é feito com esmero continua relevante e influente passe o tempo que passar. Uma das jóias da coroa do cinema não só alemão, mas mundial, Metropolis merece todos os elogios que recebeu, e precisa ser redescoberto pela Nova Geração, é uma tristeza saber que atualmente sua versão completa está perdida, e que a mais próxima da totalidade possui cenas gravemente avariadas, uma obra tão icônica merecia ter sido melhor preservada.
Elementos
3.7 470ELEMENTAL
Direção: Peter Sohn
Ano: 2023
Assistido em: 31/12/2023
Eu sou cria da Pixar, uma das minhas melhores lembranças dos tempos de escola foi ter assistido A Bug’s Life (1998) pela primeira vez durante uma sessão de cinema EM VHS na primeira série, de lá para cá, caí de amores pelo estúdio, que foi durante muitos anos o melhor no quesito produções animadas dos Estados unidos, não tinha Disney, não tinha Dreamworks que batesse de frente. Entretanto a década de 2010 foi bastante sofrível para eles, após Toy Story 3 (2010), que foi excelente, a Pixar só foi nos entregar outro clássico com “c” maiúsculo com Inside Out (2015), e dali em diante foi só ladeira abaixo, com produções que, eram boas, mas não boas o suficiente para estar no mesmo nível dos títulos iniciais, ou que eram simplesmente descartáveis, tanto que simplesmente pulei os últimos lançamentos sem nenhum remorso, mas decidi retornar agora com Elemental, e que bom que me surpreendi novamente.
Em um mundo mágico, criaturas compostas pelos quatro elementos vivem em harmonia na cidade Elemental. Somos apresentados a Ember, filha de imigrantes do elemento fogo que lutaram para conquistar seu lugar na periferia da cidade. Ember se prepara para assumir o negócios na loja da família, porém seu temperamento “esquentado” pode pôr tudo a perder. Quando a loja do seu pai é quase destruída, Ember conhece Wade, um fiscal da prefeitura do elemento água, que vai se tornar muito mais do que um grande amigo.
A Pixar tem um toque mágico para criar universos, eles pegam os conceitos mais absurdos e transformam em magia, fizeram isso com brinquedos, com insetos, com peixes, com emoções, e agora com os quatro elementos da natureza. Eles conseguem encantar as crianças e passar uma grande lição para os adultos, afinal de contas foi isso que tornou essas produções sucessos gigantescos do cinema, já que elas funcionam com perfeição para todos os públicos.
Aqui temos uma clara alusão à situação de imigrantes na América, o diretor Peter Sohn é filho de coreanos, então ele tem bastante lugar de fala para poder contar uma história como da Ember, mas surpreendente é perceptível que todos os moradores do bairro do fogo representavam o pessoal do Oriente Médio, mas independente se seja da Coréia ou das Arábias, a questão é que o filme traz uma forte mensagem sobre o quão difícil é você abandonar sua terra natal e ir para um lugar onde não é bem recebido, e ainda assim tem que lutar para poder construir uma vida nova, talvez essa mensagem nunca tenha sido tão necessária, haja vista a situação geopolítica que vivemos atualmente.
Sohn é o diretor daquele que é disparado o pior filme do estúdio, The Good Dinosaur (2015), mas aqui, ele meio que desfez a sua péssima primeira impressão, Elemental traz um mundo encantador, repleto de magia, como a muito não se via na Pixar, misturando Romeu e Julieta com criação de universo inovador. Apesar de não colocá-lo no pódio dos melhores títulos da empresa, é um filme que está no grupo dos “acima da média”, e o que mais gostei desde do já citado Inside Out, lançado há quase 10 anos. Em uma época em que vemos a Disney investir descontroladamente em sequências, como o vindouro Toy Story 5, ou fazendo spin-off desnecessário como Lightyear (2022), o que temos aqui é um respiro, é um alívio ver uma animação como Elemental, que teve que lutar para se provar nas bilheterias, mas que conseguiu sair por cima, e sem sombra de dúvidas é um bom ensaio para um possível retorno do estúdio a boa forma.
Anatomia de uma Queda
4.0 808 Assista AgoraANATOMIE D'UNE CHUTE
Direção: Justine Triet
Ano: 2023
Assistido em: 30/12/2023
Já disse em comentários anteriores que eu não sou muito conhecedor do cinema francês, mas essa semana em particular foi muito atípica, pois assisti duas produções vindas da França, o primeiro foi o ótimo Joyeux Noël (2005), e o segundo foi Anatomia de uma Queda, que vem se mostrando como um dos mais elogiados da temporada. Quando li a sinopse fiquei bastante animado porque sou apaixonado por filmes de tribunal, portanto cometi um gravíssimo erro, fui assistir com muitas expectativas.
Numa região isolada e montanhosa no interior da França vive Sandra com seu esposo, Samuel, seu filho Daniel, que ficou cego devido a um acidente, e o cachorro da família. Eles levam uma vida aparentemente normal, entretanto tudo vem abaixo quando Samuel é encontrado morto do lado de fora da casa. Quando a polícia chega ao local Sandra é vista como a única suspeita.
Eu amo os chamados courtroom drama, adoro ver personagens acuados, sendo acusados, lutando por suas vidas, enquanto detalhes nos são revelados aos poucos, fazendo com que possamos montar um enorme quebra-cabeça até chegarmos a uma conclusão. Entre meus favoritos do gênero estão 12 Angry Men (1957), Madame X (1966), A Few Good Men (1992) Primal Fear (1996) entre muitos outros, e o que todos têm em comum? Grandes personagens, grandes histórias, e grandes atuações, aqui até encontramos uma boa estrutura narrativa, mas infelizmente ela nunca alcança o ápice, ficando mais desinteressante à medida que a trama avança.
A história começa bem, temos um corpo, e precisamos entender como as coisas aconteceram, aparentemente Sandra é a única culpada, só que o longa vai se esvaziando, a história não engrena, não engata. A duração é ótima para desenvolver uma trama, mas aqui, esse tempo foi um um tiro no pé, porque simplesmente não existe uma conteudo para cobrir esse tempo ao mesmo tempo que sustenta o interesse do público ao longo de toda duração, a grande sensação que eu tenho é que o filme começa em nada e termina em lugar nenhum, com um desfecho que é um ultraje.
Quem esperou por um grande drama de tribunal, com grandes interpretações, e grandes momentos está completamente iludido, a Sandra Hüller é muito boa, e está excelente, assim como o jovem Milo Machado-Graner, ambos têm momentos dramáticos muito interessantes, garantindo um bom drama, mas ainda assim muito desinteressante na parte de tribunal, sendo um dos mais decepcionante que vi nos últimos tempos.
Como disse na abertura, cometi a imensa falha de esperar um grande filme de tribunal, e não foi isso que encontrei, não estou dizendo que é ruim, dá para notar todo o esmero dos realizadores, mas faltou história, faltou uma montagem melhor, faltou mais dinamismo e principalmente faltou coragem para tomar um posicionamento no final. Deixar perguntas em aberto, para a imaginação do público completar, é uma decisão que particularmente sempre achei muito covarde, e aqui não foi diferente.
Última Chamada para Istambul
2.8 15 Assista AgoraİSTANBUL İÇIN SON ÇAĞRI
Direção: Gönenç Uyanık
Ano: 2023
Assistido em: 25/12/2023
Vou começar sendo honesto, tenho o pé atrás com produções turcas, assisti pouquíssimos títulos oriundos do país, aquelas de cunho histórico até consigo acompanhar numa boa, mas dramas e romances, honestamente, não são para mim, simplesmente não dá! Sei que a Turquia é um país majoritarualmente islâmico, entretanto eles não são tão fundamentalistas quanto os países árabes, porém a religião ainda interfere bastante nas produções, por exemplo, nas novelas/séries não pode haver violência, beijos, cenas de sexo então?! Alá nos livre, o mundo vai acabar!! Enfim, eles possuem uma série de limitadores que em minha opinião só atrapalham na hora de contar uma boa história, portanto tinha zero interesse em ver esse filme, e só assisti meio que "por acidente".
Um jovem casal desembarca em Nova York e devido a um problema da empresa de companhia aérea acabam se aproximando e decidem passar um dia juntos. O grande problema é que ambos são casados, entretanto a química sexual é extremamente forte, resta saber até quando eles vão resistir a mútua atração.
Honestamente, pensava que isso seria apenas mais uma mais um filme romântico comum como qualquer outro daqueles que Hollywood produz por atacado há anos, e a Netflix praticamente se tornou especialista, entretanto me surpreendi com um roteiro que foi bem pensado, com um plot twist até que surpreendente para o gênero, mas que ainda assim poderia render muito mais, caso a execução fosse melhor.
Fiquei até um pouco confuso quando o segundo ato começou, pensei que a história estava avançando muito, com Mehmet e Serim já tendo uma vida de casal e já estando em um relacionamento desgastado, só que aí que veio a surpresa. Tudo indicava que o filme seria um romance bobinho, e não uma produção que tinha como intuito discutir relacionamentos matrimoniais, e quando revelaram que tudo que vimos no primeiro ato era encenação, uma tentativa dos dois de salvar o casamento fracassado, senti que a história tinha um imenso potencial, o problema é que a direção já tinha me perdido a essa altura, já que tudo até então estava sendo apresentado de uma maneira extremamente sem graça, apática, sem brilho, de uma forma que meu interesse já havia diminuído, e quando o filme te perde, para recuperar é difícil demais.
Vi que muita gente odiou o final, particularmente sou um desses que naturalmente ficaria muito incomodado por ser fantasioso/idealizado demais para o meu gosto, mas dessa vez até que eu vou passar um certo pano, do começo ao fim a história já prometia esse final, já existia uma atmosfera romântica de um casal que queria se acertar, logo o final não é ilógico. Em linhas gerais, Última Chamada para Istambul é uma boa ideia com uma execução ruim, e que poderia ter sido maior, mas infelizmente acabou caindo no comodismo de ser o mais do mesmo.
Saltburn
3.5 857SALTBURN
Direção: Emerald Fennell
Ano: 2023
Assistido em: 25/12/2023
Continuando meu propósito de assistir aos principais títulos da temporada, me deparei com Saltburn, um filme que eu tinha de tudo para não gostar, desde a sinopse simples, que não contempla tudo o que a história tem a oferecer, e ao fato de eu não ter gostado muito de Promising Young Woman (2020), o trabalho anterior da diretora Emerald Fennell, mas ainda assim fui de peito aberto, principalmente devido ao elenco que é um espetáculo, e que baita surpresa encontrei no final, um dos longas mais irônicos e debochados dos últimos anos.
Oliver é um bolsista de Oxford que se vê completamente perdido nesse novo ambiente, ele é rejeitado por todos já que não se encaixa nesse mundinho. Certo dia ele consegue chamar a atenção de Felix, que diferentemente dele é o centro daquele universo. Durante as férias, Felix convida Oliver para passar um período em sua casa, o castelo de Saltburn, porém lá chegando, Oliver precisará lidar com uma série de pessoas excêntricas em um mundo completamente irônico, e mediante as situações absurdas que vão saindo de controle aos poucos.
O ponto alto da produção está no texto de Emerald Fennell, ela trata todo aquele universo, com bastante ironia e deboche, vemos pessoas extremamente ricas em situações bizarras e completamente surreais, e tudo isso com um tom de comédia que torna o filme extremamente ácido, nos levando a refletir o quão estúpida é toda aquela situação que aquelas pessoas estão vivendo, e o melhor de tudo é que nós vemos isso pelo olhos do Oliver, que assim como nós, está de fora daquele mundinho.
Mas engana-se quem pensa que Saltburn é apenas uma crítica às excentricidades e futilidades dos milionários, o que temos aqui é um grande estudo de personagem, que fala sobre inveja, sobre rancor, sobre ressentimento, sobre desejo e principalmente sobre ambição. O segundo ato muda completamente o que vinha sendo apresentado, e nós vemos a escalada de Oliver, vemos aquele personagem que desde o primeiro momento o roteiro já tinha nos avisado que não era uma boa pessoa (basta ver a forma como ele descarta a única pessoa que se aproxima dele), fazer de tudo para atingir seus objetivos. Mas o que que o Oliver quer?! Ele quer o amor de Felix?! Ele quer o dinheiro?! Ele quer os status?! Não, ELE QUER TUDO, extremamente inteligente, o vilão se livra de todos aqueles que ameaçam os seus objetivos, até que no final ele finalmente consegue atingir seus objetivos, que dentre muitas coisas, incluía nada mais nada menos que a própria Saltburn.
Emerald Fennell faz um trabalho de direção brilhante, a fotografia é lindíssima, com cenas que poderiam render belos quadros, ela usa muita cor, muito brilho, é um filme quente e vibrante. A trilha sonora também é um espetáculo, assim como a montagem que também é muito boa, fazendo com que a história nunca perca o ritmo. E obviamente temos o elenco espetacular, Barry Keoghan está incrível, esse cara tem muito potencial, creio que no futuro ele vai ganhar um Oscar, do outro lado temos o igualmente ótimo Jacob Elordi, que exorciza de vez o rótulo de galã de filme adolescente, e mais uma vez prova-se um excelente ator dramático, é outro que se souber escolher bem seus papéis vai ter uma carreira brilhante, completando o elenco temos em papéis menores Rosamund Pike, Richard E. Grant e Carey Mulligan, todos também bem corretos em seus papéis, principalmente Pike que mais uma vez engole todos ao seu redor com sua enorme presença cênica.
O saldo geral de Saltburn é muito bom, ele pode não ser o grande favorito nesta temporada de prêmios, mais sem sombra de dúvidas foi um das produções que mais me surpreendeu nesse final de ano, devido a uma história que mistura uma crítica ácida, com uma bom thriller que vai escalonando para algo que jamais poderíamos imaginar. É claro que existem cenas que causam desconforto, todas elas propositais para mexer com o sentimentos do espectador, e o longa como um todo consegue isso muito bem, seja nos deixando abismados com as excentricidades dessas pessoas de um universo tão distante do nosso, ou como a ótima representação de sentimentos e emoções que levam os personagens a atitudes completamente absurdas que no final nos deixa completamente perplexos. Esse filme conseguiu tirar a impressão ruim que eu tinha ficado com a Emerald Fennell e mais do que isso, conseguiu me deixar bastante ansioso para ver o que que ela vai nos entregar no futuro.
Feliz Natal
4.2 188 Assista AgoraJOYEUX NOËL
Direção: Christian Carion
Ano: 2005
Assistido em: 24/12/2023
Desde minha adolescência sou fascinado com as Grandes Guerras Mundiais, sempre gostei de ler, de estudar sobre esses períodos que apesar de representarem o que de pior pode acontecer com a humanidade, trazem alguns episódios muito interessantes. E a cada ano me surpreendo mais, ao descobrir detalhes, situações e eventos que me eram desconhecidos. E de longe o que mais me surpreendeu foi o da Trégua de Natal de 1914, algo que a princípio soava como impossível, mas que de fato aconteceu.
Em dezembro de 1914, no frente ocidental da Primeira Guerra Mundial, diversos soldados ingleses, franceses e alemães estão diante dos meses iniciais do conflito. Entretanto, o espírito natalino fala mais forte e eles decidem fazer uma pequena trégua no dia 24 de dezembro. Só que eles não sabiam que essa demonstração de amor e paz iria tomar proporções inimagináveis.
Não tenho muito conhecimento sobre o cinema francês, vergonhosamente admito que é do cinema americano que vem 99% de tudo que consumo, mas as poucas vezes que tive contato com as produções da França, fiquei verdadeiramente encantado, e com Joyeux Noël não foi diferente, ele é muito bem escrito e dirigido, com um elenco absurdo, e atuações muito boas, e outra, se existe CGI aqui, não parece, enfim tecnicamente é muito acima da média, o único defeito para mim é uma pequena barriga que existe ali na metade da história, mas nada que condene o todo.
O elenco está repleto de pessoas famosas Diane Kruger, Benno Fürmann, Guillaume Canet e Daniel Brühl todos muito bem em seus papéis e aliados a direção de Christian Carion conseguem imprimir bastante emoção nas cenas, nos fazendo sentir um pouquinho que seja daquele sentimento que levou os aqueles soldados aquela demonstração de amor ao próximo.
Infelizmente a Trégua de Natal de 1914 não foi repetida, em 1915 os líderes de ambos os lados do conflito fizeram o possível para impedir que o evento se repetisse, e em 1916 a guerra já tinha atingido um nível tão descontrolado todos só se enxergavam como inimigos a serem massacrados, e não havia a menor possibilidade de uma trégua, mas a lição que fica é que todos esses conflitos, não só da Primeira como também da Segunda ou de qualquer outra guerra no mundo, não reflete o real sentimento de um povo, o real sentimento de uma nação, mas apenas os interesses de alguns poucos que nem estão no campo de batalha, mas sim seguros em seus escritórios, somente quem viveu a carnificina dos combates sabe de fato o que aquelas pessoas passaram. Esse provavelmente é um dos poucos, quiçá o único, momento bonito em meio ao maior horror que o ser humano já havia evidenciado até então, um pequeno raio de esperança provando que talvez a humanidade não esteja de todo condenada.
Priscilla
3.4 166 Assista AgoraPRISCILLA
Direção: Sofia Coppola
Ano: 2023
Assistido em: 23/12/2023
Um dos filmes mais elogiados do ano passado foi Elvis (2022) de Baz Luhrmann, cinebiografia que contava um pouco da história do lendário rei do rock. Entretanto, um dos pontos mais criticados da obra foi o fato do relacionamento de Presley com sua esposa Priscilla ter sido abordado de uma forma en passant, Luhrmann justificou sua decisão alegando que o seu recorte era focado principalmente na carreira de Elvis, deixando seus relacionamentos amorosos mais em segundo plano. E agora, passados um ano depois do lançamento do longa, vemos Priscila chegando aos cinemas, e que fique claro que essa não é uma resposta ao anterior, e nem vejo como um complemento, mas sim como uma outra versão dessa história.
Em 1959 na Alemanha Ocidental a então adolescente de 14 anos Priscilla Beaulieu acaba conhecendo ninguém mais ninguém menos do que Elvis Presley, o fenômeno americano que estava cumprindo serviço militar no país. Eles imediatamente começam a se envolver apesar de uma brutal diferença de 10 anos de idade, ao longo dos próximos anos veremos como Priscila precisou aprender a lidar com peso da fama do lendário rei do rock.
Diferentemente do Elvis do Luhrmann, o Priscila de Sofia Coppola não teve o apoio de Lisa Marie Presley, a recentemente falecida herdeira do casal, o que temos aqui é a visão da ex-esposa, vemos pelo olhar dela como foi seu envolvimento com Elvis, como se deu o namoro, o casamento, enfim, os 15 anos de relacionamento que eles tiveram. Vemos Priscila como uma jovem deslumbrada que é seduzida por um homem mais velho, que tenta mudá-la, adequá-la ao seu estilo de vida. É importante ressaltar que não devemos julgar algo que ocorreu há quase 60 anos com os olhos de 2023, o que hoje é absurdo, naquela época era comum, portanto é muito complicado você tentar julgar Elvis como um monstro quando o que ele fazia, era o que todos faziam. Não estou dizendo que ele tratou a Priscila da forma correta, definitivamente não, foi péssimo em inúmeros momentos, mas o que eu quero dizer que não adianta nada vilanizar uma pessoa sem que possamos escutar sua versão da história.
Tecnicamente falando, Coppola nos entrega uma grande produção, que faz um trabalho espetacular de figurino, cabelo e maquiagem. Ela também escolheu seus atores a dedo, Cailee Spaeny esteve muito bem no papel título, e Jacob Elordi, mais uma vez se mostra como é uma promissora aposta futura, mostrando que segura papéis dramáticos muito bem, algo já visto por exemplo, em Euphoria (2019-Atualmente). A direção da Sofia Coppola é muito afiada arrancando grandes momentos dos seus atores, entretanto o roteiro é extremamente simplório, focar apenas no relacionamento de Priscilla e Elvis é uma decisão arriscada, tudo bem que ela sempre será conhecida como a esposa do Rei do Rock, inclusive é mais conhecida pelo seu nome de casada, mas não custaria nada citar a carreira de atriz, citar o lado empresário, mostra como se deu o relacionamento dela com Elvis após o divórcio, ou após a morte dele, enfim mostrar mais do que apenas romance, que aliás, trata 15 anos de história como se fosse 15 dias, já que a passagem de tempo é muito mal explicada em tela.
Em linhas gerais Priscilla me decepcionou um pouco, não que seja ruim, não é isso, mas claramente poderia ser melhor. Deveria ter explorado mais a figura do Elvis e da própria Priscila, mostrado o relacionamento deles de uma forma muito mais intensa, mostrando as traições abertamente, enfim, sido mais ousados. Talvez as tretas entre Priscilla e Lisa Marie tenha jogado um banho de água fria nos planos da Sofia, ou até mesmo a grande repercussão do longa de Austin Butler tenha mudado alguma coisa nesse projeto, mas de fato faltou um pouquinho de coragem para fazer um filme mais audacioso e memorável.
Maestro
3.1 260MAESTRO
Direção: Bradley Cooper
Ano: 2023
Assistido em: 23/12/2023
Como um bom devoto ao cinema, todo final de ano acompanho a temporada de prêmios, dando preferência aos filmes de maior repercussão. Neste ano em específico, acompanhando principalmente os vídeos do Dalenogare, descobri que o Bradley Cooper vem fazendo uma campanha agressiva para o seu Maestro, ele quer ganhar um Oscar, seja de direção, seja de ator, e não está medindo esforço para isso, até aí tudo bem, está mais do que certo, mas o que me surpreende nessa história toda é o filme que ele escolheu para isso, Maestro é tão Oscar bating que cada cena grita “me deem um prêmio”, nem precisava de campanha, e creio que isso joga mais contra do que a favor.
Nos anos 1940 somos apresentados a Leonard Bernstein um promissor maestro norte-americano que graças a seu enorme talento começa a alcançar posições altíssimas no mundo da música. Quando ele conhece a atriz costarriquenha Felicia Montealegre eles começam um relacionamento intenso, mas que enfrentará muitos percalços.
Não sou o que pode ser chamado de grande amante na música clássica, mas conheço seus principais compositores, e tenho um considerável apreço por orquestras, portanto já conhecia o Leonard Bernstein de nome, mas não sabia absolutamente nada de sua vida. Como um aficionado por cinebiografias, quando anunciaram que o Bradley Cooper estaria envolto em um projeto adaptando a vida de Bernstein ao cinema, imediatamente fiquei animado, só não poderia imaginar que esse filme seria tão chato.Vamos separar bem as coisas: eu não disse ruim, e sim chato! Com uma história para dormir.
Cooper acerta em toda parte técnica, fotografia, figurinos, maquiagens (apesar do nariz), cenário, direção, tudo é impecável, e no quesito atuações ele está muito bem, não digo que é um dos melhores desempenhos de sua carreira, mas ele está muito bem, Carey Mulligan que está impecável, é será uma forte candidata na competição de melhor atriz deste ano, mas o roteiro é para matar o espectador de tédio, é como já disse, não conheço a vida do Berstein mas creio que, ou o Cooper deixou os pontos mais interessantes de fora, ou a vida desse homem era um saco, não tem nada aqui que chame atenção, absolutamente nada. Até temos uma sugestão de homossexualidade, mais nada foi aprofundado, tudo é muito superficial, muito higienizado, muito bonitinho, como se o filme tivesse medo de mostrar os esqueletos do armário, porque com toda certeza existem esqueletos nesse armário, só que acabaram ficando de fora.
Fiquei muito surpreso quando vi nos créditos os nomes dos gigantes Martin Scorsese e Steven Spielberg como produtores, não sei se com a direção de um dos dois o resultado de Maestro teria sido melhor, mas creio que ambos, com seus mais de 50 anos de carreira saberiam muito bem como balancear uma história, como investir em momentos que despertariam o interesse do público, para que o resultado final não ficasse tão modorrento, eles bem que deveriam ter dado umas diquinhas para o Bradley, porque misericórdia, acredito que só a família do biografado e os envolvidos no projeto podem ter achado uma boa ideia fazer esse longa. A Netflix deposita nessa produção todas as suas fichas para o seu tão sonhado Oscar de melhor filme, mas não creio que será dessa vez, já que em um ano com tantas produções fortes e de repercussão gigantesca, Maestro é um peixe muito pequeno.
Aquaman 2: O Reino Perdido
2.9 296 Assista AgoraAQUAMAN AND THE LOST KINGDOM
Direção: James Wan
Ano: 2023
Assistido em: 22/12/2023
Sou fã dos personagens da DC comics desde que eu me entendo por gente, infelizmente não estava lá, na sala de cinema, quando Man of Steel (2013) iniciou o DCEU, mas com exceção dele e de Wonder Woman 1984 (2020), assisti todas as demais produções da franquia no cinema, das mais elogiadas as mais execradas, sempre estive lá, então não seria dessa vez que eu não estaria presente, e lá fui eu acompanhar o último prego sendo batido no caixão e finalmente presenciar o fim dessa franquia, que começou como um raio de esperança as comédias da Marvel, mas sai de cena como uma maldição a ser esquecida. E quem diria que caberia ao Aquaman a missão de enterrar o universo iniciado por Zack Snyder de uma vez por todas?!
Passados alguns anos dos eventos do primeiro filme, Arthur agora se divide entre a terra e os oceanos, ele tem duas missões muito sérias, além de governar o mais poderoso reino dos mares ele ainda precisa lidar com os afazeres de um pai de família, cuidando da esposa e do pequeno filho. Entretanto, o que ele não poderia imaginar é que o Arraia Negra ainda está sedento por vingança, e quando o vilão põe as mãos em uma antiga arma de um reino perdido e amaldiçoado, ele vai colocar tudo e todos que Arthur ama em perigo. Caberá ao Aquaman buscar ajuda onde menos espera para salvar não somente seus entes queridos, mas todo o planeta.
Lá em 2018 quando o primeiro Aquaman foi lançado, ele foi bastante funcional, um filme bonito, com uma criação de um universo bacana, não era perfeito, mas dava pro gasto. Então criei expectativas acerca da possível continuação, principalmente devido ao James Wan, que é um excelente criador de universo, mas de lá para cá o DCEU passou por tantas mudanças, por tantos problemas, tantas situações caóticas, que esse interesse desapareceu, de forma que agora em 2023 a única expectativa para essa sequência é que ela terminasse esse universo capenga de uma vez.
Jason Momoa sempre foi uma escalação horrenda para esse papel, sempre falei isso, e tudo ficou ainda mais evidente agora que o Patrick Wilson estava ao lado dele, Wilson é muito mais Aquaman do que essa montanha havaiana tatuada, que aliás nunca interpretou o Arthur, mas sempre foi ele mesmo em tela. Pra dizer a verdade, nenhum personagem desse universo entrou para a cultura pop, nada disso, tudo relacionado ao Aquaman sempre foi muito mediano, e é exatamente isso que entregam novamente, uma história fraquinha, mas que tem alguns momentos de diversão, boas sequências de ação, mas tudo inofensivo e facilmente esquecível.
Uma coisa que me incomodou bastante é que esse filme parece muito inferior ao primeiro em todos os sentidos, e mais ainda quando falamos de efeitos especiais, o original lançado cinco anos atrás parecia mais caprichado, mais bem feito, em muitas cenas sai da imersão devido ao vale da estranheza. Outro ponto incômodo é que o Arraia Negra é um vilão muito meia boca, ele não teve metade do impacto que o Orm teve no primeiro longa, aliás a melhor decisão deste segundo título foi trazer o ex-vilão como parceiro do herói, já que a esposa dele não pode ter destaque devido às cagadas (nos dois sentidos) que a atriz fez na vida real.
Em linhas gerais Aquaman and the Lost Kingdom é mediano, e condizente com que o DCEU entregou ao longo dos anos, não é espetacular, mas também não é essa carniça toda que muita gente tá pintando, inclusive consegue ser melhor do que algumas bombas de super-heróis que foram feitos ao longo do ano como por exemplo Quantumania e o trio de maravilhosas, porém como conclusão de um universo de 10 anos, é algo sofrível, não é memorável, não é edificante, é algo esquecível, e talvez essa seja melhor solução, já que a Warner e o Gunn querem que o público apague esses 15 filmes de suas mente, para que tudo possa ser reiniciado em 2025, com um novo universo que dessa vez pode vir a ser bem sucedido.
Assassinos da Lua das Flores
4.1 612 Assista AgoraKILLERS OF THE FLOWER MOON
Direção: Martin Scorsese
Ano: 2023
Assistido em: 22/12/2023
Quando Martin Scorsese se propõe a fazer um novo trabalho, a comunidade cinéfila imediatamente já fica em polvorosa. Em suas sete décadas de atividade, Scorsese nunca decepcionou, ele sempre está nos surpreendendo com obras de qualidade absurda, que entram para cultura pop, que tem muito a dizer, e que esbanjam qualidades que não são encontradas em qualquer produção. Podemos dizer claramente que o diretor é diferenciado, que ele é um dos que ajudaram a moldar o cinema, e é um deleite poder assistir a um filme tão bom mesmo vindo de uma pessoa que na teoria, já deveria estar aposentado há um bom tempo.
No princípio dos anos 1920 a comunidade Osage se tornou extremamente rica devido ao petróleo encontrado em suas terras. Porém se tem uma coisa que chama a atenção das pessoas é dinheiro fácil, e os Osages são vistos como vítimas em potencial. Nesse contexto somos apresentados a Ernest um veterano da primeira Guerra Mundial que chega até a reserva indígena e acaba se casando com Mollie. Com ajuda do seu tio King Hale, Ernest decide mexer os pauzinhos para se tornar o legítimo herdeiro de toda aquela fortuna proveniente do petróleo, não importando os métodos que tenham que ser utilizados.
Para ser bastante honesto antes do anúncio do filme dirigido por Scorsese e protagonizado por DeNiro e DiCaprio, eu nunca tinha ouvido falar da história dos Osage, e isso é surpreendente, pois o gênero true crime é um dos que mais ganhou força nos últimos anos. Hoje em dia qualquer “crime menor” ganha proporções absurdas na mídia, agora imagina um massacre de dezenas, talvez até uma centena de pessoas?! Não gostaria de ficar levantando bandeira de nada, mas o fato dessas pessoas serem indígenas e de tudo ter ocorrido nos primórdios do século XX, justifique a ausência do ocorrido no cenário midiático por quase 100 anos, e só agora está chegando a grande massa, já que o cinema tem um alcance muito superior a qualquer livro ou reportagem de jornal, e isso só foi devido à força do nome de Scorsese, que fez a Apple gastar 200 milhões de dólares neste projeto.
Elogiar as parte técnica do filme é desnecessário, Scorsese sempre tem um capricho absurdo em tudo que faz, sempre beira a perfeição, seja na fotografia, nos cenários, na maquiagem, e principalmente as atuações impecáveis, obviamente já esperava tudo de bom do Robert De Niro e de Leonardo DiCaprio, mas fiquei surpreso com o desempenho da Lilly Gladstone, não conhecia o trabalho dela, mas a mulher está absurda, qualquer outra seria engolida pelos dois monstros com a qual ela estava contracenando, mas ela não. Gladstone não encolheu, muito pelo contrário estava gigante, são dela alguns dos momentos mais marcantes. O elenco ainda tem nomes famosos como Brandon Fraser, Barry Corbin e John Lithgow, mas todos eles aparecem muito rapidamente, o um único ponto fraco fica em Jesse Plemons, que apesar de ser um bom ator, é muito sem graça, e de carisma inexistente, esse homem é uma água de salsicha, me desculpem, mas não compro nenhum personagem que ele faz.
Obviamente a longa duração é um tópico que o pessoal desse mundinho chamado internet levou muito a discussão, apesar de não me importar com durações longas, dessa vez eu senti às 3h30min, principalmente no primeiro ato, depois dos 45 minutos iniciais a história engatou de um jeito que eu não conseguia mais desviar o olhar, mas confesso que no começo foi um pouco difícil, e me senti um pouquinho cansado, algo que não ocorreu por exemplo em The Irishman (2019) filme anterior do diretor que tinha a mesma duração, mas que a história tinha alguns elementos que para mim, eram mais atraentes do que os dessa, mas de todo caso nada apaga o brilhantismo da obra.
Killers of the Flower Moon foi uma das produções mais elogiadas de 2023, e não é para menos, é uma aula de cinema. Nos últimos anos Scorsese tomou uma posição muito radical contra blockbusters em geral, principalmente contra os filmes de super-herói da dona Marvel/Disney, mas apesar de gostar bastante dessas produções, reflito sobre o seguinte: quantos filmes de hominho simplesmente desaparecem na nossa cabeça no instante que deixamos a sala do cinema?! Ou assim que fechamos o streaming na televisão na nossa sala? São produtos descartáveis que desaparecem do imaginário coletivo de imediato, agora me respondam quanto tempo será que vamos demorar para esquecer um Killers of the Flower Moon?! Para esquecer o que vimos dele?! A não ser que você seja um ser humano muito ruim, é muito difícil ver diversas vidas sendo perdidas apenas por ambição, e saber que isso aconteceu de verdade, saber que não foi ficção, saber que foi real, e imaginar que isso se repete em inúmeros locais no mundo a fora e ninguém dá a mínima. Scorsese disse em uma entrevista recente que só faz filmes quando tem algo a dizer, e ele tem muito a dizer ainda, espero que tenha muitos anos de vida e de saúde para que continue nos presenteando com obras magistrais e memoráveis como ele sempre fez.
AIR: A História Por Trás do Logo
3.6 244 Assista AgoraAIR
Direção: Ben Affleck
Ano: 2023
Assistido em: 17/12/2023
Tem filmes que você lê a sinopse ou procura alguma informação na internet e imediatamente já pensa, “não tem como isso dá certo”, porém muitas vezes quebramos a cara, o diretor prova que estamos errados, e quando vamos ver estamos diante de um filmaço. Mas existe uma diferença muito grande entre um filme ruim e um filme chato, inclusive eu prefiro muitas vezes um da primeira categoria do que da segunda, porque com uma produção de baixa qualidade, muitas vezes é possível nos divertir, agora com um longa
chato, aí não tem como não.
Em 1984 a Nike estava precisando reformular seus produtos para atingir novos mercados, e assim se destacar em meio a uma forte concorrência. Nesse cenário eles decidem investir em um atleta que estava começando a despontar, um tal de um Michael Jordan. Entretanto associar o nome de Jordan ao da empresa não seria nada fácil, haja vista que existiam inúmeros obstáculos a serem derrubados, e nesse cenário vemos a perspectiva e a perseverança de Sonny, responsável de marketing da Nike que vai tentar a todo custo conseguir a associação entre a estrela e a empresa.
Não sou o que pode se chamar de fã do Ben Affleck, esse é apenas o segundo trabalho dele como diretor que assisto, e vê-lo como ator é sempre um desmotivador para assistir qualquer produção, mas devido a forte campanha da temporada de prêmios, cá estou, obviamente outro grande incentivo é o elenco estelar que Affleck reuniu, além do seu parceiro Matt Damon (pela primeira vez sendo dirigido pelo amigo), ainda temos Jason Bateman, Viola Davis, Chris Messina, e por aí vai, mas como disse nem todo bom filme é legal, Air é um espetáculo quando se trata de elenco, de montagem e trilha sonora mas é uma droga quando falamos de história.
Sei muito bem na importância do Michael Jordan, sei da importância do tênis Air Jordan, já li sobre isso, já li sobre o impacto que teve na cultura dos anos 1980, e sobre a forma como ele modificou toda a questão de contratos entre grandes empresas e atletas, sei disso tudo, mas minha gente, que história insuportável de chata!! Talvez para quem seja aficionado por basquete, pelo Jordan, por marketing ou por histórias de confecção de tênis, Air seja uma excelente pedida, mas para o público médio, para aquele que quer uma história envolvente, isso aqui é muito chato, vi muita gente falando que ficou ansiosa pelo desfecho da história mesmo conhecendo o final, eu nem conhecia e nem fiquei ansioso, tudo que queria era que aquilo acabasse o mais depressa possível porque não parava de bocejar.
Como acompanho notícias sobre cinema há muitos anos, sei muito bem que premiações não são sobre qualidade, mas sim sobre campanha, sendo Ben Affleck um nome forte em Hollywood, e sendo a Amazon uma empresa multibilhardária é claro que Air vai se destacar nas premiações, mas a produção é facilmente esquecível, e a prova disso é que ele foi lançado no primeiro semestre de 2023, e simplesmente evaporou da boca do povo nos meses seguintes. Em um ano em que vimos um fenômeno como o Barbenheimer, Air não se sobressaiu, nessa temporada de prêmios acredito eu que ele vai estar ali apenas como figuração, e não como uma real potência para ganhar nada, e convenhamos, é um filme que merece reconhecimento pelas partes técnicas, mas faltou uma história mais envolvente, mais apaixonante ou ao menos menos nichada, ou quem sabe quem tá errado sou eu por não ter entendido que a obra tem um público específico, do qual não faço parte.
Segredos de um Escândalo
3.5 317 Assista AgoraMAY DECEMBER
Direção: Todd Haynes
Ano: 2023
Assistido em: 17/12/2023
Nessa temporada de prêmios estou assistindo alguns filmes que naturalmente nunca assistiria, que só pela sinopse eu passaria longe, mas mesmo assim decidi encarar apenas por conta dos elogios da crítica e das seleções para as principais premiações do cinema. Por outro lado May December é um que nos primeiros instantes que escutei falando, já despertou meu interesse, só que eu entendi a história completamente errada, sei que o que temos aqui é baseado em um caso real, mas acreditava que seria uma adaptação legítima da história ocorrida nos Estados Unidos com Mary Kay Letourneau em 1996, mas me surpreendi totalmente ao me deparar com uma história que não era nada do que eu imaginava, e isso foi muito bom.
Elizabeth é uma atriz que está em processo de pesquisa para a sua nova personagem, Gracie, uma mulher que foi acusada de abuso de menores ao se envolver com um menino de 13 anos, mas que com o passar dos anos se casou com ele e juntos formaram uma família. Quando Elizabeth chega à casa de Grace e Joe, se depara com uma família aparentemente perfeita, mesmo com a origem turbulenta, só que o que ela não podia imaginar é que essa família ainda tem muitos esqueletos no armário.
A história na qual a produção se baseia é revoltante, uma mulher de 36 anos se envolver com um garoto de 13 é absurdo demais para ser entendido, mas infelizmente aconteceu, e aqui na ficção, vemos pelo roteiro como os traumas do passado podem afetar o nosso presente, apesar de Elizabeth ser a protagonista ela nem de longe é o foco do filme, que fica todo no papel de Joe.
Vemos um homem jovem de 36 anos com três filhos, os mais novos próximos dos 20 e indo para faculdade, ele tem uma vida aparentemente perfeita, mas claramente é uma pessoa sufocada, Joe não teve infância, não teve adolescência, não teve juventude, tudo isso foi roubado por Grace que finge muito bem ser uma pessoa sensível e ingênua, mas que é uma grande predadora sexual, uma mulher que abusou de uma criança e roubou toda a vida dele. Durante o desenrolar da produção vemos Joe repetir que não foi uma vítima várias vezes, que foi escolha dele, mas o desenrolar da história mostra o contrário, vemos ele acordando para realidade, as borboletas monarcas que ele preserva são uma metáfora para ele mesmo, que viveu preso durante quase 25 anos a uma vida no qual foi inserido sem nem mesmo perceber que ele foi levado a aceitar. A cena final dele, onde vê a formatura dos filhos de longe, e começa a chorar desesperadamente, é a prova cabal disso tudo, dele finalmente percebendo que teve diversas experiências da sua vida roubadas por aquela mulher.
Vi um reboliço muito grande na internet por esse filme ter sido indicado na categoria de melhor comédia ou musical do Globo de Ouro, mas eu não achei isso um absurdo não, por incrível que pareça dessa vez não, o roteiro é muito debochado, muito irônico, e você percebe na trilha sonora, pelo jogo de câmeras, pelas imagens, a forma como Todd Haynes apresenta essa história, em momento algum ele glorifica o caso, ele utiliza de técnicas de direção para reforçar o absurdo daquela situação.
O trio principal está excelente, Natalie Portman e Julianne Moore são atrizes absurdas, então não esperava menos do que a excelência das duas, mais quem me surpreendeu mesmo foi o Charles Melton, o rapaz que vem da execrável e recém finalizada Riverdale (2017-2023), se destaca com um personagem complexo e totalmente reprimido, muito da interpretação dele está no gestual, porque ele não tem fortes cenas de diálogo, é tudo pelo olhar, e o homem arrebentou, provou que ator da CW também pode atuar.
May December é um filme que desperta muitas sensações no público, sensações revoltantes, de pura indignação, mas também nos leva a refletir, pessoas com cara de boazinhas muitas vezes podem ser terríveis predadores e precisamos ficar atentos a esse padrão de comportamento. A única observação negativa tenho a fazer, é que ali depois da primeira hora, temos uma espécie de “barriga” no roteiro, talvez uma redução de cenas deixaria o resultado final um pouquinho mais dinâmico nesse pedaço da história, mas fora isso, temos um roteiro caprichado que utiliza muito bem de metáforas, e a direção que é excelente. Apesar de não ser o meu favorito da temporada, esse é sem sombra de dúvidas um dos melhores concorrentes entre os que já assisti até agora.
PS: Elizabeth é atriz de método, entrou tanto no personagem de Gracie que até deu para o marido dela
Vidas Passadas
4.2 752 Assista AgoraPAST LIVES
Direção: Celine Song
Ano: 2023
Assistido em: 16/12/2023
Tem filmes que só pela sinopse você já sabe que não é para você, eu geralmente passo longe deles, mas infelizmente tem aqueles que se destacam principalmente agora na temporada de prêmios, e decido pagar para ver, e é infalível, sempre quebro a cara, ou melhor, sempre estou certo, porque só de ler duas ou três linhas já sei que não vou gostar, e é tiro e queda. Past Lives foi um dos títulos mais elogiados da temporada, não sei quantos vídeos do YouTube que assisti, rasgaram elogios à produção, mas foi só os primeiros minutos começarem para que tivesse a confirmação do que já esperava: não ia gostar nem um pouco disso.
Dois amigos de infância são separados pelas circunstâncias da vida. Muitos anos depois eles se reencontram pela internet e acabam se reaproximando, entretanto reatar velhos relacionamentos não é tão simples quanto eles imaginavam, e logo percebem que moldar suas novas situações a uma amizade de mais de 20 anos, não será nada fácil.
Olha, sendo bastante honesto, não entendo esses filminhos espirituosos que tentam discutir relações humanas, e blá blá blá, isso não é para mim, até tentei, juro, mas não consegui achar nada que me conectasse a esses dois protagonistas, ambos são dois chatos de galocha, e não há nada na história desse filme que desperte meu interesse, não há nada minimamente curioso, os personagens se reencontravam e eu só queria que tudo acabasse, e quando olhava no contador, 1h40min se transformaram em 6h.
Li uma vez um escritor dizendo que o que ele mais ouvia eram pessoas querendo contar seus relatos pessoais dizendo que dariam uma boa história, e quando ele escutava, eram histórias chatíssimas que não dava nem um panfleto, e procurando algumas informações sobre esse roteiro na internet, descobri que ele é parcialmente inspirado em algumas experiências de sua diretora Celine Song, e é aquele negócio, às vezes a pessoa acha que sua história pode ser interessante, e de fato até pode ser para alguém além dela mesma, mas particularmente achei que isso aqui ficaria melhor como curta do que como um longa metragem.
Amo o cinema sul coreano, todos os anos eles produzem alguns filmes que dão de 10, 20, 30 no cinema de Hollywood, só que é extremamente irritante ver que eles quase nunca tem o reconhecimento merecido, e quando decidem aclamar uma produção "coreana” ele é falsificada, já que o que temos aqui é uma produção americana, tanto que ele está sendo indicado como representante dos Estados Unidos há inúmeras premiações de filme internacional, pelo amor de Deus, com tanta coisa melhor que poderia ser escolhida, dão destaque para uma verdadeira água de salsicha. Para não dizer que absolutamente nada me agradou, a fotografia é muito boa e as atuações são competentes, mas fora isso, já estava deletando Past Lives da minha cabeça antes mesmo dos créditos começarem. Do que já assisti até agora na temporada de prêmios, essa é de longe, a mais fraca.
Os Rejeitados
4.0 319 Assista AgoraTHE HOLDOVERS
Direção: Alexander Payne
Ano: 2023
Assistido em: 16/12/2023
Nunca fui o cara dos filmes de Natal, desde muito novo eu sempre curti histórias mais mais pesadas, muitas até inapropriadas para minha infância, tanto que das sessões da Globo, a minha favorita sempre foi o Supercine, filmes natalinos geralmente é um só, e na véspera, depois é vida que segue. Como este ano temos um produto do gênero indicado aos principais prêmios da temporada, fui "obrigado a me render”, e cá estou para acompanhar mais uma história de redenção situada no mês de dezembro.
Durante as férias natalinas do ano de 1970, um rabugento professor de história se vê obrigado a ficar na instituição onde trabalha para cuidar de alguns alunos que não poderiam voltar para suas casas. Ele não gosta dos estudantes, e os estudantes o detestam ainda mais, o que obviamente seria a receita perfeita para o desastre, será responsável por uma grande mudança na vida do professor Paul e de Angus, um dos alunos mais problemáticos da instituição.
Nunca assisti nenhum filme do Alexander Payne, as sinopses dele não não fazem a minha praia, e como já disse só estou aqui apenas por conta das premiações, mas até que me surpreendi, The Holdovers é uma história muito leve, traz uma mensagem interessante de que as pessoas podem melhorar com a convivência, que podemos mudar a nossa opinião, que podemos crescer, é um comfort movie daqueles indicados para pessoas que estão na fossa, que estão de baixo astral, daqueles que vão te levar para um novo estado emocional, só que o problema é que cinematograficamente falando ele não traz nada de novo.
A história do aluno que muda devido ao professor, e o professor que muda pelo aluno e blá blá blá, isso aí já foi visto inúmeras vezes, em incontáveis histórias, é claro que a ambientação dos anos 70 traz um diferencial, e o fato das filmagens serem todas em locações reais e praticamente não existir estúdio é bem perceptível. As brilhantes atuações de Paul Giamatti e Da’Vine Joy Randolph enriquecem muito a obra, mas o roteiro é muito simples, obviamente isso não é nenhum crime, nenhum demérito, mas eu esperava mais de um roteiro tão elogiado pelas grandes premiações. Para dizer a verdade, a história caiu um pouquinho no meu conceito quando se livrou dos outros quatro alunos e passou a focar em apenas um deles. Caso a dinâmica fosse entre o professor e todos eles, o resultado final seria melhor.
Simplicidade não é defeito, mas o problema é que escutei/li tantos elogios sobre The Holdovers, que cheguei aqui esperando que ele fosse O FILME, o diferentão da temporada, e não foi isso que aconteceu, ele se alonga demais, é uma comédia dramática bem competente, mas não é daquele que surpreendem, ou que será eternamente lembrado, é uma diversão momentânea, que vai ser rapidamente esquecida daqui um tempinho ou seja, só mais um na multidão.
Rocketeer
3.3 98 Assista AgoraTHE ROCKETEER
Direção: Joe Johnston
Ano: 1991
Assistido em: 03/12/2023
Começando logo por um mea culpa, nunca fui o cara das histórias em quadrinhos americanas, sempre gostei dos heróis da Marvel e da DC, mas nunca fui leitor, e quando se trata de graffic novels de outras editoras, aí que o negócio fica pior. Minha verdadeira paixão sempre foram os mangás, portanto muitas histórias clássicas só conheci depois que foram adaptadas para o cinema, e com The Rocketeer foi a mesma coisa, entretanto o diferencial desse aqui, e que ele veio uns 20 anos antes da aurora da era dos super-herói.
Em 1938 estamos às vésperas da Segunda Guerra Mundial, e somos apresentados a Cliff Secord, um jovem que sonha em desenvolver um avião próprio e se tornar um grande piloto. Entretanto, após um jack pack de última geração desenvolvido pelo grande Howard Hughes, acidentalmente cair em suas mãos, ele se torna alvo de um perigoso espião Nazista, que quer a todo custo essa nova tecnologia para que possa torná-la a principal arma da grande invasão nazi. Caberá a Cliff usar esse objeto para ganhar os céus e se tornar um herói bem diferente daqueles que estamos acostumados.
Em 1991 a franquia Superman já estava mais afundada que o Titanic, e o Batman se preparava para o lançamento de seu segundo título ainda, Batman Returns (1992), do outro lado a pobre da Marvel rastejava com produções de terceira, filmes de herói estavam longe de ser os maiorais das bilheterias. Foi nesse cenário que a Disney e Joe Johnston chegaram com uma proposta bastante interessante, uma produção diferente para o que era produzido na época, e mais diferente ainda do que é produzido hoje em dia. Temos um trabalho bastante caprichado, os figurinos, os cenários, as maquiagens, tudo é muito bem feito, é claro que os efeitos especiais estão datados, já que estamos falando de uma produção de médio orçamento de três décadas atrás, mas que para época funcionava muito bem, e que inclusive envelheceram melhor do que muita coisa que é que foi feita tempos depois.
É muito interessante ver como Johnston trabalha, haja vista que no futuro ele seria o diretor de Captain America: The First Avenger (2011) uma história situada no mesmo período histórico e também sobre um super-herói, mas que foi produzido em condições completamente diferentes de The Rocketeer. O casal Billy Campbell e Jennifer Connelly, no auge de suas belezas, vivem protagonistas bem simpáticos e temos também Timothy Dalton recém saindo de James Bond, interpretando de uma forma bastante canastra um ator de sucesso da década de 1920, ninguém está impecável, mas todos estão na medida para os seus personagens.
O ponto fraco do filme está na sua história extremamente simples, sem nenhuma reviravolta, sem nenhuma surpresa, não que seja algo ruim, mas seria interessante um roteiro que surpreendesse um pouco, tudo vai do ponto A para o B em linha reta, sem nenhum uma curvinha, e narrativamente falando isso é desmotivante. Vi muita gente falando que é um legítimo “Sessão da Tarde”, mas existia nessa sessão muitos títulos que se arriscavam, e The Rocketeer não faz isso, ele só aposta no seguro, e é tudo tão linear que chega ser previsível.
Fora da curva para os padrões dos filmes de super-herói atuais, talvez The Rocketeer possa não chamar a atenção do público que está acostumado com obras inteiramente feitas em tela verde, com batalhas grandiosas em seus terceiros atos, e o malfadado raio azul, mas é uma boa pedida para quem quer algo um pouco diferente, seja na ambientação histórica, seja no tipo de produção ou seja pela forma de interpretação de uma Hollywood que hoje em dia nem existe mais.
Uma Linda Vida
3.1 58 Assista AgoraA BEAUTIFUL LIFE
Direção: Mehdi Avaz
Ano: 2023
Assistido em: 10/12/2023
Confesso que não tenho preconceitos contra gênero cinematográficos, tenho meus preferidos, e tem aqueles que evito, mas ainda, procuro dar algumas chances, mesmo que raramente. Mas se tem uma coisa que admito não ser nada chegado, são os filmes de TV, hoje em dia mais conhecidos como filmes de streaming, é claro que existem aqueles que furam a bolha, Martin Scorsese e David Fincher estão aí produzindo para Netflix, Apple TV, e por aí vai, mas no geral torço sim o nariz para produções dessas empresas, e só cheguei até aqui apenas devido a algumas críticas elogiosas para A Beautiful Life, e decidi dar uma chance, e mesmo a trama não apresentando nenhuma novidade, se tratando de algo vindo da vermelhinha, até que me surpreendi.
Elliot leva uma vida muito simples como pescador, e músico nas horas vagas. Durante uma apresentação de seu amigo, ele é encontrado por uma dona de produtora que decide transformá-lo na nova sensação dinamarquesa. Quem fica responsável pela missão é Lilly a filha da dona, que nunca demonstrou muito interesse em nada, e tudo ficou pior após a morte de seu pai. Entretanto Lilly terá dificuldades, já que Elliot não está muito feliz com o fato da fama vir acompanhada com uma mudança radical de seu estilo de vida.
A Beautiful Life segue praticamente a cartilha americana, temos o talento que é descoberto, temos os perrengues que terão que ser superados ao longo do caminho, temos um casal que vai nascer de um relacionamento improvável, enfim não espere por novidades, porque aqui não tem nada disso, existem dois momentos que me pegaram de surpresa, mas são muito breves, nada que mude o panorama geral da produção, que é uma aposta no seguro e no garantido, é o mais do mesmo de sempre só que dessa vez falado em dinamarquês e não em inglês.
O grande trunfo está na figura de seu protagonista Elliot, ou melhor do Christopher, não conhecia o rapaz, mas fiquei encantado com poder vocal dele, é um excelente cantor, teve algumas músicas mais fraquinhas, mas gostei praticamente de todas, e já estou indo atrás dele no Spotify para poder conhecer o restante de suas canções, e é claro que o fato dele ser um gato loiro de olhos azuis todo tatuado ajudou muito, que homem lindo, foi uma pena que ele não teve química nenhuma com a sua colega de elenco, porque se tivesse teríamos um filme bem melhor.
A Beautiful Life é correto, peca por uma falta de ousadia, por um casal protagonista sem graça pelo lado da moça que é um picolé de chuchu, mas é bem feitinho, aposta no certeiro, tem uma trilha sonora ótima que ajuda a embalar o público, enfim é aquele filme indicado para um dia que você só quer se distrair um pouquinho, que está de bom humor, e quer dar um up no astral. Mesmo sendo uma pessoa contra filmes de streaming e que abertamente considera a esmagadora maioria deles arte inferior, devo admitir que esse aqui até conseguiu me conquistar.
Capote
3.8 373 Assista AgoraCAPOTE
Direção Bennette Miller
Ano: 2005
Assistido em: 09/12/2023
Até semana passada, Truman Capote para mim era apenas mais um escritor americano, tudo que sabia que ele tinha feito era o livro Breakfast at Tiffany's (1958). Eu até já tinha ouvido falar a respeito de In Cold Blood (1967) nas minhas pesquisas, mas não fazia a menor ideia de que se tratava de uma história real, escrita pelo Capote e que existia toda uma trama sombria por trás da mesma. Só fui tomar conhecimento de todo esse imbróglio na semana passada e imediatamente fui conferir o longa do Richard Brooks e logo em seguida atrás desse aqui, que funciona como paralelo ao original.
Em 1959 a família Clutter é brutalmente assassinada, o caso logo toma as manchetes dos Estados Unidos e desperta o interesse de Truman Capote. O escritor viaja para a pequena Holcomb, no Kansas, com o intuito de escrever sobre o caso. Entretanto, o que ele não poderia imaginar é que ao conhecer os responsáveis pelo crime, mergulharia profundamente na mente dos assassinos. À medida que Truman vai escrevendo o seu livro, ele se envolve cada vez mais com Perry Smith, ao ponto de misturar o seu interesse profissional com interesse pessoal.
Uma das frases mais famosas do Friedrich Nietzsche diz que: “quando você olha muito tempo para o abismo, o abismo olha de volta para você”, e acredito que o Capote é uma prova viva desta afirmação. Em seu afã de criar uma história diferente de tudo aquilo que era escrito até então, ele acabou mergulhando demais nas profundezas da mente perturbada de Dick e principalmente de Perry, o roteirista se encantou por aqueles assassinos, muitos dizem que ele até se apaixonou por Perry, não sei a veracidade disso, afinal ele não assume isso em nenhum momento do filme, mas é inegável que a sedução e manipulação do Perry o enredou. É claro que Capote também se favoreceu, e soube usar muito bem os criminosos, mas é inegável que Truman foi hipnotizado por aqueles dois, tal qual a sociedade, que constantemente fica fascinada por criminosos, exemplos existem aos montes.
O falecido Philips Seymour Hoffman era um ator brilhante, e temos aqui aquele que provavelmente é um dos seus maiores, senão o seu maior papel, eu nunca cheguei a pesquisar nada sobre o Capote verdadeiro, mas a interpretação de Hoffmann é absurda, os trejeitos, os maneirismos, a forma de falar, você esquece o ator, ele conseguiu se anular por completo, basta ver a voz 100% diferente da voz real dele, sem sombra de dúvidas um Oscar merecidíssimo.
Bennette Miller nos entrega um filme que trata de um assunto tão pesado mas de uma maneira extremamente leve, a única coisa que me deixou um pouquinho com pé atrás é que a vida pessoal do Truman sequer foi citada, sabemos que ele era assumidamente homossexual, que era casado, e que isso naquela época, anos 1950/1960, era um problema, mas Miller perde a oportunidade de tratar esse assunto. Sei que na segunda metade dos anos 2000, os grandes estúdios pelo menos, não eram muito adeptos a esse tipo de discussão, mas basta lembrar que o próprio Capote disputou o Oscar de melhor filme com Brokeback Mountain (2005).
Capote é uma cinebiografia de recorte muito específico, nós não vamos ver a infância, não vamos ver a morte do biografado, apenas um período de sua vida, mas não é qualquer período, vemos a criação da magnus opus do escritor, mas também nos mostra o impacto que toda a história teve na vida dele, pelo resto dos seus dias, o autor nunca mais concluiu nenhum outro livro, e levando em consideração todo “o processo de criação”, acho que isso é mais do que justificável.