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Últimas opiniões enviadas

  • シルビオ

    É o primeiro de dois filmes do Tora-san que não foram dirigidos pelo Yoji Yamada. Apesar de sua presença através do roteiro, pode-se notar algumas variações no tom do filme, inclusive o lado cômico ficou enfatizado desde a abertura da sessão. Dessa vez, o sentido de フーテンの寅, “Tora, um viajante andarilho” no título insiste também no desenraizamento do personagem.

    Tora-san segue viajando, mas também se questiona sobre a possibilidade de se casar e aderir à vida pacata dos moradores de Shibamata. Nesse aspecto, o filme reproduz perfeitamente a fórmula “Yamada” com a decepção da família, o retorno de Tora-san e a sua desilusão amorosa. Tudo pontuado pelo humor e a presença de uma heroína romântica.

    Interpretada com muita elegância por Michiyo Aratama, Oshizu ficou uma “Madonna” menos carismática que as duas precedentes, diga-se de passagem. Pode ser que alguns aficionados do cinema nipônico se surpreendam mais com a presença inusitada de Masumi Harukawa (atriz imamuriana de “Intentions of Murder”) numa cena divertida e o cameo de Kirin Kiki na época de menina, muito antes de se consagrar em papéis maduros. Charme incomparável!

    Apesar dos elementos dramáticos não terem a mesma coesão dos dois primeiros filmes, o humor foi muito bem trabalhado. Vale ressaltar a primeira aparição entre muitas ao longo da série de Tora-san vestido à moda japonesa feudal que atribui ao imaginário do personagem um tom teatral e até atemporal para o público japonês. Tora-san é engraçado por natureza e possui um grande coração. Enquanto ajuda no casamento dos outros, acaba esquecendo de si mesmo. Não tem sorte no amor, mas sempre cai nas graças do espectador.

    Confirmado, o desfecho com Tora-san na TV faz perdoar qualquer equívoco roteirístico, tão genial quanto o almoço com o chefe da irmã no primeiro filme e a entrada da mãe no segundo.

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  • シルビオ

    Poderia se chamar “Mamãezinha Querida” esta continuação, por assim dizer, do Tora-san, e ser algo como slice-of-life de um malandro viajante em busca de sua mãe, retraçando suas origens para melhor compreender o seu desenraizamento da terra natal. Esta que talvez seja o grande tema na poética popular brilhantemente representada no cinema de Yoji Yamada.

    Citando um grande cinéfilo alemão que todos adoramos, “os maiores cineastas realizam sempre o mesmo filme”, elogiando o gesto da repetição principalmente no cinema autoral que permite o diretor de elaborar características que o espectador poderia vir a reconhecer de um filme ao outro. E com este olhar a influência de Ozu aqui se torna inevitável.

    Yamada começou a carreira no mesmo estúdio de Ozu e dizia sempre cruzar o caminho dele na Shochiku dos anos 50. Também revelou não gostar das narrativas ozuescas que descrevia como herméticas, alienadas da miséria do pós-guerra e das injustiças sociais, pois sonhava com um cinema que representasse a pobreza da época. O resultado foi o inverso, Yamada evoca no público o sentimento de similaridade com o cinema de Yasujiro Ozu.

    Até em “É duro ser homem” (tradução literal do título japonês 男はつらいよ), assim como “Que mundo triste” ou “A vida é feita de encontros e despedidas” deste filme lembraram-me “A vida não é decepcionante?” do filme mais conhecido de Ozu. O “estilo Ofuna” dos cineastas da Shochiku acabou por se manifestar no universo de Yamada com a simplicidade das intrigas, o fraseado eloquente e o olhar extremamente sensível para com os seus personagens.

    Apesar de buscar exatamente o oposto, Yamada não representava a personalidade vulgar de Tora-san (que o próprio se diz no filme um “yakuza caipira”) de maneira a romper com o classicismo fílmico nipônico (que era o caso da new wave), mas acabou por exaltar o cinema popular e emocionar um grande público. Isso se deve a narrativas repetitivas que deixam o público familiarizado com Tora-san e até ouvem a mesma piada mais de uma vez!

    Que proeza escrever uma continuação tão divertida do primeiro filme com estrutura idêntica: ele deixa a família decepcionada, um mês depois retorna apaixonado, pronto para dessa vez se decepcionar a si próprio. A razão do seu drama é o amor não-recíproco da figura feminina dita em japonês “madonna” (マドンナ), interpretada em cada filme por uma atriz diferente, no sentido quase religioso da mulher delicada e pura. Logo, inacessível para o protagonista.

    Tora-san, então, vai sonhar ao longo de mais de quarenta filmes com a companhia de uma amada. Inclusive, o onirismo dele se torna um símbolo essencial que se repete na abertura de (quase) todos os filmes. Apenas a figura de sua mãe biológica aqui mereceria um comentário a parte, tamanha a riqueza visual da cena do reencontro com projeção de luzes e cores que ouso dizer de passagem à la D.Sirk-R.Metty. Que mãe eloquente com seu charme avarento!

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  • シルビオ

    Tora-san está no fundo do coração do cinema popular japonês. Além de ser a maior série de filmes com o mesmo personagem, as cinquenta sessões em questão são um verdadeiro convite para aqueles que desejam se aprofundar no pensamento e nos paradoxos da sociedade japonesa. Uma fonte inesgotável de material linguístico para estudar o idioma com o nosso vagabundo predileto, Torajiro Kuruma, mais conhecido como Tora-san.

    Ele é caracterizado pelo seu lado rústico com um linguajar informal e vocabulário que pode passar rapidamente da simplicidade à grosseria. O seu humor intrínseco aos filmes ressalta com frequência estereótipos do imaginário popular. A presença da figura do caipira se comparada aos outros, na sedução, família ou no trabalho, explora de maneira lúdica contradições sociológicas no interior do dicionário de etiquetas do japonês.

    Considerado um sujeito em perigo de extinção, Tora-san simboliza o ser marginalizado numa sociedade pautada em sistemas, códigos e empresas, sentindo-se deslocado onde quer que esteja. Demasiado vulgar para trabalhar em lugares formais, completamente desajeitado deixando os outros com vergonha e até mesmo feio como um cão chupando manga e pronto para espantar as moças ao seu redor, mas por que o perfil do Tora-san deixaria de existir?

    De fato, o japonês possui na essência marcadores de polidez, sufixos, pronomes e declinações infinitas para expressar níveis de formalidade inimagináveis. Eles aprendem desde pequeno o funcionamento deste discurso coletivo de nunca incomodar o outro. Até mesmo Tora-san precisa navegar nas sutilezas do idioma e não pode tratar todo mundo da mesma maneira, mas num ambiente de polidez extrema, o mal-educado é o transgressor do código dominante. Poucos desejam ocupar este lugar socialmente marginalizado.

    Tora-san ousa dizer e fazer coisas que a maioria não faria por receio das normas sociais. O desconforto que ele causa nas pessoas é a alma do humor em seus filmes e a razão de ter se tornado uma figura amada por espectadores japoneses de diferentes classes sociais. Além de ter um grande coração, é autêntico e não tem medo de se mostrar inteiramente aos outros com vícios e virtudes. Muitos consideram que o falecimento do ator Kiyoshi Atsumi foi como se os japoneses tivessem perdido Tora-san, mas em memória e também com uma bela estátua em Shibamata de Katsushika, Tóquio, ele sempre vai viver no imaginário das pessoas.

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