Thiago Vianna

Para além da polêmica envolvendo a escalação do ator Eddie Redmayne para viver uma personagem trans (porque não dar a oportunidade para uma atriz trans, garantindo assim maior veracidade e mais visibilidade para essa minoria?), "A Garota Dinamarquesa" também possui outras questões. Esteticamente falando o filme demonstra a mesma oscilação que Tom Hooper apresentou no questionável "O Discurso do Rei", ora revelando ser um compositor de enquadramentos inspirado, ora parecendo ser um adolescente filmando com um Iphone. Mas estaria mentindo se dissesse que o filme não funciona como estudo de personagem, mesmo que a trama às vezes se aproxime de um melodrama maniqueísta feito para conseguir votos no Oscar. Com o passar da projeção nos pegamos nos importando com Lili e Gerda e essa, certamente, era uma das principais intenções do longa. "A Garota Dinamarquesa" é um filme que é eficiente, portanto, pelo retrato humano e complexo que faz de suas duas protagonistas, ainda que o tom quase deslize nas curvas do dramalhão de telenovela.

Dos filmes focados na Nova Geração, "Star Trek - Nêmesis" é o mais bélico de todos. Talvez tentando pegar carona no final de 'Deep Space Nine' que havia terminado pouco tempo antes e que tinha na guerra contra o 'Domínio' o seu principal plot. Por si só, focar mais na ação e menos na aventura espacial não necessariamente seria um problema (as próprias séries de Star Trek alternam entre episódios mais 'cabeça' e mais de entretenimento). Mas aqui se torna por conta do roteiro ruim, excessivamente insosso, que cria um vilão mal escrito com a motivação mais genérica de todas. Os personagens aqui parecem meio perdidos, correndo para cima e para baixo como baratas tontas, e qualquer profundidade maior que o plot poderia oferecer ao personagem de Jean Luc-Picard é jogado no lixo. Para não dizer que é de todo ruim, a direção é competente e os efeitos especiais não deixam a desejar. Tecnicamente eficiente, e só.

Filmes de princesas sempre salvaram o pescoço - e o bolso - de Walt Disney quando este andava mal das pernas financeiramente. Foi assim no começo do estúdio com "Branca de Neve", na retomada das animações após a 2ª Guerra com "Cinderela" e, aqui, enquanto ele estava se chafurdando em dívidas para criar o seu primeiro parque temático, o que lhe deu um alento financeiro foi "A Bela Adormecida". E dessa trinca, "A Bela Adormecida" pode talvez não ser o filme mais emblemático, mas é certamente o que tem a animação melhor dirigida - ter sido feito posteriormente no tempo, e com as técnicas mais bem desenvolvidas também ajuda. É também o que tem a antagonista mais interessante e um desfecho envolvente. Mas a trama demora a engrenar, perde tempo com digressões desnecessárias, e a pouca presença da protagonista - limitada, obviamente, pela trama - faz com que ela perca em carisma. Na trilha sonora, Tchaikovsky, o que traz uma sofisticação erudita a uma animação puramente infantil.