A casa dos espíritos (1993)

Título original: The house of the spirits

Países: Dinamarca, Estados Unidos, Portugal, Alemanha, França

Duração: 2 h e 20 min

Gêneros: Drama, romance

Elenco Principal: Jeremy Irons, Meryl Streep, Glenn Close, Antonio Banderas, Winona Ryder

Diretor: Bille August

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0107151/


Opinião: “Filme relevante para a história, não obstante o idioma que é falado ao longo da exibição.”


Ao ler a sinopse e o título do filme em tela, há algumas deduções automáticas: parece um filme de terror ou um filme político. A primeira dedução é absolutamente enganosa e a segunda é verdadeira com ressalvas.

Na verdade, “A casa dos espíritos” é simplesmente um drama familiar que transcorre durante meio século na linha temporal e insere os personagens num contexto sociopolítico em constante modificação – até pelo longo tempo que é utilizado como base – e bastante influenciado pela atividade política do país. Um período que, com certeza, marcou alguns dos principais episódios de lutas de classes da história da humanidade. De um lado a burguesia, os conservadores, os detentores do capital, e do outro, os pobres, a classe proletária em geral e suas esperanças de dias melhores, com menos exploração e mais dignidade. O filme utiliza fatos históricos conhecidos, relevantes e representativos para que os personagens ficcionais – pertencentes aos dois lados do embate, diga-se de passagem – sofram as influências do meio durante a narrativa. É uma estratégia interessante que normalmente é exitosa. Eis mais um exemplo de sucesso!

Eis a sinopse: “A história do Chile da década de 20 aos anos 70 é contada através da saga da família Trueba, que começa com a união de um homem simples, Esteban, que fica rico, com uma jovem que tem poderes paranormais, Clara. A saga se desenvolve até esta família ser atingida pelo golpe militar, que no início da década de 70 derrubou o presidente Salvador Allende.”

Impossível não se sentir atraído por um filme com um elenco tão estrelado e, para quem gosta de política, com um roteiro que faz alusão ao chamado Golpe Militar do Chile – principalmente no mundo tão politicamente polarizado em que estamos vivendo. A primeira característica, a presença dos artistas famosos, faz toda a diferença, pois, como salientado mais acima, trata-se de um drama que usa como pano de fundo a história real, ou seja, a história ficcional – a história da família e todas as tramas envolvidas – é o foco da narrativa e, nesse contexto, há espaço para o elenco brilhar com toda a sua força. E é isso que acontece! É difícil até destacar um dos 5 protagonistas, mas, como não poderia deixar de ser, Meryl Streep e Glenn Close desfilam mais uma vez na passarela da sétima arte, sem retirar os méritos dos demais, é claro. Sem preocupações com o elenco, fica fácil desenvolver o roteiro, que promove nada mais do que amores e dissabores entre componentes de uma mesma família abastada, considerando suas empatias, suas diferenças e a paranormalidade de Clara. Entretanto, os trabalhadores da propriedade de Esteban, a Fazenda Tres Marias, são inseridos paulatinamente na conjuntura e ganham espaço na narrativa – assim como na história política do país – e o eterno conflito de interesses é estabelecido. Componentes do topo e base da pirâmide social acabam interagindo cada vez mais intimamente e, nesse contexto, os interesses não se situam apenas na seara social e partem para a seara amorosa. Isto é, o diretor colocou no mesmo plano humano os dois lado da moeda para discutirem suas diferenças ao longo da narrativa considerando o contexto político da vigente na época. Percebe-se um desenvolvimento narrativo pouco original, pela recorrência, mas deveras competente.

O filme é todo ambientado no Chile e os personagens são, em sua maioria, chilenos, todavia, o idioma falado durante toda exibição é o inglês. Isso retira sobremaneira a originalidade da obra, mesmo sabendo que 4 dos 5 artistas principais são americanos ou ingleses e, portanto, não devem falar espanhol fluentemente. É um ponto que desagrada bastante, pois dá a impressão que os personagens estão deslocados em relação à conjuntura. Pior é quando os trabalhadores chamam Esteban de “patrón” dentro de uma frase toda falada em inglês. Soa bastante estranho! Outro ponto falho, mas, por vezes imperceptível, é a questão do envelhecimento dos personagens, que se torna bem relevante por o filme se passar ao longo de 50 anos. O filme passa por média nesse aspecto, mas o envelhecimento de Clara e Ferula (Glenn Close) é mal-acabado, e se atém eminentemente aos cabelos, esquecendo a face e, principalmente, as mãos, que realmente não sofrem a ação do tempo.

Após uma eventual abstração da questão do idioma, “A casa dos espíritos” se torna uma obra bastante apreciável. Interessante para situar o espectador dentro da história real do país latino através de personagens de ambos os lados, que, até os dias de hoje gera implicações na sociedade chilena – e, porque não, mundial -, e para prover emoções advindas de interações humanas e familiares geradoras de amor e ódio, que têm o condão de atrair o público, pela proximidade com a realidade de cada um. Ao fim, há realmente uma boa experiência cinematográfica, apesar de alguns pontos negativos.

Ademais, assistir a Meryl praticando o seu talento é sempre um grande prazer!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba.


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