Jornal Nota

Acabei de assistir Fúria Primitiva (2024), filme de Dev Patel, e digo que foi um dos melhores filmes que vi este ano. Listo algumas coisas que pensei enquanto assistia:

1- Ele é o que Mad Max nunca vai conseguir
2- Alguns momentos lembra um capítulo de novela do Carlos Lombardi: as constantes fugas e disfarces, entre a ação e o quase humor
3- No meio, o filme surpreende encaixando a jornada do herói
4- O vilão é o Negan árabe
5- As cenas de ação são espetaculares

O que é mais bonito no filme é que as escolhas estéticas de Botelho escaparam de fazer um filme frio, distante, como é comum em casos de suicídio. Pelo contrário, o filme tem algo de voyeurístico, na medida em que acompanha e espia com a câmera que treme próxima aos personagens não só o vazio da vida após a perda do filho, mas as nuances dos rostos e gestos pequenos, mas que saltam gigantes em nossos olhos. O filme cria, inclusive, uma recombinação entre o tédio dos pequenos gestos do cotidiano e o sentimento de perda, mostrando como essas camadas se sobrepõem na experiência dos dois idosos.

Leia mais aqui:
https://jornalnota.com.br/2024/06/06/a-metade-de-nos-2024-filmar-a-perda-de-um-filho-e-ouvir-o-grito-do-silencio/

Achei o filme interessante por conta de dois motivos:

1- Os EUA tradicionalmente fazem guerras, porém, é também histórico que eles adoram fazer guerras nos territórios de outros países.

Guerra Civil inverte isso: a guerra não é no Vietnã nem no Afeganistão, mas dentro de sua própria terra, com insurgentes do próprio povo. E eles mal reconhecem a guerra dentro deles.

2- Guerra Civil poderia ter sido um filme muito comum. O que impediu isso foi a escolha de narrar do ponto de vista de jornalistas. Jornalistas são aqueles que estão no centro da guerra, mas não portam armas. Eles ssão o centro da informação, mas não podem ser assassinados, pelo menos não em uma guerra comum.

Jornalistas são testemunhas.

Juntando essas duas coisas, Guerra Civil deixa de ser um filme sobre uma guerra civil propriamente dita e passa a ser da tentativa de narrar uma guerra civil e registrá-la por palavras e imagens.

Mas nenhuma guerra deixa palavras pra gente narrar. Guerras são imagens cravadas dentro de quem viveu.