O gênero de suspense é acostumado a nos apresentar a personagens que possuem algum tipo de limitação física e se vêem envolvidos em situações que exigem tudo do ponto de vista psicológico deles. Foi assim com o personagem interpretado por James Stewart no clássico “Janela Indiscreta” e com o escritor vivido por James Caan em “Louca Obsessão”. E este também é o caso de Susy Hendrix, mulher interpretada por Audrey Hepburn no filme “Um Clarão nas Trevas”, do diretor Terence Young.
Baseado na peça de Frederick Knott (autor também do material original que originou “Disque M Para Matar”), “Um Clarão nas Trevas” tem um começo bastante didático. Homem (Jean Del Val) confecciona um boneca recheada de heroína. Mulher (Samantha Jones) transporta o brinquedo de Montreal até os Estados Unidos, aonde entrega o produto para um fotógrafo chamado Sam Hendrix (Efrem Zimbalist Jr.) – que não sabe da existência das drogas. Quando ela e seu cúmplice tentam reaver a posse da boneca, os problemas começam.
É a partir deste momento que “Um Clarão nas Trevas” se transforma num puro filme de suspense. Em um único ambiente (o apartamento do casal Hendrix), acompanhamos a jornada de Susy (Hepburn), a esposa de Sam. Ela ainda está em fase de adaptação ao mundo depois de ficar cega e terá que lutar pela sua sobrevivência em meio à encenação armada pelo aterrorizante Roat (Alan Arkin) e pela dupla Carlino (Jack Weston) e Mike Talman (Richard Crenna).
O diretor Terence Young pode não ser um mestre do suspense como Alfred Hitchcock, mas entrega um filme tenso, cujo clímax é agoniante. O fundamental em “Um Clarão nas Trevas” é a qualidade do roteiro de Robert e Jane-Howard Carrington, que apresenta todos os elementos vistos em tela com muita calma, numa preparação para o momento mais importante do filme. Também é oportuno destacar a atuação da dupla Audrey Hepburn e Alan Arkin. Ela, numa interpretação que lhe rendeu sua quinta indicação ao Oscar de Melhor Atriz. E ele, numa atuação que cria um dos vilões mais bizarros e malvados do gênero. Seu Roat consegue evoluir do homem frio à mestre dos disfarces e, finalmente, ao assassino frio e psicótico do final com uma destreza que nos deixa, literalmente, como Susy. Estamos todos no escuro com ela.
É impossível olhar para Mary e não se lembrar de Briony Tallis (Saoirse Ronan, numa atuação indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Em comum entre as duas, além da pouca idade, o fato de que ambas falaram uma mentira que ganhou enormes proporções e que acabou, de certa forma, causando um efeito negativo e irreversível na vida de algumas pessoas. A diferença é que, ao contrário de Briony, que foi movida pela sua inexperiência de vida e por ciúmes, Mary tem um instinto maquiavélico dentro de si mesma. Ela é uma mentirosa compulsiva e utiliza de táticas como chantagem e manipulação emocional para fazer com que algumas pessoas façam exatamente aquilo que ela deseja – fato que chega a ser chocante, afinal estamos falando somente de uma criança.
“Infâmia”, filme dirigido por William Wyler, tem um roteiro (escrito com base na peça de Lillian Hellman) que vai fundamentar muito bem o por quê da mentira criada por Mary ter sido aceita e propagada na pequena cidade aonde Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine) mantêm uma escola para garotas. As duas professoras se conheceram na faculdade e são amigas muito próximas e carinhosas uma com a outra. Para “agravar” a suspeita de que as duas, na cabeça de Mary, teriam um caso homossexual, tem a acusação da tia de Martha (Miriam Hopkins) de que esta estaria com ciúmes do iminente casamento de Karen com o médico Joe Cardin (James Garner).
Além de falar sobre como um simples boato pode acabar trucidando com a vida de alguém – nesse caso, a de duas mulheres jovens, que estavam trabalhando duro para colocarem um sonho e projeto de vida em prática -, “Infâmia” fala a respeito de temas como honra e como a mentira criada acaba fincando raízes na própria vida daquelas pessoas que são vítimas dela, criando desconfiança nos relacionamentos e fazendo com que Martha, especialmente, passe a questionar tudo aquilo que está reprimido dentro dela mesma – o que chega a ser uma discussão interessante, mas que perde força porque é toda jogada para um último ato em que tudo acontece rápido demais.
Obra indicada a 5 Oscars, em 1962, “Infâmia” é um filme que tem uma característica totalmente teatral – coisa óbvia, afinal estamos falando da adaptação de uma peça de teatro. Toda a direção de William Wyler tem como objetivo realçar o trabalho dos atores (preste atenção nas magistrais atuações de Shirley MacLaine, Fay Bainter e na da jovem Karen Balkin – basta dizer que ela será a criança que você mais vai odiar por um bom tempo) e do roteiro. Uma pena, como já dissemos, é o fato de que, no seu ato final, “Infâmia” opte por colocar uma série de acontecimentos interessantes e que seriam pontos de transição importantes nesta história todos acontecendo ao mesmo tempo – o que faz com que a obra perca parte de seu impacto, mas, mesmo assim, não deixa de ser um filme pungente e triste.
Tomate Verdes Fritos, realizado em 1991 pelo americano Jon Avnet, é possivelmente o melhor trabalho do cineasta e está entre os melhores filmes das últimas décadas.
Avnet dirigiu o ótimo Justiça Vermelha, com Richard Gere, As Duas Faces da Lei, Íntimo e Pessoal e 88 minutos, esse tendo a participação de Al Pacino. Nenhum deles é tão completo quanto Tomates Verdes Fritos.
O filme que estamos comentando está acima da média por conta do excelente roteiro, devido à direção elegante e sensível de Jon Avnet, pela bela fotografia exibida durante quase todo o tempo e pela história envolvendo ricos personagens, interpretados por um elenco que não é exagero classificar como extraordinário.
Evelyn é uma dona de casa insegura e reprimida, solitária porque o marido alienado só pensar em assistir jogos na TV, comer e encontrar tudo arrumadinho quando chega do trabalho. Sua tristeza, suas mágoas, ela tenta compensar comendo doces, que a deixam gordinha e complexada.
No hospital, ao visitar uma tia, Evelyn conhece Ninny, uma senhora de 83 anos com a qual vai se afeiçoando desde que começa a ouvir suas histórias.
Jessica Tandy, já com seus 80 anos, é um dos destaques do filme, tendo na época do lançamento do longa arrancado elogios da crítica especializada e do grande público. Não é à toa que foi indicada para o Oscar de Melhor atriz de 1992.
Ninny relembra a amizade de Ruth e Idgie. A primeira uma moça meiga, bonita, que casa com um sujeito tosco, membro da Ku Klux Klan. Idgie descobre que o homem bate na esposa e revolve enfrentá-lo. Com ajuda de seus amigos negros termina por livrar a amiga do grosseirão.
Idgie é apresentada desde criança como uma pessoa rebelde, voluntariosa, inteligente, corajosa. Logo nas primeiras cenas a moça sofre uma grande perda quando seu irmão Buddy (Chris O´Donnel ainda bastante jovem) é atropelado por um trem.
Vivendo no mesmo ambiente, tratando os negros com dignidade, Idgie e Ruth terminam por ser discriminadas e correm riscos, principalmente por conta do instinto ruim de Frank Bennet, o marido abandonado.
O expectador vai sabendo dessa trama aos poucos, em flash back, enquanto a velha Ninny conquista cada vez mais o coração da angustiada Evelyn.
É graças a essa senhora de mais de 80 anos que Evelyn dá a volta por cima, começa a valorizar seu corpo, sua vida e cria coragem para desafiar o boboca do marido.
Toda semana Evelyn visita Ninny e escuta mais sobre o drama envolvendo Ruth, Idgie e Frank Bennet. Este, com seus amigos da Klan, tenta atemorizar a comunidade e faz ameaças a quem é amigo dos negros.
Depois, mais na frente, Frank tentar roubar o filho de Ruth. Quando ela deixou o marido estava grávida e teve a criança já vivendo com seus novos amigos.
O tirano se dá mal e desaparece, ficando claro para o espectador que ele foi assassinado logo após tentar levar o menino e agredir os que tentaram impedir sua ação.
Um policial vindo de outro Estado começa a investigar o caso sem conseguir solucioná-lo porque nunca foi encontrado o corpo.
As histórias paralelas – a do passado e a do presente – são contadas com grande sensibilidade. Você tanto se apega aos personagens jovens, principalmente a Idgie e Ruth, quanto aos mais maduros e velhos, caso de Evelyn e Ninny.
Tomate Verdes Fritos trata das questões da terceira idade, fala de relacionamentos conturbados, foca a questão do racismo nos Estados Unidos, aborda a luta por liberdade e a procura de mulheres pela recuperação da auto-estima.
Embora Jessica Tandy brilhe mais que todos em meio ao elenco de alto nível, merece atenção também a interpretação de Kathy Bates para a dona de casa Evelyn.
O filme tem momentos comoventes, belos, faz você rir e chorar, pois a tristeza domina alguma cenas. É uma obra cinematográfica de arte, no seu conjunto com uma mensagem otimista. Quem assiste Tomates Verdes Fritos certamente passa a encarar a vida com mais esperança e se convence que em meio à dor, ao sofrimento, a pessoas estúpidas e más existe espaço para os bons, existe amizade verdadeira, existe amor.
É para guardar na memória e ter sempre na estante, junto de outras obras inesquecíveis da sétima arte.
Uma lendária espada chamada “Destino Verde”, pertencente a legendário guerreiro agora em crise existencial; sua companheira de lutas de longa data; uma rebelde princesa adolescente; e Raposa Jade, guerreira famosa por cometer atos desonrosos. Todos eles são personagens de uma bela história passada numa remota China.
Tudo começa quando o mestre wudan Li Mu Bai (Chow Yun-Fat), em crise existencial, decide encerrar uma fase sangrenta de sua vida e começar uma outra, e, simbolizando isso, presenteia um velho amigo, o Senhor Te, com sua lendária espada “Destino Verde”. Para tanto, pede à sua amiga Shu Lien (Michelle Yeoh), também grande guerreira, que faça a entrega da espada. Porém, depois de entregue, a “Destino Verde” é roubada na mesma época da visita do Governador Yu e sua jovem filha Jen (Zhang Ziyi) à casa de Te.
Logo o espectador fica sabendo que Raposa Jade é tutora da princesa Jen e que Li Mu Bai busca vingar-se dela, uma vez que ela havia assassinado seu mestre.
Daí iniciam-se as lutas de artes marciais, uma das duas coisas que o filme tem de melhor. As coreografias incríveis são de Yuen Wo-Ping, de “Matrix” (1999), e estão acompanhadas por efeitos especiais simples mas competentes. Os personagens são capazes de fazer coisas surpreendentes, como planar, saltar direto do chão ao alto de prédios, correr sobre a água, etc. Nesse ponto, “O Tigre e o Dragão” tem um caráter fantasioso, tratando de pessoas com habilidades que não existem e na verdade nem poderiam existir. Mas o filme nos traz uma idéia não de que “não possa existir”, e sim de que “não mais existe”. Isso se deve ao fato de que dentro de sua história o filme trata de pessoas reais, com habilidades possíveis para o mundo em que habitam. Os seus personagens são capazes de fazer o que tudo o que fazem na tela, mas em nenhum momento são tidos como “super-heróis”. Em outras palavras, o espectador é levado a crer que as cenas de luta eram perfeitamente possíveis na época em que se passa a história, porque ela é tão bem retratada que o que era ficção/fantasia no filme praticamente desfaz-se e torna-o uma mistura entre os genêros épico e dramático. Essa é a sua grande sacada.
Para isso grandes personagens são fundamentais. Li Mu Bai é um guerreiro de grande fama, equilibrado e contido; Shu Lien é também famosa e contida, só que ostenta ainda uma força e uma segurança tipicamente femininas, que lhe dão uma falsa natureza de mulher idealizada, ou seja, apenas aparentemente ela é idealizada. Ela parece, à primeira vista, auto-suficiente, mas como qualquer outra pessoa, possui carências. Aí justifica-se o fato de que Li Mu Bai e Shu Lien, amigos de longa data, nutram entre si uma fortíssima paixão bloqueada. São duas pessoas fantásticas que se amam mas que, simplesmente, enfrentam o problema de que uma não consegue dizer à outra o que sente. Assim os dois têm (notadamente Shu Lien) uma falsa aparência de idealização. Já a princesa Jen é, dentre todos os personagens, a mais densa, favorecida por apresentar a ambigüidade típica da adolescência: ora ela comporta-se como a classe alta a que pertence deseja, compromissada com a responsabilidade que envolve os que estão no poder; ora ela dispara seu lado de guerreira (sim, a princesa Jen é também grande guerreira, graças a ensinamentos de Raposa Jade, como o espectador verá). Deseja ela fugir da responsabilidade e do conforto, mas recusa todas as ofertas que lhe são feitas. De várias maneiras pode ser vista, mas uma frase de Raposa Jade me parece a que melhor a define: “aos oito anos e já era um poço de falsidade”. Por fim, Raposa Jade é a grande vilã da história mas é também alguém que ama outras pessoas, que sofre injustiças e que busca a felicidade.
Claro que tudo isso não seria possível sem a ajuda de um grande elenco. O trio de mulheres é o grande destaque nessa área, e dentre elas Michelle Yeoh é a melhor. Uma injustiça ela não ter ao menos concorrido ao Oscar de melhor atriz.
Assim, as maiores qualidades do filme estão nas suas cenas de lutas e na complexidade de seus personagens.
Direção de arte, fotografia e figurino são mais méritos de “O Tigre e o Dragão”, que faturou a estatueta nas duas primeiras categorias e recebeu indicação na terceira. Os efeitos especiais usados são um espetáculo, mas não um espetáculo à parte, o que no caso aqui é bom, porque naqueles em que os efeitos especiais são um “show à parte” eles quase sempre parecem pertencer fora ao filme (e vice-versa), ficando desacoplados, isolados, como se assim fosse: “olhe, veja, agora teremos uma cena com tal efeito especial! E daqui a pouco outra, feita só com computação gráfica”. Já o roteiro pode até ser acusado de desperdiçar boas possibilidades e supervalorizar algumas menores, mas ele é sem dúvida outro destaque do filme.
Um filme também oriental, que fez muito menos sucesso que “O Tigre e o Dragão” mas que podemos considerar como o antecessor deste, é “Entre o Amor e a Glória” (1993), do diretor Ronny Yu. O grande problema de “Entre o Amor e a Glória” é o fato de ele ser um épico pouco definido entre comédia, drama e fantasia. Mas ambos os filmes têm histórias belíssimas e personagens idem. Porém pesa em “O Tigre e o Dragão” a densidade que Ang Lee impôs em seu filme (e também o orçamento).
Elenco, personagens, coreografias, direção de arte e fotografia: esses são os grandes méritos de “O Tigre e o Dragão”. Claro que não se pode esquecer de seu diretor, que reuniu os elementos de maneira harmônica e fez um filme denso, bem ao agrado da Academia.
Um drama biográfico sobre uma das maiores escritoras da Inglaterra e sua influencia na vida de duas mulheres distintas.
Daldry, diretor de Billy Elliot, se superou ao entregar um filme forte, sério e brilhante. Seu desempenho ao tentar transformar o roteiro – adaptado da obra homônima de Michael Cunningham – em um filme não poderia ser melhor.
A utilização da “viagem no tempo” na edição do filme pode ser um pouco confusa, porém ao terminar de assisti-lo, as peças começam a se conectarem e tudo começa a se responder, principalmente se relacionando às mortes na história do filme. Uma fato interessante é que Daldry filmou primeiramente a sequência de Meryl Streep no ano de 2001, depois a sequência de Julianne Moore no ano de 1951 e, por fim, a sequência de Nicole Kidman no ano de 1923.
Em relação ao elenco não há dúvidas do que se poderia esperar. Atuações brilhantes, dignas de Oscar, e foi o que acabou acontecendo três brilhantes atores receberam indicações (Nicole Kidman, Ed Harris e Julianne Moore) sendo que Kidman levou a estatueta de Melhor Atriz no ano de 2003. Kidman está em seu ápice de brilhantismo, atuação idêntica a essa só em Moulin Rouge! Amor em Vermelho, ela aprendeu a escrever com a mão direita, teve que usar um nariz falso – para se parecer com Virgínia Woolf – e tudo isso não afetou sua magnífica atuação. Outro fato interessante foi que Nicole Kidman é a atriz que menos aparece no filme – 30 minutos – enquanto Julianne Moore e Meryl Streep aparecem 33 e 42 minutos respectivamente.
Moore mostrou que não deve ser esquecida no filme, ela interpretou Laura Brown, uma mulher grávida que está lendo o livro de Virgínia Woolf e começa a ser influenciada pelo mesmo, até um ponto onde ela deixa seu filho na casa de uma amiga e resolve ir para um hotel para comete suicídio. A cena do suicídio foi muito bem feita, toda a água que saia debaixo da cama está absolutamente incrível. Ela mostra com tanta vivacidade a vulnerabilidade de uma pessoa que já não sabe mais se sua vida rotineira e monótona é realmente válida.
Já na sequência de Meryl Streep encontramos dois pontos, o primeiro é a ótima interpretação de Ed Harris, o segundo é – para surpresa de todos – a, apenas boa, interpretação de Meryl Streep. Harris, que interpreta Richard, está deslumbrante, já Streep, que interpreta Clarissa, tem um personagem com o qual ela poderia abusar em sua personificação, porém tem apenas bons momentos nas cenas contracenadas com Ed Harris, em outras – com exceção de suas últimas cenas – ela está um pouco fraca e trêmula.
Com brilhantes atuações, roteiro e direção ótimos e uma trilha sonora magnífica, As Horas é um ótimo filme, talvez seja necessário um pouco de tempo e de mente aberta para entendê-lo, porém é maravilhoso quando se assimila e, por fim, se emociona.
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Um Clarão nas Trevas
4.2 185O gênero de suspense é acostumado a nos apresentar a personagens que possuem algum tipo de limitação física e se vêem envolvidos em situações que exigem tudo do ponto de vista psicológico deles. Foi assim com o personagem interpretado por James Stewart no clássico “Janela Indiscreta” e com o escritor vivido por James Caan em “Louca Obsessão”. E este também é o caso de Susy Hendrix, mulher interpretada por Audrey Hepburn no filme “Um Clarão nas Trevas”, do diretor Terence Young.
Baseado na peça de Frederick Knott (autor também do material original que originou “Disque M Para Matar”), “Um Clarão nas Trevas” tem um começo bastante didático. Homem (Jean Del Val) confecciona um boneca recheada de heroína. Mulher (Samantha Jones) transporta o brinquedo de Montreal até os Estados Unidos, aonde entrega o produto para um fotógrafo chamado Sam Hendrix (Efrem Zimbalist Jr.) – que não sabe da existência das drogas. Quando ela e seu cúmplice tentam reaver a posse da boneca, os problemas começam.
É a partir deste momento que “Um Clarão nas Trevas” se transforma num puro filme de suspense. Em um único ambiente (o apartamento do casal Hendrix), acompanhamos a jornada de Susy (Hepburn), a esposa de Sam. Ela ainda está em fase de adaptação ao mundo depois de ficar cega e terá que lutar pela sua sobrevivência em meio à encenação armada pelo aterrorizante Roat (Alan Arkin) e pela dupla Carlino (Jack Weston) e Mike Talman (Richard Crenna).
O diretor Terence Young pode não ser um mestre do suspense como Alfred Hitchcock, mas entrega um filme tenso, cujo clímax é agoniante. O fundamental em “Um Clarão nas Trevas” é a qualidade do roteiro de Robert e Jane-Howard Carrington, que apresenta todos os elementos vistos em tela com muita calma, numa preparação para o momento mais importante do filme. Também é oportuno destacar a atuação da dupla Audrey Hepburn e Alan Arkin. Ela, numa interpretação que lhe rendeu sua quinta indicação ao Oscar de Melhor Atriz. E ele, numa atuação que cria um dos vilões mais bizarros e malvados do gênero. Seu Roat consegue evoluir do homem frio à mestre dos disfarces e, finalmente, ao assassino frio e psicótico do final com uma destreza que nos deixa, literalmente, como Susy. Estamos todos no escuro com ela.
Infâmia
4.4 300É impossível olhar para Mary e não se lembrar de Briony Tallis (Saoirse Ronan, numa atuação indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). Em comum entre as duas, além da pouca idade, o fato de que ambas falaram uma mentira que ganhou enormes proporções e que acabou, de certa forma, causando um efeito negativo e irreversível na vida de algumas pessoas. A diferença é que, ao contrário de Briony, que foi movida pela sua inexperiência de vida e por ciúmes, Mary tem um instinto maquiavélico dentro de si mesma. Ela é uma mentirosa compulsiva e utiliza de táticas como chantagem e manipulação emocional para fazer com que algumas pessoas façam exatamente aquilo que ela deseja – fato que chega a ser chocante, afinal estamos falando somente de uma criança.
“Infâmia”, filme dirigido por William Wyler, tem um roteiro (escrito com base na peça de Lillian Hellman) que vai fundamentar muito bem o por quê da mentira criada por Mary ter sido aceita e propagada na pequena cidade aonde Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine) mantêm uma escola para garotas. As duas professoras se conheceram na faculdade e são amigas muito próximas e carinhosas uma com a outra. Para “agravar” a suspeita de que as duas, na cabeça de Mary, teriam um caso homossexual, tem a acusação da tia de Martha (Miriam Hopkins) de que esta estaria com ciúmes do iminente casamento de Karen com o médico Joe Cardin (James Garner).
Além de falar sobre como um simples boato pode acabar trucidando com a vida de alguém – nesse caso, a de duas mulheres jovens, que estavam trabalhando duro para colocarem um sonho e projeto de vida em prática -, “Infâmia” fala a respeito de temas como honra e como a mentira criada acaba fincando raízes na própria vida daquelas pessoas que são vítimas dela, criando desconfiança nos relacionamentos e fazendo com que Martha, especialmente, passe a questionar tudo aquilo que está reprimido dentro dela mesma – o que chega a ser uma discussão interessante, mas que perde força porque é toda jogada para um último ato em que tudo acontece rápido demais.
Obra indicada a 5 Oscars, em 1962, “Infâmia” é um filme que tem uma característica totalmente teatral – coisa óbvia, afinal estamos falando da adaptação de uma peça de teatro. Toda a direção de William Wyler tem como objetivo realçar o trabalho dos atores (preste atenção nas magistrais atuações de Shirley MacLaine, Fay Bainter e na da jovem Karen Balkin – basta dizer que ela será a criança que você mais vai odiar por um bom tempo) e do roteiro. Uma pena, como já dissemos, é o fato de que, no seu ato final, “Infâmia” opte por colocar uma série de acontecimentos interessantes e que seriam pontos de transição importantes nesta história todos acontecendo ao mesmo tempo – o que faz com que a obra perca parte de seu impacto, mas, mesmo assim, não deixa de ser um filme pungente e triste.
Tomates Verdes Fritos
4.2 1,3K Assista AgoraTomate Verdes Fritos, realizado em 1991 pelo americano Jon Avnet, é possivelmente o melhor trabalho do cineasta e está entre os melhores filmes das últimas décadas.
Avnet dirigiu o ótimo Justiça Vermelha, com Richard Gere, As Duas Faces da Lei, Íntimo e Pessoal e 88 minutos, esse tendo a participação de Al Pacino. Nenhum deles é tão completo quanto Tomates Verdes Fritos.
O filme que estamos comentando está acima da média por conta do excelente roteiro, devido à direção elegante e sensível de Jon Avnet, pela bela fotografia exibida durante quase todo o tempo e pela história envolvendo ricos personagens, interpretados por um elenco que não é exagero classificar como extraordinário.
Evelyn é uma dona de casa insegura e reprimida, solitária porque o marido alienado só pensar em assistir jogos na TV, comer e encontrar tudo arrumadinho quando chega do trabalho. Sua tristeza, suas mágoas, ela tenta compensar comendo doces, que a deixam gordinha e complexada.
No hospital, ao visitar uma tia, Evelyn conhece Ninny, uma senhora de 83 anos com a qual vai se afeiçoando desde que começa a ouvir suas histórias.
Jessica Tandy, já com seus 80 anos, é um dos destaques do filme, tendo na época do lançamento do longa arrancado elogios da crítica especializada e do grande público. Não é à toa que foi indicada para o Oscar de Melhor atriz de 1992.
Ninny relembra a amizade de Ruth e Idgie. A primeira uma moça meiga, bonita, que casa com um sujeito tosco, membro da Ku Klux Klan. Idgie descobre que o homem bate na esposa e revolve enfrentá-lo. Com ajuda de seus amigos negros termina por livrar a amiga do grosseirão.
Idgie é apresentada desde criança como uma pessoa rebelde, voluntariosa, inteligente, corajosa. Logo nas primeiras cenas a moça sofre uma grande perda quando seu irmão Buddy (Chris O´Donnel ainda bastante jovem) é atropelado por um trem.
Vivendo no mesmo ambiente, tratando os negros com dignidade, Idgie e Ruth terminam por ser discriminadas e correm riscos, principalmente por conta do instinto ruim de Frank Bennet, o marido abandonado.
O expectador vai sabendo dessa trama aos poucos, em flash back, enquanto a velha Ninny conquista cada vez mais o coração da angustiada Evelyn.
É graças a essa senhora de mais de 80 anos que Evelyn dá a volta por cima, começa a valorizar seu corpo, sua vida e cria coragem para desafiar o boboca do marido.
Toda semana Evelyn visita Ninny e escuta mais sobre o drama envolvendo Ruth, Idgie e Frank Bennet. Este, com seus amigos da Klan, tenta atemorizar a comunidade e faz ameaças a quem é amigo dos negros.
Depois, mais na frente, Frank tentar roubar o filho de Ruth. Quando ela deixou o marido estava grávida e teve a criança já vivendo com seus novos amigos.
O tirano se dá mal e desaparece, ficando claro para o espectador que ele foi assassinado logo após tentar levar o menino e agredir os que tentaram impedir sua ação.
Um policial vindo de outro Estado começa a investigar o caso sem conseguir solucioná-lo porque nunca foi encontrado o corpo.
As histórias paralelas – a do passado e a do presente – são contadas com grande sensibilidade. Você tanto se apega aos personagens jovens, principalmente a Idgie e Ruth, quanto aos mais maduros e velhos, caso de Evelyn e Ninny.
Tomate Verdes Fritos trata das questões da terceira idade, fala de relacionamentos conturbados, foca a questão do racismo nos Estados Unidos, aborda a luta por liberdade e a procura de mulheres pela recuperação da auto-estima.
Embora Jessica Tandy brilhe mais que todos em meio ao elenco de alto nível, merece atenção também a interpretação de Kathy Bates para a dona de casa Evelyn.
O filme tem momentos comoventes, belos, faz você rir e chorar, pois a tristeza domina alguma cenas. É uma obra cinematográfica de arte, no seu conjunto com uma mensagem otimista. Quem assiste Tomates Verdes Fritos certamente passa a encarar a vida com mais esperança e se convence que em meio à dor, ao sofrimento, a pessoas estúpidas e más existe espaço para os bons, existe amizade verdadeira, existe amor.
É para guardar na memória e ter sempre na estante, junto de outras obras inesquecíveis da sétima arte.
O Tigre e o Dragão
3.6 455 Assista AgoraUma lendária espada chamada “Destino Verde”, pertencente a legendário guerreiro agora em crise existencial; sua companheira de lutas de longa data; uma rebelde princesa adolescente; e Raposa Jade, guerreira famosa por cometer atos desonrosos. Todos eles são personagens de uma bela história passada numa remota China.
Tudo começa quando o mestre wudan Li Mu Bai (Chow Yun-Fat), em crise existencial, decide encerrar uma fase sangrenta de sua vida e começar uma outra, e, simbolizando isso, presenteia um velho amigo, o Senhor Te, com sua lendária espada “Destino Verde”. Para tanto, pede à sua amiga Shu Lien (Michelle Yeoh), também grande guerreira, que faça a entrega da espada. Porém, depois de entregue, a “Destino Verde” é roubada na mesma época da visita do Governador Yu e sua jovem filha Jen (Zhang Ziyi) à casa de Te.
Logo o espectador fica sabendo que Raposa Jade é tutora da princesa Jen e que Li Mu Bai busca vingar-se dela, uma vez que ela havia assassinado seu mestre.
Daí iniciam-se as lutas de artes marciais, uma das duas coisas que o filme tem de melhor. As coreografias incríveis são de Yuen Wo-Ping, de “Matrix” (1999), e estão acompanhadas por efeitos especiais simples mas competentes. Os personagens são capazes de fazer coisas surpreendentes, como planar, saltar direto do chão ao alto de prédios, correr sobre a água, etc. Nesse ponto, “O Tigre e o Dragão” tem um caráter fantasioso, tratando de pessoas com habilidades que não existem e na verdade nem poderiam existir. Mas o filme nos traz uma idéia não de que “não possa existir”, e sim de que “não mais existe”. Isso se deve ao fato de que dentro de sua história o filme trata de pessoas reais, com habilidades possíveis para o mundo em que habitam. Os seus personagens são capazes de fazer o que tudo o que fazem na tela, mas em nenhum momento são tidos como “super-heróis”. Em outras palavras, o espectador é levado a crer que as cenas de luta eram perfeitamente possíveis na época em que se passa a história, porque ela é tão bem retratada que o que era ficção/fantasia no filme praticamente desfaz-se e torna-o uma mistura entre os genêros épico e dramático. Essa é a sua grande sacada.
Para isso grandes personagens são fundamentais. Li Mu Bai é um guerreiro de grande fama, equilibrado e contido; Shu Lien é também famosa e contida, só que ostenta ainda uma força e uma segurança tipicamente femininas, que lhe dão uma falsa natureza de mulher idealizada, ou seja, apenas aparentemente ela é idealizada. Ela parece, à primeira vista, auto-suficiente, mas como qualquer outra pessoa, possui carências. Aí justifica-se o fato de que Li Mu Bai e Shu Lien, amigos de longa data, nutram entre si uma fortíssima paixão bloqueada. São duas pessoas fantásticas que se amam mas que, simplesmente, enfrentam o problema de que uma não consegue dizer à outra o que sente. Assim os dois têm (notadamente Shu Lien) uma falsa aparência de idealização. Já a princesa Jen é, dentre todos os personagens, a mais densa, favorecida por apresentar a ambigüidade típica da adolescência: ora ela comporta-se como a classe alta a que pertence deseja, compromissada com a responsabilidade que envolve os que estão no poder; ora ela dispara seu lado de guerreira (sim, a princesa Jen é também grande guerreira, graças a ensinamentos de Raposa Jade, como o espectador verá). Deseja ela fugir da responsabilidade e do conforto, mas recusa todas as ofertas que lhe são feitas. De várias maneiras pode ser vista, mas uma frase de Raposa Jade me parece a que melhor a define: “aos oito anos e já era um poço de falsidade”. Por fim, Raposa Jade é a grande vilã da história mas é também alguém que ama outras pessoas, que sofre injustiças e que busca a felicidade.
Claro que tudo isso não seria possível sem a ajuda de um grande elenco. O trio de mulheres é o grande destaque nessa área, e dentre elas Michelle Yeoh é a melhor. Uma injustiça ela não ter ao menos concorrido ao Oscar de melhor atriz.
Assim, as maiores qualidades do filme estão nas suas cenas de lutas e na complexidade de seus personagens.
Direção de arte, fotografia e figurino são mais méritos de “O Tigre e o Dragão”, que faturou a estatueta nas duas primeiras categorias e recebeu indicação na terceira. Os efeitos especiais usados são um espetáculo, mas não um espetáculo à parte, o que no caso aqui é bom, porque naqueles em que os efeitos especiais são um “show à parte” eles quase sempre parecem pertencer fora ao filme (e vice-versa), ficando desacoplados, isolados, como se assim fosse: “olhe, veja, agora teremos uma cena com tal efeito especial! E daqui a pouco outra, feita só com computação gráfica”. Já o roteiro pode até ser acusado de desperdiçar boas possibilidades e supervalorizar algumas menores, mas ele é sem dúvida outro destaque do filme.
Um filme também oriental, que fez muito menos sucesso que “O Tigre e o Dragão” mas que podemos considerar como o antecessor deste, é “Entre o Amor e a Glória” (1993), do diretor Ronny Yu. O grande problema de “Entre o Amor e a Glória” é o fato de ele ser um épico pouco definido entre comédia, drama e fantasia. Mas ambos os filmes têm histórias belíssimas e personagens idem. Porém pesa em “O Tigre e o Dragão” a densidade que Ang Lee impôs em seu filme (e também o orçamento).
Elenco, personagens, coreografias, direção de arte e fotografia: esses são os grandes méritos de “O Tigre e o Dragão”. Claro que não se pode esquecer de seu diretor, que reuniu os elementos de maneira harmônica e fez um filme denso, bem ao agrado da Academia.
As Horas
4.2 1,4KUm drama biográfico sobre uma das maiores escritoras da Inglaterra e sua influencia na vida de duas mulheres distintas.
Daldry, diretor de Billy Elliot, se superou ao entregar um filme forte, sério e brilhante. Seu desempenho ao tentar transformar o roteiro – adaptado da obra homônima de Michael Cunningham – em um filme não poderia ser melhor.
A utilização da “viagem no tempo” na edição do filme pode ser um pouco confusa, porém ao terminar de assisti-lo, as peças começam a se conectarem e tudo começa a se responder, principalmente se relacionando às mortes na história do filme. Uma fato interessante é que Daldry filmou primeiramente a sequência de Meryl Streep no ano de 2001, depois a sequência de Julianne Moore no ano de 1951 e, por fim, a sequência de Nicole Kidman no ano de 1923.
Em relação ao elenco não há dúvidas do que se poderia esperar. Atuações brilhantes, dignas de Oscar, e foi o que acabou acontecendo três brilhantes atores receberam indicações (Nicole Kidman, Ed Harris e Julianne Moore) sendo que Kidman levou a estatueta de Melhor Atriz no ano de 2003. Kidman está em seu ápice de brilhantismo, atuação idêntica a essa só em Moulin Rouge! Amor em Vermelho, ela aprendeu a escrever com a mão direita, teve que usar um nariz falso – para se parecer com Virgínia Woolf – e tudo isso não afetou sua magnífica atuação. Outro fato interessante foi que Nicole Kidman é a atriz que menos aparece no filme – 30 minutos – enquanto Julianne Moore e Meryl Streep aparecem 33 e 42 minutos respectivamente.
Moore mostrou que não deve ser esquecida no filme, ela interpretou Laura Brown, uma mulher grávida que está lendo o livro de Virgínia Woolf e começa a ser influenciada pelo mesmo, até um ponto onde ela deixa seu filho na casa de uma amiga e resolve ir para um hotel para comete suicídio. A cena do suicídio foi muito bem feita, toda a água que saia debaixo da cama está absolutamente incrível. Ela mostra com tanta vivacidade a vulnerabilidade de uma pessoa que já não sabe mais se sua vida rotineira e monótona é realmente válida.
Já na sequência de Meryl Streep encontramos dois pontos, o primeiro é a ótima interpretação de Ed Harris, o segundo é – para surpresa de todos – a, apenas boa, interpretação de Meryl Streep. Harris, que interpreta Richard, está deslumbrante, já Streep, que interpreta Clarissa, tem um personagem com o qual ela poderia abusar em sua personificação, porém tem apenas bons momentos nas cenas contracenadas com Ed Harris, em outras – com exceção de suas últimas cenas – ela está um pouco fraca e trêmula.
Com brilhantes atuações, roteiro e direção ótimos e uma trilha sonora magnífica, As Horas é um ótimo filme, talvez seja necessário um pouco de tempo e de mente aberta para entendê-lo, porém é maravilhoso quando se assimila e, por fim, se emociona.